
Cheguei ao prédio e a vizinha, que não conheço, segurava o portão aberto para eu passar. “Gentileza urbana”, como gostavam de dizer as campanhas publicitárias da prefeitura de Beagá (será que ainda dizem?).
Cruzamos o hall e, do elevador, ouvimos que vinha outra vizinha, conversando com alguém. Portanto, seguramos a porta do elevador para ela também.
Surpresa ao nos ver segurando a porta, ela primeiro agradeceu, depois se lembrou que estivera falando sozinha e, sem graça, disse, rindo:
“Nossa, vocês devem ter achado que sou doida, falando sozinha assim!”
Ao que a primeira vizinha respondeu:
“Eu também vivo falando sozinha. É até bom, porque as pessoas podem achar que somos meio bobas e não mexem com a gente.”
A segunda vizinha pareceu não ter gostado do “boba” e emendei o raciocínio:
“Na verdade, é uma ótima tática pra se usar na rua quando ver alguém na pilha pra nos assaltar. Disparamos a conversar com o vento e a pessoa se assusta, achando que somos doidas, e muda de ideia.”
Elas riram.
A primeira vizinha ainda se lembrou:
“Engraçado foi hoje, que vi um senhor velhinho, na estação do metrô, dando instruções de localização para NINGUÉM ao lado dele!”
Rimos mais.
Elas chegaram ao andar de destino e prossegui na subida para o meu andar.
Pensando:
- Que raros são vizinhos que conversam essas pequenas prosinhas de elevador hoje em dia, pelo menos nos prédios de muitos apartamentos como o meu.
- Que rara é a gentileza urbana de segurar a porta do elevador para o outro que nem cruzou a curva e que milagres isso provoca no humor das pessoas.
- Por que diabos tanta gente fala sozinho (e me incluo no grupo louquinho). Terá a ver com morar sozinho? Com morar nas ruas? Com estar idoso? Será que é porque temos tanto pensamento incontido que ele transborda pra boca e quer invadir as ruas, para dar mais vazão aos outros pensamentos que se atropelam por trás?
O que me fez lembrar um livro que li e que mexeu comigo e do qual já falei de leve aqui no blog e um monte para um email a uma amiga, mas um dia vai virar post também. Por hoje, termino aqui, neste sem-fim.
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Cris, acho que falar sozinho serve também para organizar o pensamento. Ouvindo o que está pensando, você percebe falhas no raciocínio. Na verdade, não é maluquice. Alguns dos grandes gênios da humanidade tinham esse hábito, até mesmo porque lhe faltavam interlocutores à altura de sua genialidade.
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Então tudo bem eu falar tanto sozinha, né? 😉
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Sim, quem sabe você também é gênio? Curioso: essa palavra, conferi há pouco no Aurélio, é substantivo masculino. Não existe a forma gênia. Mas, certamente, existem mulheres geniais e algumas ainda não saíram da “garrafa”.
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Eu não!
Prefiro ser “normal”…
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