A Vida é Bela – mas triste

Para pegar na locadora: O PIANISTA (The Pianist)

Nota 10 – crítica escrita em 07/03/2003

Acabei de rever um dos meus filmes favoritos, que não via desde que passou no cinema, em 2003. O maravilhoso “O Pianista”, do Roman Polanski.

Na época, escrevi uma crítica para o site Fulano, que reproduzo abaixo:

“O Pianista” conta a história do holocausto de uma maneira diferente de filmes do mesmo tipo. A começar, ele não mostra sequer um campo de concentração. A história se passa na Polônia – onde a 2ª Guerra estourou – e mostra detalhes do que a vida dos judeus se tornara: as leis que os proibiam de andar nas calçadas, passear nos parques ou entrar nos restaurantes e, depois, a segregação nos guetos – onde as pessoas passavam fome e os soldados nazistas comemoravam Reveillon espancando os poloneses.

A lguns conseguiam escapar e tinham que viver se escondendo na cidade, contando com a ajuda de poucas pessoas (nem sempre muito confiáveis). O pianista Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody) era um deles e teve então de enfrentar a fome, o frio, o tédio, a humilhação e o medo buscando sobreviver.

Roman Polanski (diretor de “Bebê de Rosemary”) não escondeu nenhuma tortura ou cena chocante. E ele sabia muito bem o que filmava, tendo sido, ele próprio, vítima do nazismo na Polônia e sobrevivente escondido nas ruas de Varsóvia. Merece o Oscar de melhor diretor por ter conseguido fazer um filme emocionante mas que não nos faz chorar; que nos choca por mostrar a realidade nua e crua e nos estarrece com a maior história de terror dentro da História recente da humanidade.

O filme também merece o Oscar de melhor fotografia por conseguir transformar os sentimentos em imagens. Para isso, foram usados tons predominantes de cinza, preto e pardo, cores tristes que representam a sombra naquelas vidas.

Para melhor ator, o troféu deveria ser entregue a Adrien Brody, que interpretou brilhantemente o papel principal. Brody passou por mudanças físicas de todo tipo, emagrecendo e deixando a barba e os cabelos crescerem. Tornou-se um fugitivo perfeito! Além disso, ele possui os dedos longos e finos dos bons pianistas, o que resultaria numa trilha clássica marcante.

O final, como todo o resto, deixa claro que não existem heróis e anti-heróis na História, nem uma raça é mais vítima que a outra. O maniqueísmo não aparece em “O Pianista” – grande trunfo para um filme sobre o holocausto. Como em toda guerra, os seres humanos não são bons ou maus, mas apenas lutam pela sobrevivência. Por mostrar tudo isso, “O Pianista” merece o Oscar de melhor filme de 2003.

Há mais de uma semana o assisti e estava doida para escrever logo no Fulano, antes que esquecesse algum detalhe. Não podia adivinhar que esse filme ainda ficaria marcado em minha cabeça por tanto tempo – agora provavelmente para sempre. Vemos sem acreditar que aquela barbaridade totalmente gratuita aconteceu mesmo, e ficamos entalados.

Indo contra meus “princípios”, percebi que deveria dar nota dez, dessa vez. Justiça seja feita.

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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