Truques para caminhar (ou correr) e pensar (ou não)

Pessoas caminhando e conversando no Parque Ibirapuera. (Foto: CMC)

Bem, depois que estourei a tendinite e nada a consertou, fiquei desse jeito. É só dar uma nadadinha num poço de cachoeira ou uma jogadinha de ping pong e já acordo com o ombro ardendo no dia seguinte.

Isso foi chato, já que a vida inteira pratiquei esportes (inclusive amava educação física na escola). Restaram-me duas alternativas, que movimentam pouco os braços: futebol e corrida.

Como sempre fui perna de pau e não ia ser aos 15 que isso ia mudar, comecei a fazer caminhadas, cada vez com mais frequência.

Na praia, desde nova, sempre acompanhei meus pais em percursos longos, às vezes de 12 km, na beira do mar ou na estrada que liga Mucuri a Nova Viçosa, onde o sol se põe. Na cidade, meu lugar favorito para caminhar era a Praça da Liberdade (que ainda vai ter post especial).

Ela tem 550 m de circunferência e, dali até a minha casa, eu precisava andar cerca de 1,5 km. Assim, quando eu andava dez voltas, fazia cerca de 8,5 km. E tudo com a vantagem de poder olhar as árvores, flores, os vira-latas e as criancinhas aprendendo a andar de bicicleta.

Quando me mudei para São Paulo, fiquei, no primeiro semestre, em pleno Viaduto do Chá. Era um perigo andar lá perto, sozinha, à noite, e não havia praças próximas ao redor (Vale do Anhangabaú não conta depois de certa hora, né?). Assim, pela primeira vez, fiquei tanto tempo sem fazer nenhum tipo de exercício físico.

Mais tarde, mudei para um lugar distante 1km de uma pracinha simpática, onde voltei, aos poucos, ao ritmo.

(Para medir as distâncias, sem precisar do Google Maps, basta seguir o método do meu pai: contar uma passada a cada vez que o pé direito bate no chão; a cada 60 passadas completas, são 100 metros. É infalível, podem testar :))

Eu me distraía com os simpáticos moradores de rua, que sempre moravam lá (certa vez um deles me abraçou dizendo que era seu aniversário), com o tocador de saxofone, que ia uma vez por semana para uma das esquinas (e tocava músicas que minha mãe gosta de cantarolar), com a quantidade incrível de gêmeos e de cachorros que circulam por ali e com os velhinhos, geralmente acompanhados de enfermeiras.

Como na natação, meus pensamentos fluíam ferozmente, como num mundo à parte, funcionando como alívio em momentos de tristeza, terapias e ideias para pautas. Por isso sempre preferi caminhar sozinha, como se nada sozinha, embora tenha dado algumas voltas com minha amiga Cíntia Acayaba por um tempo.

(Para não esquecer qual era o número das voltas, eu andava com o chaveiro na mão. Sempre que estava na direita, eu estava na volta par; na esquerda, na ímpar. Trocava a mão automaticamente quando chegava na esquina do ponto de ônibus.)

Caminhando é muito melhor de pensar. Quando corro, os pensamentos chegam mais atropelados. Por isso, não é sempre que gosto de correr, só na academia.

Sim, porque quando a chuva encheu muito o saco e descobri um academia por perto, decidi pagá-la só para usar a esteira (detesto esse clima de academia, com todos aqueles fortões e magricelas suados, aquela música tum-ti-tum e aqueles aparelhos que detonam meu ombro).

Mas agora os pensamentos foram substituídos pela distração de uma TV à frente, geralmente ligada em algum seriado americano. Em vez de pensar, ter ideias pra pautas e fazer terapia, vejo as bobagens dos nerds do Big Bang Theory ou do Two and a Half Men. Ou seja: os neurônios não se exercitam muito mais, mas as pernas continuam incansáveis 🙂

(THE END)

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

18 comentários

  1. Saudades da praça da Liberdade. Lá em BH eu andava na praça JK.
    Me diz: quantos metros tem a circunferência da nossa pracinha simpática?

