
Todas as charges que ilustram este post foram originalmente publicadas no jornal mineiro “O Tempo” e são de autoria do genial Duke. Recompartilho como uma homenagem a ele.
No dia 28 de novembro, quando completava um mês desde a eleição de Jair Bolsonaro, publiquei 40 retrocessos que ele já havia iniciado com sua equipe de transição. Prometi fazer o mesmo depois da posse e, voilà!, acabo de descobrir que a lista que fui compilando nos meus momentos de folga chegou a exatos 40 retrocessos e absurdos, mais uma vez. São coisas diferentes das que divulguei há dois meses: ali, eram anúncios e possibilidades de um governo de transição, agora são decisões já tomadas, estragos já feitos. Tem medidas extremas, que acabam com garantias de direitos para minorias (principalmente os indígenas, tão visados pelas mineradoras e pecuaristas), que prejudicam a transparência no poder público (a Lei de Acesso à Informação foi praticamente para o saco) ou que têm grande potencial de aumentar a violência no país (como o decreto que facilita a posse de armas em casa, que é um prato cheio para os agressores de mulheres). E tem também mostras de corrupção em vários níveis, começando pelo Flávio Bolsonaro, que pelo visto é envolvido até com milicianos.
Eu não tive tempo suficiente para acompanhar o noticiário político como eu queria, principalmente desde o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, mas, mesmo sem poder fazer esse levantamento com o capricho que eu gostaria, cheguei de novo ao número de 40 absurdos deste primeiro mês, mais de um por dia. É por isso que digo que são “pelo menos” 40: porque acho que deve ter acontecido ainda mais coisa péssima, que só o tempo para ler com calma o DOU me permitiria acompanhar e divulgar. Ainda assim, acho que este levantamento é útil para mostrar o caminho perigoso e trágico que o Brasil está trilhando com o novo governo. Felizmente algumas coisas foram tão absurdas que, após a repercussão negativa, até o governo percebeu e teve que recuar. Cada recuo foi devidamente comemorado. Ainda assim, foi um mês de crise ética, acima de tudo. Pobres eleitores do fã-de-torturador do PSL: ou estão frustrados, se conseguem ter algum senso crítico, ou estão passando pano em tudo, o que denota sua falha de caráter.
Fiquem à vontade para acrescentar mais informações nos comentários. Vou encerrar esse levantamento diário, porque não tenho nem tempo nem saúde para tanta coisa ruim. Mas, claro, sempre que surgir algum absurdo que mereça destaque, ele será devidamente comentado aqui no blog, como sempre fizemos, qualquer que fosse o presidente da vez. Fiz o levantamento até a noite de ontem, portanto, se pintar algo novo neste 31 de janeiro, ficará de fora.
Ah, não coloquei na lista o novo slogan do governo, que, além de apelar pro patriotismo barato, carece de uma vírgula. Até o slogan está errado, risos. Deixo isso como um extra, já que (bom) gosto não se discute 😉 No mais, boa leitura (tome um sal de frutas antes!). Coloquei o link para várias informações relacionadas a cada tópico:
- 1/1 – Bolsonaro retira da Funai a demarcação de terras indígenas. Indígenas pedem abertura de inquérito. E mais: Via medida provisória, Bolsonaro cria monitoramento de ONGs e organizações internacionais (o que enfraquece movimento indígena). Decisão pode parar no STF. E mais ainda: Novo decreto de Bolsonaro retira da Funai licença de empreendimentos. Consequência grave: ‘A Funai morreu, foi extinta’, diz sertanista que presidiu o órgão
