Relembre a cronologia das manifestações que começaram em 6 de junho de 2013 e se espalharam pelo Brasil pelas semanas – e anos – seguintes
Tenho visto na imprensa várias reportagens relembrando os dez anos dos protestos de junho de 2013, que sacudiram o Brasil. Fazendo um balanço do que aconteceu, uma análise do que veio depois, contando onde estão hoje os jovens que iniciaram tudo com os seus atos contra o aumento da passagem dos ônibus etc. Como acompanhei tudo bem de perto na época, achei que também valia trazer minhas reflexões para o blog neste dia emblemático.
Hoje, que aquilo tudo já virou História, podemos entender que os protestos e as multidões insufladas nas ruas contribuíram muito mais para enfraquecer as instituições no Brasil e também desestruturar nossa democracia do que para trazer evoluções. Embora à primeira vista ver “o povo nas ruas” com as pautas e reivindicações mais diversas parecesse uma imagem muito democrática, o que vimos, na prática, foi a extrema-direita surfar nessa onda e se fortalecer.
Até mesmo a turma que defendia a ditadura militar, a tortura e outras pautas criminosas tomou coragem de sair do armário ao longo daqueles protestos e nos anos seguintes. Os gritos pedindo impeachment da Dilma começaram ali. Depois ganharam força e seguem até hoje clamando pelo fechamento do Congresso, do STF, cura gay, o escambau.
(Vale dizer que meu pai, um visionário e grande entendedor da História, sempre me alertou para o que aconteceria a partir daqueles protestos de 2013…)
Na época, a gente acompanhava tudo de perto, a História acontecendo diante dos nossos narizes, sem entender muito bem a gravidade da coisa. Eu comecei bem deslumbrada, na verdade, ao ver os jovens se envolvendo com política, ocupando as ruas, defendendo ideias que inicialmente eram muito importantes. Terminei bastante assustada, com a violência, a truculência policial e dos manifestantes, as mortes e as pautas fascistas que foram pipocando. No meio do caminho, celebrei várias medidas que foram anunciadas pelos Três Poderes, em todas as esferas, como respostas às ruas.
Abaixo, um resuminho que escrevi na época, sobre o desenrolar dos acontecimentos ao longo das duas semanas mais críticas, entre 6 e 21 de junho de 2013, dia em que Dilma fez seu pronunciamento na TV:
“O primeiro protesto ocorreu em 6 de junho, em São Paulo – 16 dias antes, portanto. Tomou maiores proporções em São Paulo nos dias 11 e 12, quando policiais começaram a agredir manifestantes e esses começaram a revidar. No dia 13, a repressão policial foi tão desproporcional que o movimento ganhou muito mais apoio e adeptos do que tinha antes, em todo o país. E, de lá pra cá, houve protestos diários, cada dia em mais cidades, inclusive em cidadezinhas, e a pauta do transporte um pouco mais barato se tornou muitas outras mais. Em Beagá, o primeiro protesto só foi ocorrer no dia 15. Na última segunda, dia 17, houve uma mobilização de centenas de milhares em todo o país. Na terça, vandalismo em Beagá. Na quarta, as primeiras vitórias; na quinta, muito mais pessoas nas ruas, na casa dos milhões, e muito mais violência e quebra-quebra que antes, além de duas mortes. Na sexta, este pronunciamento da chefe de Estado.”
Quem quiser relembrar em mais detalhes como foi tudo aquilo, como a gente foi vivendo a História – e mudando de ideia ao calor dos acontecimentos –, vale reler os mais de 20 textos que postei na época, de 12 de junho a 21 de julho, em ordem cronológica:
- 12 de junho de 2013: 10 observações sobre os protestos contra as tarifas de ônibus
- 14 de junho de 2013: O vômito entalado o dia todo no meu cérebro borbulhante
- 15 de junho de 2013: O mundo grita
- 15 de junho de 2013: Cenas do protesto com milhares de pessoas em Belo Horizonte

- 17 de junho de 2013: O brasileiro trabalha mais para pagar seu ônibus
- 17 de junho de 2013: Tentando entender os protestos, nesta barafunda de interpretações
- 18 de junho de 2013: Um poema em homenagem aos que gritam
- 18 de junho de 2013: 20 vídeos da violência da PM durante os protestos pelo Brasil
- 19 de junho de 2013: As primeiras vitórias importantes, em mais um dia histórico
- 20 de junho de 2013: Melhores charges e quadrinhos sobre os protestos
- 20 de junho de 2013: Ou o rumo ou a pausa
- 22 de junho de 2013: Com este pronunciamento, pauso meu protesto particular
- 25 de junho de 2013: Tem certeza absoluta? Que pena!
