O fim do caos dos últimos anos, tchau 2022 e que venha 2023!

Operários trabalhando em uma obra da construção civil.
Foto: Josue Isai Ramos Figueroa / Unsplash

Tem coisa mais chata que obra?

No ano passado, fizemos uma reforma no banheiro aqui de casa. Era para ter sido uma coisa simples, previsão inicial de 15 dias. Acabou durando dois meses.

É uma amolação atrás da outra. Toda hora aparece um imprevisto também. Sabe aquele programa do Discovery Home & Health, “Ame-a ou Deixe-a”?

Eu sempre acho que estão de sacanagem com a Jillian, porque ela NUNCA consegue executar tudo o que planeja, já que sempre tem uma infiltração escondida num porão, um chão de varanda podre ou uma fiação perigosa que precisa ser trocada com o dinheiro que iria pra reforma do escritório.

Pior ainda é obra de construção de prédio. E eu sempre dou azar de resolverem demolir uma casa e construir um prédio enorme bem ao lado de onde estou morando no momento.

A última, um prédio de 13 andares que resolveram fazer do outro lado da rua onde moro, durou cerca de três anos.

TRÊS ANOS!

Foram três anos de barulho, poeira, caminhões atrapalhando o trânsito, gritaria.

São tantos transtornos que é difícil até de elencar tudo. Para se ter uma ideia, paramos de abrir as janelas de casa, pra evitar a entrada da poeira e reduzir os ruídos. Mas tinha dia que parecia, ainda assim, que uma britadeira estava ligada na nossa cozinha. Era uma barulheira enlouquecedora.

Passamos a conviver com o ambiente abafado e, mesmo assim, a poeira entrou – ela sempre entra. Várias vezes o Luiz desenvolveu uma tosse alérgica.

E o pior é que não havia descanso. A obra seguia, ininterrupta, aos sábados e até nos feriados. A gente acordava às 7h com o bate-bate, ou muito antes, com a chegada dos caminhões, mesmo nos dias em que podíamos dormir um pouco mais. Só havia paz nos domingos, quando conseguíamos lembrar que a nossa rua um dia já foi extremamente calma, sem trânsito, silenciosa, que dava para ouvir até cigarras, grilos e passarinhos antes do início dessa obra.

A gente tentava se tranquilizar pensando que, na reta final, a obra faria menos barulho. Mas, que nada! O barulho seguiu até o último dia, sem trégua.

E o atraso? Assim como a reforma no banheiro e os contratempos de “Ame-a ou Deixe-a”, a construção da frente atrasou meses. Imagino a ansiedade dos futuros moradores, mas não sei se eles imaginam a encheção que era para seus futuros vizinhos também.

O que era para ter ficado pronto em julho depois passou para setembro, outubro… As eleições chegaram – eu me divertia com o obreiro que gritava “Lula!” a todo instante –, Lula venceu, e nada de a obra acabar.

Eis que no último dia 15 de dezembro, de um jeito meio repentino, vimos que o clima estava diferente naquele prédio. O clima não era mais de construção, era de entrega. À noite, os operários já tinham ido embora e os futuros moradores apareceram para uma festa de inauguração. Não acreditei: chegou mesmo ao fim!*

Foram cerca de três anos em que vimos quatro casas sendo demolidas para dar lugar a uma fundação, vimos todos os problemas pelos quais a obra passou, e fomos acompanhando todos os estágios desse milagre que é a criação, do “nada” – da lama, da poeira –, de um prédio alto, iluminado, todo chique.

O dia 16 foi de um silêncio domingueiro na rua, apesar de ainda ser sexta-feira. Abrimos todas as janelas do nosso apartamento, respirando um vento que não batia na nossa cara havia tempos. Ouvi de novo os passarinhos, em vez das máquinas pesadas e trânsito de caminhões. Até um casal de tucanos deu o ar da graça:

Foi como naquela fábula do bode na sala de casa que, depois de retirado, fez a casa parecer bem maior e mais confortável.

Ao mesmo tempo em que fiquei feliz e aliviada, a contradição humana mostrou suas garrinhas ao me deixar emotiva imaginando todos aqueles operários falantes e alegres subitamente desempregados a dez dias do Natal. É como se eu estivesse, vejam só!, com saudades deles.

Fechei os olhos e pensei: “Tomara que estejam bem. Tomara que tenham recebido um bom acerto. Tomara que logo encontrem novas obras e construções barulhentas e intermináveis para poderem trabalhar e pagar suas contas e sustentar suas famílias.”

Capacetes amarelos de operários da construção civil.
Foto: Silvia Brazzoduro / Unsplash

Fim de ano é isto: este misto de alegria, esperança, nostalgia, tristeza, otimismo, pessimismo, cansaço, sobrecarga, lembranças, expectativas.

Que o próximo ano seja mais leve do que foi este 2022 – e os últimos três anos, com seus pesos conjuntos do bolsonarismo e de uma pandemia, ao som desafinado de uma construção vizinha.

Que ele transcorra com a paz e o silêncio das obras finalmente acabadas, que permita as janelas abertas e o frescor dos ventos em casa, que nos deixe respirar livres das poeiras contaminadas, que seja, enfim, um ano de outros tipos de construções – aquelas que acontecem dentro da gente, mas sem gerar caos e bagunça para todos ao redor.

Feliz 2023 para tod@s!

Sem tanto ódio, mentira e maldade. Com muita esperança, otimismo e afeto ❤

P.S. Tiraram o bode do Brasil! =D

 


* Atualização em abril de 2023: por incrível que pareça, mesmo depois da inauguração e de vários moradores terem se mudado para o prédio, a obra ainda continuou por mais 4 meses, com ajustes sendo feitos na entrada da garagem… Mas agora vai!

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

1 comentário

  1. Nosso bode foi pastar num condomínio de luxo em Orlando. Dele, só espero o silêncio nos próximos anos. Que não seja tão passageiro como o das obras de prédios em construção na minha vizinhança, cujos operários estão em férias coletivas desde véspera do Natal.

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