- 2/1 – Bolsonaro retira população LGBT de diretrizes de Direitos Humanos
- 2/1 – Logo na posse, jornalistas já são barrados e organizações apontam que governo Bolsonaro ameaça liberdade de imprensa
- 3/1 – Bolsonaro altera lei e extingue atribuições do conselho de segurança alimentar
- 3/1 – Confirmação da extinção do Ministério do Trabalho
- 3/1 – ‘Menino veste azul e menina veste rosa’, diz nova ministra Damares Alves
- 3/1 – Bolsonaro escolhe ‘discípulo’ de Olavo de Carvalho como assessor internacional
- 3/1 – Novo chanceler é um asno
- 4/1 – Cacique xipaia diz que eleição de Bolsonaro acelerou invasão de terra indígena no PA
- 4/1 – Bolsonaro anuncia aumento de IOF e redução da alíquota de teto do IR (depois houve desmentido…)
- 7/1 – Nepotismo e corrupção no governo recém-empossado: Filho de Mourão vira assessor do presidente do Banco do Brasil e triplica salário (lembrete: governo ignora a própria promessa ao dar cargo a filho de Mourão). Ah sim: antecessor de filho de Mourão no BB não recebia salário de R$ 100 mil
- 7/1 – Exoneração em massa paralisa Comissão de Ética da Presidência (depois foram recontratados….). Uma consequência: Em meio a apagão administrativo, Planalto envia ao Congresso mensagem errada de sanção de lei

Tadinho do Bolsonaro…! Estava APAVORADO em Davos. Sobre isso, vale ler AQUI. Não é um retrocesso, só uma constatação: entrou menor que saiu, e o mundo inteiro viu.
- 8/1 – Governo Bolsonaro suspende reforma agrária no Brasil (depois tem que recuar)
- 8/1 – Governo confirma saída do Pacto Global pela Migração da ONU (Entenda as implicações disso)
- 9/1 – Gestão Bolsonaro muda edital de livros, abre margem para erros e retira violência contra a mulher (depois tem que recuar…)
- 9/1 – Favorecimento ilegal para presidente recém-empossado: Ibama anula multa ambiental de Bolsonaro, e processo volta à estaca zero
- 9/1 – Presidente da Apex é demitido, e governo Bolsonaro tem primeira queda (o cara não falava nem inglês, que é um dos requisitos básicos para o cargo). A demissão teve que ser confirmada no dia seguinte, porque o cara bateu o pé e queria continuar
- 10/1 – Filho de Bolsonaro propõe revisão histórica sobre ditadura em livro didático
- 10/1 – Itamaraty elimina setor de mudança climática, e Ambiente fica sob Soberania Nacional
- 10/1 – Flávio Bolsonaro desconversa sobre movimentação encontrada na conta de seu assessor. (Pra entender a denúncia, AQUI). Descobre-se depois que Queiroz movimentou R$ 7 milhões em três anos.
- 13/1 – Governo Federal vai gastar R$ 4,5 milhões com adesivos e ‘mouse pads’ só pra pôr a bandeira do Brasil
- 14/1 – Gabinete de Bolsonaro atestou frequência sem faltas de ex-assessora personal trainer
- 15/1 – Sem qualquer debate no legislativo, Bolsonaro assina decreto que flexibiliza posse de armas. Lembrando que: ritmo de crescimento de assassinatos desacelerou após desarmamento e menos de 3% dos roubos são em casas, onde posse de arma foi facilitada e estudos mostram que mais armas aumentam violência contra a mulher. Governo se embasou em dados falsos. Mais pais de família e inocentes vão morrer, certamente. Quem diz isso não sou eu, mas aqueles que já perderam seus queridos por tiro acidental.
