A morte e a morte de Osama Bin Laden

texto de José de Souza Castro:

Perguntar não ofende: Osama Bin Laden morreu mesmo? Se morreu, cadê o corpo? Não é a primeira vez que os Estados Unidos matam o terrorista. Da primeira, ele morreu como rato dentro de cavernas bombardeadas no Afeganistão, alguém se lembra?

Qualquer detetive de porta de cadeia sabe que provar assassinato sem um corpo do morto é tarefa quase impossível. Juízes e júris querem saber do corpo, antes de condenar alguém.

Se Osama morreu – e nem foi assassinato, digamos – por que ocultar o corpo? O mundo não avançou muito desde que Tiradentes foi julgado, enforcado e esquartejado, para que pessoas de diferentes lugares vissem pedaços de seu corpo, numa época em que não havia jornais no Brasil e muito menos TV, para mostrar o corpo às massas. Para que, ao ver, acreditassem que ele estava morto e, com ele, queria a coroa portuguesa, os sonhos de liberdade.

O mundo não avançou muito desde que Lampião foi morto numa batalha – não sei se houve julgamento antes, alguém sabe? – e teve sua cabeça separada do corpo, para ser exposta às multidões. O governo queria que a luta desesperada dos cangaceiros tivesse um fim e nada melhor para isso do que expor a cabeça de Lampião e de Maria Bonita.

O mundo não avançou muito desde que o ideal de independência de seguidores de Osama é tratado pelas potências mundiais como mero terrorismo e se tenta silenciá-lo pelo poder das armas.

E o mundo não avançou muito, definitivamente, quando homens fortemente armados saem numa caçada para matar um homem, sem julgamento, e se oculta o corpo nas profundezas do mar.

Bem, vamos supor que Osama morreu mesmo. Mas terá morrido a causa pela qual ele lutava e que custou milhares de vidas, mundo afora? Quantas vidas mais serão necessárias, para que os poderosos do mundo comecem a pensar numa maneira de pôr fim às injustiças que fazem nascer os Tiradentes, os Lampiões e os Osamas?

Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

8 comentários

  1. Sem palavras!
    Ótimo texto, eu sendo estudante de jornalismo tenho uma mania de desconfiar de tudo e ainda não consigo acreditar que ele morreu mesmo. Preciso de mais provas…
    De que adianta matar o Osama se a causa não morreu? Isso é uma coisa a se pensar, mas será que as grandes potências pensam???

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  2. Muito bom!

    Todo mundo suspeitando sobre essa “morte” do Osama. E as aspas, incrível, são necessárias. Afinal, a coisa toda tá muito estranha.

    E você citou Lampião e Tiradentes no texto! Que bom, não estou sozinho: ontem, na escola, ao comentar com os alunos sobre Bin Laden, utilizei os mesmos exemplos dos brasileiros expostos como “troféus”. E os EUA jogam usam valioso troféu como comida para peixes?

    Novas teorias da conspiração surgindo! A minha teoria a Cris já sabe…hahaha

    Abs!

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