Texto de José de Souza Castro:
Leio no Blog do Lucas Figueiredo notícia sobre o vazamento na Internet, por obra de hackers que se identificam como LuizSec e Anonymous, de uma batelada de documentos sigilosos da Operação Satiagraha, da Polícia Federal. É possível acessar os documentos clicando AQUI. São centenas, mas até agora só li quatro, dos quais o que mais me chamou a atenção é um relatório de 162 páginas assinado pela delegada Karina Murakami Souza, da Divisão de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal.
O relatório, datado de junho de 2008, é dirigido ao juiz federal da 6ª Vara Criminal de São Paulo, e apresenta os resultados “do que foi apurado até o momento, através das interceptações telefônicas e telemáticas autorizadas judicialmente, com relação à organização criminosa liderada por DANIEL VALENTE DANTAS, envolvida na prática de delitos contra o Sistema Financeiro Nacional e o mercado de capitais, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, formação de quadrilha, tráfico de influência, dentre outros.”
Como jornalista, fiquei bastante interessado no que li nos quatro parágrafos abaixo:
“No curso da presente investigação nos deparamos com diálogos e emails que apontam para ocorrência de manipulação da mídia pela organização criminosa investigada. Pudemos notar que tudo o que se publica com relação aos interesses do grupo é acompanhado de perto e cuidadosamente.
Não obstante não haver tipificação penal específica para tanto, a situação verificada ultrapassa os limites constitucionais estabelecidos nos artigos 220 e inciso IV do art. 221 da Constituição da República. Em alguns momentos, o comportamento de alguns jornalistas poderia até ser enquadrado como de membros da organização criminosa, especialmente daqueles com indícios de recebimento de remuneração direta ou indireta de recursos advindos do grupo.
Em certas oportunidades, é travada uma verdadeira batalha psicológica por meio dos órgãos de imprensa, os quais deveriam apresentar uma opinião isenta, mas, na verdade, encontram-se totalmente corrompidos, utilizados como instrumentos servindo aos interesses de criminosos.
O volume de dados obtidos sobre o tema foi grande e de sua análise concluirmos que a utilização da mídia serve a dois propósitos, no mínimo, antiéticos, o benefício próprio e o prejuízo de terceiros, com intenções de chantagem. Os diversos relatórios de interceptação telefônica e telemática trouxeram tópicos específicos sobre o tema que não irei reproduzir nesta peça, apesar de considerar importante chamar atenção para o tema que poderá ter influência na repercussão após a execução deste trabalho.”
Achei curiosa também uma referência à atual presidente da República, relacionada com um auxiliar direto de Daniel Dantas, o advogado e ex-deputado federal petista Luiz Eduardo Rodrigues Greenhalgh, o “Gomes”. Diz o relatório:
GOMES transita com facilidade nos gabinetes de Ministros do STF e STJ em busca de decisões favoráveis ao grupo, quase sempre com apoio de escritório de advocacia constituído para despistar a sua presença na causa. Devido à sua condição de ex-deputado federal e membro do Partido dos Trabalhadores, freqüenta a ante-sala do Gabinete da Presidência da República, buscando apoio para negócios ilícitos do grupo, notadamente no Gabinete da Ministra da Casa Civil Dilma Russef e do Secretário-Geral da Presidência Gilberto Carvalho, é intimamente próximo ao ex-Ministro da Casa Civil José Dirceu. Sua participação foi fundamental na criação da “Supertele”.
Gostaria que a forma como a delegada grafou o sobrenome de Dilma Rousseff não comprometa seu relatório como um todo. Temo, porém, que todo o caso esteja comprometido, não por culpa da esforçada delegada, mas por obra de alguns juízes e políticos muito importantes.
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