    Bjos

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  2. Eu também detesto academias, mas infelizmente não vejo outro jeito, ao menos agora, para que eu não a frequente. Tem a orla aqui em Salvador, sempre uma boa opção nem que seja no final de semana. Vou usar o método de contar as passadas! 😉

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      1. É questão de tempo e local de trabalho, mesmo. Mas já estou resolvendo isso…e espero que o prefeito resolva também os problemas da orla, tornando-a de fato maravilhosa! 😉

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  3. Quando criança nadava e andava muito de bike. Adulto, dediquei-me apenas ao trabalho e aos estudos, de dia um a noite outro. Quando me dei conta de que precisava preservar a saúde, comecei a caminhar. No começo andava 200 metros e sentia muito cansaço. Perseverei, até caminhar 12/16 km por dia, antes do trabalho. Nesse rítmo, em 2005, pensei em fazer o Caminho de Santiago de Compostela, no ano seguinte. Em dezembro de 2005, fiz o Caminho da Fé (de Tambau a Aparecida do Norte) um percurso de 430 km, pela bela Serra da Mantiqueira. Sai a 19 de dezembro/05 cheguei a 02jan/06. 14 dias subindo e descendo a Serra, com um mochila nas costas. Absolutamente só, exceto nos dois últimos dias, que encontrei outros peregrinos.
    Em setembro de 2006, fui fazer o Caminho de Santiago, contava então, 57 anos e era minha primeira viagem à Europa. Também fiz tudo sozinho. O caminho francês, sai de San Jean Ped Port, aos pés dos Pireneus, atravessa a Espanha no sentido leste-oeste, ao norte do pais. Foram 31 jornadas lindas, com apenas um mochila na cacunda e muito pensamento, reflexão. Talvez estas tenham sido minhas maiores aventuras e ventura esportivas de minha vida. Ao final de cada dia, o corpo cansado, mas a alma lavada e enxaguada, busca repouso nos albergueres…Já sinto muita saudade…
    Depois disso, passei a pedalar, para lembra minha infância ciclística…peladei muito. Em 2008, resolvi fazer o Caminho de Santiago, de bike….e lá fui….Atravessei toda Espanha, pelo norte, no sentido leste-oeste, depois chegar a Santiago, resolvi continuar até finissterre, no extremo oeste….e depois desci, em direção a Portugal…pedalei, sempre sozinho, pela beira-mar, até o Santuário de Fátima…foram 1.500 km, em trinta dias de pedaladas pela manha e início da tarde e, depois, descanso. Muito bom mesmo.Em Fátima, desmontei e embalei a bike e segui para Lisboa de Bus…Outra viagem lindíssima.
    É isso, Cristina, um dia te falei que contaria um pedalada que havia realizado…aí está o resumo de dela…quem sabe um dia conte detalhes…rsrsr….caminhadas e pedaladas rendem histórias.
    Abraços, Cristina.

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    1. Nossa, sensacional, José!
      Não sei se eu teria fôlego para andar tudo isso, mas, quem sabe, indo um pouquinho todo dia, ao longo de umas férias, né?
      Gosto muito dessa paz de espírito que a caminhada nos traz, essa possibilidade de nos perdermos em pensamentos, sozinhos, enquanto os pés batalham. Por isso, embora a corrida seja mais vantajosa para perder peso etc, acabo preferindo a caminhada na maior parte do tempo.
      Você tem fotos dessas aventuras maravilhosas? Envia depois pra eu ver?
      bjos

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      1. Exatamente, Cristina, vai caminhando diariamente, não esquecendo dos descansos necessários. Aumente naturalmente as distâncias, sem estafar-se…ao fim da caminhada, sentir cansaço, mas não desconforto. Tenha em mente a km/dia, nestas jornadas (+- 30km/dia).
        Em uma férias é possível fazer qualquer dos dois caminhos.

        Tenho fotos sim, vou digitá-las e te mando. (imagine que em todas as peregrinações, levei máquina das antigas, hehehe).
        Se precisar de dicas, sites etc, terei imenso prazer em fornecer.
        Abraços.

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  4. Eu não gosto de correr na esteira, não tenho paciência, uma monotonia só
    Hoje caminhei 2h10, estou me sentindo realizada. Domingo passado corri.
    Sempre via o domingo como um dia sem graça, monótono
    Hoje fui conferir a ciclovia novinha da minha cidade, amei.
    Amanhã irei correr
    Adorei a dica das passadas, vou coloca-la em prática

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  5. Sempre gostei de malhar, mas não para ficar musculoso e sim por ser um método de jogar o stress do dia a dia pra fora.
    Depois que tive meu filho, tive que segurar mais a grana e dei um tempo na academia.
    Com isso comecei a caminhar á 3 meses na ( praça de liberdade), onde caminho e corro de segunda a sexta.
    Nossa, acho que não consigo ficar mais sem essas caminhadas.
    Quem não tem esse hábito, deveria pelo menos tentar.
    Acho que não volto mais para academia kkkk.
    abraços a todos.
    ps: Vou tentar o teste do seu pai de contar as passadas kkk.

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