A noite em que me vi num tiroteio (aleatório e banal, desses que ocorrem todas as noites em São Paulo)

Estou voltando de uma pauta, quase 23h desta quarta-feira, no carro do jornal.

Passamos por ruas bonitas do Butantã e dos Jardins, com suas mansões para todos os gostos.

Ruas escuras e desertas, em sua maioria.

Eis que, na rua Estados Unidos, passam dois sujeitos correndo.

— Pum!

Sou meio lerda para perceber essas coisas, mas o motorista abaixa, com medo, e acelera o carro, traduzindo: “Isso é um tiro!”

Olho pra trás e Pum!, mais um tiro?!

Duas viaturas perseguem os caras, enquanto o motorista vai levando o carro pra longe dali, rindo nervoso. Uma terceira viatura entra pela contramão da alameda Gabriel Monteiro, vinda da avenida Rebouças, e vai no encalço das outras duas.

Começamos a discutir as possibilidades: quem deu o tiro? A polícia? Os fujões? Era um assalto? Um arrastão a alguma daquelas casas de luxo? E se o tiro nos acerta…! Arrepios.

A gente cobre esses casos (eu, pessoalmente, muito de vez em quando), mas nunca nos vemos no meio deles. No meu apezinho pequeno, de um bairro comum de São Paulo, me vejo mais segura que a maioria daquelas pessoas que vivem em fortalezas, nos bairros mais policiados. E por isso acabo me esquecendo, às vezes, como esta cidade é violenta.

Troco um tiro por uma lembrança.

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

7 comentários

  1. Prezada Cristina Castro,

    Gostaríamos de comunicar através deste post, que a Folha de São Paulo fornece os EPIs(colete a prova de balas, capacete, morfina, torniquete, camisa do corinthias e um terço) no ato da contratação, sendo o funcionário responsável pela sua devida utilização e conservação. Em caso de má utilização ou perda, o valor será descontado no adicional noturno e no adicional de periculosidade.

    Informamos também que consta no nosso sistema o horário de intervalo as 17:30 para o lanche e saída do trabalho as 18:00, desconsiderando este caso como deslocamento do trabalho, e portanto não sendo coberto por nossas seguradoras em caso de acidente.

    Solicitamos o seu comparecimento ao departamento pessoal para acareação com o motorista, e verificação de estabelecimento inapropriado presente na rota do GPS instalado no veículo, e caso se confirme as irregularidades, assinatura da carta de advertência.

    Atenciosamente,

    Recursos Humanos.

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  2. São Paulo, como toda grande cidade brasileira, é violenta e farta em crimes, principalmente contra o patrimônio. A ostentação tem um preço. Um das causas dessas violência é a acumulação brutal de recursos, concentrado em poucas mãos. A luta entre segurança e banditagem é infinda, é um combate ao efeito, sem tocar na causa, constituida pela elitização da riqueza e socialização da miséria. Urge mitigar essa diferença desumana.
    Você faz muito bem em viver discretamente….mas não deixa de ser um absurdo.

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    1. Absurdo total…
      No meu bairro, o máximo que rola é assalto de pé-de-chinelo, daqueles que ganham mais no grito do que por estarem com alguma arma, pra conseguir uns trocados em troca de crack. Nesses bairros nobres, os assaltantes andam fortemente armados, querem roubar coisa smais valiosas…
      Mas nem sei se o que vi ontem foi mesmo um assalto. Podia ser qualquer coisa. Liguei para o jornal para avisar do que vi, mas não voltei pra dentro do tiroteio pra verificar.

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