Poetas excluídos

Eu que passo pela casa e
na porta entreaberta
vejo música.
Um piano delicado que me olha
(me ignora)
mas eu rio.
E espio e espero
pela porta.
Não se importa (enquanto escuto deslumbrada).
Assustada, chega a dona
e tranca a porta!
(e me corta.)
Vou-me embora
muito embora não entenda.
Que mal há em ouvir a música dos outros?
Que mal há em olhar o vizinho pelos olhos?
(Bem nos olhos.)
Em soltar os ouvidos pela aorta,
invadir espaços,
derrubar as portas?
As pessoas não mais vivem:
elas correm,
elas trotam trotam trotam.
Não se importam.
Que importa tocar piano pra si mesmo?
Fazer poemas pra si mesmo?
Olhar apenas pra si mesmo?
A árvore da praça me existe há quinze anos
e nem sei seu nome.
Mas, mesmo assim, sei que é a mais bonita.
(09/05/2006)
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Cristina Moreno de Castro Ver tudo
Mineira de Beagá, jornalista, blogueira, poeta, blueseira, atleticana, otimista, aprendendo a ser mãe. Redes: www.facebook.com/blogdakikacastro, twitter.com/kikacastro www.goodreads.com/kikacastro. Mais blog: http://www.otempo.com.br/blogs/19.180341 e http://www.brasilpost.com.br/cristina-moreno-de-castro
A arte só se manisfesta se há alguem que a admire; a natureza também. A exclusão do Homem pelo Homem, limita o alcance da arte e da natureza…excluindo o criador (poeta?).
Linda poesia, Cristina…
Abraços.
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Obrigada! 🙂
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Sou suspeito para opinar, Cris. Mas, muito bom! A árvore da praça, uma frondosa paineira, continua lá. A qualquer dia, volta a florescer. O que não volta mais é o nome da praça: Primavera. Foi mudado por vereadores insanos, para homenagear um jornalista picareta. O tempora, o mores, como diria Cícero – que não era poeta na Roma antiga, mas sabia das coisas.
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É essa árvore mesmo!! Lindona! Percebi ontem, quando escrevia este post, que não tenho nenhuma foto dela no meu computador =(
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“As pessoas não mais vivem:
elas correm,
elas trotam trotam trotam.
Não se importam.
Que importa tocar piano pra si mesmo?
Fazer poemas pra si mesmo?
Olhar apenas pra si mesmo?”
E quando trotam trotam trotam atropelam o sentido das coisas, e isso me lembra mestre Caeiro, sobretudo quando faz referência à árvore da praça.
Lembro-me também do coelho de Alice…é tarde é tarde é tarde…trotam trotam trotam.
Azar dos apressados!
Bj
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E que não nos juntemos a eles jamais!
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Atualmente nesta correria do dia-a-dia. Vivemos sempre pensando no depois e nos esquecemos de curtir nossos próprios momentos introspectivos.
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É verdade!
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