- 15/1 – Ministro do Meio Ambiente diz que vai acelerar o licenciamento ambiental. Mal sabia ele que foi graças a licenças dadas de forma apressada que ocorreria, exatos dez dias depois, a tragédia em Brumadinho, crime ambiental que deixou centenas de mortos/desaparecidos. Ah, se ele tivesse uma bola de cristal…
- 16/1 – Bolsonaro recebeu R$ 33,7 mil de auxílio-mudança da Câmara, 3 dias antes de tomar posse como presidente
- 17/1 – É assim que a família Bolsonaro lida com suspeitas de corrupção? “Flávio Bolsonaro pede, e STF suspende investigação que envolve seu gabinete“. Ah, veja bem: ministro do STF afirma que pedido de Flávio Bolsonaro sobre motorista foi uma confissão de culpa. Ah, e o novo ministro Sergio Moro responde sobre corrupção, mas não fala sobre o caso envolvendo o filho do presidente da República. Vai vendo o nível da impunidade que vai rolar no novíssimo governo…
- 18/1 – Funcionária que disparou WhatsApp para Bolsonaro ganha cargo no Planalto
- 18/1 – Opa, opa: não é mais só o assessor de Flávio Bolsonaro que teve grana suspeita em conta. Ele próprio teve 48 depósitos suspeitos em sua conta! Ah, e Flávio Bolsonaro construiu patrimônio antes de ser empresário.
- 20/1 – Militares já se espalham por 21 áreas do governo Bolsonaro, de banco estatal à Educação
- 20/1 – Governo ignora centrais sindicais na formulação da reforma da Previdência
- 22/1 – A coisa só piora pro lado de Flávio Bolsonaro, filho do Jair Bolsonaro: ele empregou mãe e mulher de chefe do Escritório do Crime em seu gabinete. Está envolvido até o pescoço com a milícia carioca, e chegou a homenagear duas vezes o suspeito de mandar matar Marielle Franco.
- 24/1 – Parece piada, mas não é: depois que o Coaf descobriu movimentação suspeita na conta de Flávio Bolsonaro, BC propõe afrouxar regras para banco monitorar parente de políticos e notificar Coaf. A propósito: Flávio Bolsonaro descarta se afastar do mandato de senador
- 24/1 – Retrocesso terrível este: Governo permite que servidores comissionados imponham sigilo ultrassecreto a dados públicos. Na prática, isso acaba com a lei de Acesso à Informação, que era um grande avanço de transparência do poder público no Brasil.
- 24/1 – Futuro secretário de Ecoturismo foi multado por descumprir regras de turismo sustentável
- 24/1 – Primeiro exílio causado pelo clima de truculência que surgiu no Brasil desde a posse de Bolsonaro: Com medo de ameaças, deputado federal Jean Wyllys, do PSOL, desiste de mandato e deixa o Brasil. Bolsonaro e filho COMEMORAM o fato de um parlamentar estar deixando o país por medo de ameaças. A falta de noção não tem fim, acho que o cara ainda não entendeu que ele virou presidente da República.
- 29/1 – Bolsonaro dificulta auxílio de quem para de pagar INSS
- 29/1 – Governo quer ficar só com Petrobras, Caixa e Banco do Brasil, afirma secretário. Em outras palavras, todo o resto será entregue às empresas privadas, inclusive áreas estratégicas. Antes, ministro da Infraestrutura já tinha dito, logo após a posse, que “tudo que puder será privatizado”
- 29/1 – Sob intervenção do governo, TV Brasil suspende programa ‘Sem Censura’, um de seus programas mais antigos
- 29/1 – Lobista da Vale que atua no governo Bolsonaro retirou de MP itens para segurança nas barragens. Qual a relação de Leonardo Quintão com Bolsonaro? É só um dos principais articuladores políticos do governo.
- 30/1 – Já está rolando crise dentro do governo, com algumas pessoas achando que Mourão quer o lugar de Bolsonaro. E olha que o governo mal começou!
Leia também:
- Em 1 mês de Jair Bolsonaro eleito, ao menos 40 retrocessos e absurdos; veja a lista
- Em 1 mês de governo de Michel Temer, ao menos 30 retrocessos; veja a lista
- ‘Instruções para esquivar o mau tempo’, por Alejandro Robino
***
Quer assinar o blog para recebê-lo por email a cada novo post? É gratuito! CLIQUE AQUI e veja como é simples!