Alvoroço no ninho tucano: Minas e São Paulo no topo do ranking de risco de corrupção

Texto de José de Souza Castro:

Estou surpreso. No portal do jornal “O Tempo” lê-se que “Minas está no topo do ranking de risco de corrupção”. A surpresa, claro, não é pela posição do Estado no ranking, mas pelo título escolhido pelo portal pertencente ao ex-deputado federal tucano Vittorio Medioli para uma notícia não publicada, salvo engano, pelos concorrentes “Hoje em Dia” e “Estado de Minas”.

A notícia informa, no primeiro parágrafo: “São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Pará são os líderes do ranking de risco de corrupção, segundo estudo feito pelo Centro de Estudos da Opinião Pública, da Unicamp, a pedido do Instituto Ethos. Os três Estados tiveram registro de “alto risco” em quatro dos oito indicadores sobre sistemas de controle da corrupção avaliados pelos cientistas políticos Bruno Speck e Valeriano Mendes Ferreira, autores do estudo. Os dados são relativos ao ano de 2009.”

Não sei de onde foi tirada a última informação. Ao ler a íntegra do sumário executivo apresentado no dia 4 deste mês em Brasília, durante o Seminário Fundamentos para a Prevenção e Controle da Corrupção, a informação é que o estudo foi feito por aqueles dois pesquisadores da Unicamp entre janeiro e agosto de 2011, com o objetivo de comparar determinados mecanismos considerados relevantes para a prevenção e o controle da corrupção institucional nos 26 estados e no Distrito Federal do Brasil.

Mas não quero supor que, ao destacar o ano em que os dados foram coletados, o corajoso jornal de Medioli quisesse livrar a cara de Antonio Anastasia, que não era governador em 2009.

Posso supor, porém, que o portal quisesse não se expor ainda mais, publicando a informação do estudo de que “a mídia nos estados apresenta resultados medíocres para o nível de independência de redes de comunicação (televisão e jornais) em relação a grupos políticos regionais.” E que em apenas em cerca de 30% dos estados – e Minas Gerais não se encontra entre eles – a “mídia cobre de forma equilibrada as denúncias de corrupção contra os governadores dos estados”.

Leio aqui, ainda sobre aquele estudo, que, em Minas, apenas 40% dos jornais e televisões apresentam independência em relação ao governo estadual (bem mais do que eu imaginava, diga-se), contra 50% em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Mesmo se omitindo nessa questão, o portal de “O Tempo” não censurou comentários que reclamavam do comportamento da imprensa mineira. Um comentarista identificado como Felipero27, de Itabira, escreveu: “Já era de se esperar! Um estado em que grande parte da imprensa está subjugada à vontade de um governador durante todo esse tempo não poderia apresentar dados diferentes.” E Joaquim, de Sete Lagoas, completou: “Se Minas tivesse um legislativo, judiciário e mídia independentes, a coisa estaria feia por aqui. Espero que esta notícia seja o início de uma postura ética dos nossos jornais.”

Também espero, pelo menos em relação a “O Tempo” (e que o responsável pelo portal não seja demitido).

É preciso mais do que apenas uma imprensa independente para combater a corrupção velha como a serra. Segundo o estudo, em Minas Gerais, nenhum órgão estadual de controle interno disponibiliza relatório de atividades, contra 75% em São Paulo e 40% no Rio de Janeiro. Minas também não cumpre integralmente a legislação que manda preencher duas das sete vagas no Tribunal de Contas com conselheiros provenientes dos quadros técnicos do tribunal. Assim, o TC acaba dominado pelos políticos que indicam os conselheiros responsáveis por apurar a corrupção.

Para tornar ainda mais confortável o senhor Anastasia, apenas 38% dos deputados na Assembleia Legislativa, segundo o estudo, estão nas bancadas oposicionistas, contra 50% em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A menos que alguma coisa mude, contra todas as expectativas, nosso ilustre governador – para quem ainda não sabe, Anastasia é professor (licenciado, talvez) de Direito Constitucional na Faculdade de Direito da UFMG e um dos responsáveis pelo Choque de Gestão no governo Aécio Neves – pode contemplar com tranquilidade, do topo do ranking, o panorama que se descortina à sua frente.

Ou não – depende de nós!

Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

12 comentários

    1. Falô tudo! Aqui em SP não há corrupção, ela está terceirizada, não aparece o figurão,
      sómente os acerolas, com 50% mais vitamina C que laranjas. O PSDB fez até um pomar na Marginal Pinheiros! De laranja e outras frutas eles entendem..

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  1. OK, vamos falar sobre Transparência da Administração Pública .

    Que tal aproveitar e fazer um artigo sobre flexibilização da Lei das Licitações 8.666 para obras da Copa 2014 e da Olimpíada 2016 que a base da Presidente Dilma trabalhou arduamente nos bastidores, além dos indicativos de liberação emenda.

    Seria uma matéria e tanto, porque poderia mostrar a população que o governo federal não tem compromisso com a transparência do SEU e do MEU dinheiro.

    Um título bom seria.

    A farra com nosso dinheiro: Que tal?