- 26 de junho de 2013: Já são mais de 20 respostas de Executivos, Legislativos e STF ao povo
- 28 de junho de 2013: Muito cansada (mas sempre os protestos)
- 1 de julho de 2013: Os políticos que responderem, bem ou mal, vão se dar bem
- 4 de julho de 2013: Plebiscito pra quê?
Além do plebiscito, um dos anúncios feitos pela então presidente Dilma em resposta aos protestos foi o programa Mais Médicos, que acabou gerando nova polêmica e aumentando o ódio da parcela rica da população contra o governo dela. Na época, também fiz um debate intenso sobre a chegada dos médicos estrangeiros aqui no blog:
- 8 de julho de 2013: A polêmica dos médicos estrangeiros (buscando uma posição)
- 9 de julho de 2013: A polêmica dos médicos estrangeiros – parte 2 (artigos para refletir)
- 11 de julho de 2013: A polêmica dos médicos estrangeiros – parte 3 (a resposta de duas médicas)
- 12 de julho de 2013: Vale a pena ser médico no Brasil? — parte 4, um contraponto
- 19 de julho de 2013: O “trabalho escravo” dos médicos e a conclusão de um debate
- 21 de julho de 2013: Mais Médicos para o Brasil – Críticas e Considerações (o texto definitivo, na minha opinião)
É isso. Depois desse 2013 turbulento, vimos o golpe contra Dilma, tirada do poder sem base legal, a farsa da Operação Lava Jato, já contestada nas instâncias superiores, a prisão arbitrária do Lula, já inocentado, a eleição de Bolsonaro com a nomeação de Sergio Moro como ministro dele, a escalada do fanatismo no Brasil, a volta de Lula ao poder, a tentativa de golpe de Estado em janeiro deste ano… O Brasil não teve paz na última década. Terá de novo algum dia?
Leia também estes posts relacionados:
- Amarildo e os desaparecidos da democracia
- Oito cenas emblemáticas dos protestos no Brasil
- O dia em que virei colunista
- Bolsonaro normalizou o ódio e as fake news no Brasil
- Filmes e livros que todo bolsonarista deveria ver e ler
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Olá me Chamo Humberto, e vivi isso, eu estava la nos protestos, até ser inviabilizado. Fazia Administração Faculdade na Sé e sempre ia nos protestos.
Os protestos foram ganhando o movimento sem partidos e a direita se aproveitando de toda a onda.
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Foi duro ver a direita surfando na onda de protestos que começaram tão bem intencionados, né. Também vivi bem de pertinho, aqui em BH.
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Olá
Cheguei aqui buscando fotos dos protestos de 2013 com a intenção de fazer uma sátira relacionando o povo na rua curtindo o carnaval e esse momento que vivi também bem de perto.
A conclusão que chego é que embora tenhamos que politizar sim as demandas sociais, hoje vivemos uma crise moral que transcende esta questão. A chamada polarização tem sido uma barreira para fazermos reflexões a cerca das transformações geopolítica. Na data de hoje recebemos a notícia de mais um parlamento europeu, o Bandestag ter como maioria um partido conservador seguido de um de extrema direita como segundo maior votado. E é nesse sentido, em um contexto onde o medo dita as regras é que precisamos refletir na origem, na célula Mater que tem agitado a humanidade.
Entendo que precisamos refletir em nossas transformações morais enquanto indivíduos com a consciência dos resultados na coletividade da forma como propõe Kant e seu imperativo categórico.
Enfim, que o amor seja o móvel de nossas ações manifestando de forma natural as Leis Divinas em nossas consciências.
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