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  2. É por essas e outras razões Cristina, que tenho mudado minhas perceptivas em relação à política partidária.. Há tempos via na esquerda uma saída. Via gente lutando por um ideal e tal, mas agora tudo e todos estão misturados no mesmo saco de farinha..
    A única forma de resolver isso é ELIMINADO A CLASSE POLITICA do sistema de governo implantando a DEMOCRACIA DIRETA.
    O povo pode criar e votar suas própria leis! Vc não acha? Temos um exemplo no Ficha Limpa que é uma lei de iniciativa popular.
    Muita gente pode dizer que não dá certo que o povo não pode nem sabe tomar decisões relativas ao governo da sociedade..
    Bem quem argumenta desta forma deve acreditar que os políticos atuais e o sistema atual conseguem fazer isso…

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    1. Também tenho minhas dúvidas se as pessoas, sozinhas, conseguiriam administrar um país como o Brasil. Digo isso porque vejo as discussões infindáveis de reuniões de condomínio de um prédio, por exemplo, em que o sistema é justamente o de democracia direta, e já não funcionam: há brigas, bate-bocas, pessoas que desrespeitam as normas, malucos etc. Imagine se essas reuniões fossem necessárias todos os dias, para lidar com toda situação do condomínio! Por isso há o síndico ou a administradora profissional, que gerenciam o condomínio em todas as funções diárias e só recorrem às reuniões em casos excepcionais.
      O mesmo problema eu vejo em outros tipos de democracia direta, como as reuniões de Diretórios Acadêmicos. Acompanhei no ano passado uma reunião de alunos da USP (pessoas supostamente inteligentes, educadas, cultas e com bom nível político, certo?) sobre a presença de PMs no campus. Votaram lá, depois de muuuuuuuuita demora, contra a ideia de invadir a reitoria da universidade. Foram contados os votos, após mil deliberações, como numa democracia direta. Mas meso assim houve tretas, pessoas levantando a mão duas vezes pra roubar um voto, pessoas mudando de lugar para serem contadas duas vezes, vaias mal educadas contra pessoas que tinham opiniões minoritárias etc. Escrevi sobre isso no meu blog: https://kikacastro.wordpress.com/2011/11/02/suspiro-cansada-contra-os-donos-da-verdade.
      E o mais chocante: após contarem e, por ampla maioria, decidirem que a invasão NÃO seria feita, um grupo não concordou com a decisão e, da forma mais autoritária e antidemocrática do mundo, invadiu por conta própria. Depois houve desocupação com homens da Rota, prisões, vandalismos, protestos, greve e tudo aquilo que acompanhamos pelo noticiário.
      Se esses dois exemplos que presenciei (reunião de condomínio e de alunos da melhor universidade do país) não funcionaram, mesmo sendo para resolver questões simples e envolvendo poucas pessoas, imagine como isso seria problemático num país do tamanho do Brasil, com áreas administrativas gigantes?
      Por isso é necessário haver representantes eleitos. Mas concordo com vc que os partidos são uma máquina de corrupção. Também sou apartidária. Acho que há formas de aperfeiçoar esse sistema, para tirar um pouco o poder dos partidos e aumentar a luz sobre as propostas. O problema é que os representantes não têm interesse algum em promover essas mudanças…

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      1. Cristina, não sei qual é pior então.. Será que estamos condenados pra sempre?
        Eu prefiro a população votando e errando de que um grupo de políticos decidindo por conta própria o que bem entendem.. E será que eles entendem? Será que conhecem nossa necessidade?
        Porque a democracia representativa não funciona? É simples!
        Os grande partidos são financiados por grandes empresas e bancos (todo partido pra ser grande precisa de muuuuito dinheiro, vc sabe), pois campanha política para elegê-los vale milhões. Outro motivo para a corrupção é que eles tb fazem uma caixinha desviando recursos para suas campanhas e a pra guarda um “pouquinho” pra eles tb (rsrsr).. É por isso que no final eles não podem representar a população pois tem que “devolver” o favor ou pagar o que gastaram..
        É por isso que temos a internet mais cara do mundo é por isso que a agências governamentais de controle não funcionam..
        Na verdade verdadeira não existe democracia. O PODER REAL ESTÁ NA MÃO DESTAS EMPREITEIRAS, GRADES CORPORAÇÕES E BANCOS. Para este poder, Kika não existe voto nem candidato pois ele é passado de pai para filho.
        Pra mim, o verdadeiro nome do nosso sistema é: MONARQUIA IMPERIALISTA FEUDAL DEMOCRÁTICA.
        Pra mim o voto somente significa uma coisa: TRANSFERÊNCIA DE PODER. Depois que a gente vota não adianta reclamar. Pra mudar qualquer matéria que esteja em votação ou já votada temos que fazer manifestações e mais manifestação e inclusive correr o risco de ser agredido pela polícia.
        É evidente que o sistema do jeito que está é um convite a corrupção sem fim..
        É preciso mudanças, e mudanças radicais.. Não vejo saída melhor que a democracia direta. E ela pode funcionar sim. Já existem alguns países que usam este sistema.
        Naturalmente que o sistema tem que ser (e pode!) mais organizado que uma reunião de condomínio.rsrs
        Em primeiro lugar podemos eliminar a situação onde pessoas podem votar duas ou mais vezes.. É possível criar plebiscitos virtuais periódicos onde todos tem acesso ao voto e com segurança. Vc sabe que o imposto de renda é todo feito pela internet e isso a muitos anos. Provou ser muito eficiente…
        Qqr lei ou proposta de lei pode ser criada pela população ser discutida dentro de um período e ser votada no final do prazo… Pronto, o resultado pode deixar insatisfeitos mas foi votado pela maioria.. Não é assim que acontece atualmente? Se votamos errado temos que esperar mais quatro anos pra poder errar de novo não é mesmo?

        Veja este vídeo ele é bem interessante e bastante esclarecedor:
        Democracia Direta
        [vídeo privado]
        Procure tb no You Tube:
        1 A História da Sua Escravidão
        (The Story of Your Enslavement in Portuguese)
        2 Da Servidão Moderna – Jean-François Brient
        3 A trilogia: Zeitgeist

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      2. Dá uma boa discussão mesmo.
        Realmente, o sistema como está não está bom. Vc tem razão sobre a transferência de poder, o poder dos bancos e empreieteiras etc. Mas não sei se a alternativa funcionaria…
        abraços

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