Não tenho como jurar, mas é quase certo que criei minha conta no Orkut em junho de 2004. Há, portanto, sete anos. Alguns amigos descriaram suas contas no meio-tempo, voltaram, ou não voltaram, e eu fiquei com a mesmíssima conta durante todo esse tempo, inclusive com poucas modificações no perfil, nas comunidades e tudo o mais.
Minha descrição vinha dizendo, há sete anos, que sou:
“Faladeira, gente boa, falsa-extrovertida, falsa-tímida, teimosa, cara-de-pau, folgada, perfeccionista, escrachada, pentelha, impertinente, escatológica, empolgada, impulsiva, explosiva, obstinada, de-lua, crítica, palhaça, nostálgica, sonhadora, romântica, abraçadeira, beijoqueira, exagerada, lerda, grossa, ácida, depressiva, alegre, paciente, impaciente, amiga, confiável, orgulhosa, determinada, curiosa, irônica, sociável, solitária, contraditória, séria, sorridente, fotogênica, transparente, influenciável, cética, ingênua, inteligente, pretensiosa, distraída, desmemoriada, desregrada, madura, imatura, azarada, cabeça-dura, desleixada, encrenquinha, crisenta, confiante, fria, prática, independente, intensa, carente, engraçada, barulhenta, trágica, sincera, sensível, insensível, politizada, aberta, idealista, confusa.
Como todas as pessoas que conheço: única. Ainda bem!”
É de enjoar.
Mais tarde, acrescentei:
“Prefiro o chinelo ao sapato.
escrever a falar.
falar a calar.
o jornal à revista.
o rádio à TV.
o cinema ao teatro.
o livro ao filme.
a esquerda à direita.
a raiva ao conforto.
o ceticismo à fé.
o otimismo ao realismo.
o suco ao refrigerante.
a cerveja ao uísque.
o buteco à balada.
o almoço ao sanduíche.
caminhar a dirigir.
dirigir a pegar carona.
o sono ao remédio.
o cartão ao presente.
o blues ao rock.
o rock a quase todo o resto.
o sopro à corda.
a noite ao dia.
o toque de mão aos três beijinhos.
o amigo ao amante.
o moreno ao loiro.
o inverno ao verão.
o frio ao calor.
desgosto tanto de polícia quanto de bandido.
gosto tanto de cachoeira quanto de praia.”
Naquela parte de “relacionamentos”, em que se pergunta o que aprendi nos relacionamentos anteriores, cravei uma pérola de Old Bull Lee, o melhor personagem de On The Road: “Uns são filho da puta, outros não; e isso é tudo.” Resume bem demais, né? 😉
E as comunidades? Não valem pra absolutamente nada, além de servirem como um selinho dizendo um pouquinho mais do que você é. E o que eu era? Coisas como:
- “Não fui eu, foi meu eu lírico!”
- “Eu não dirijo — eu piloto”
- “Só vou pro céu se for open bar”
- “Revolução francesa: eu fui!”
- “Eu falo com cachorros de rua”
- “Eu tive um futuro promissor”
- “Quero morar na vila do Chaves”
- “Ainda vou ser dono de buteco”
Convenhamos que, se o recrutador do RH fuçasse no meu Orkut, ele não me contrataria 😉
Cheguei a montar uma comunidade, chamada “E Viva a Ironia”, que agregou mais de 100 mil malucos. Enchi o saco dela e a deletei. Também criei uma, chamada “Blues BH”, em que eu atualizava a agenda de blues da cidade. A falta de tempo tirava minhas condições de fazer isso com frequência desde que vim pra São Paulo. Não fará falta.
E aí vinham as fotos. Um álbum só para os shows a que já tive o privilégio de ir: Paul, BB King, Queen, Rolling Stones, Creedence, John Mayall, Buddy Guy…
E os vídeos: o pôr-do-sol no Arpoador, eu pegando o canudo do diploma ao som de “In My Life”, cachoeira da Serra do Cipó e várias com shows ou críticas políticas.
E os depoimentos. Um monte de amigos dizendo que sou legal, maluquinha, sincera, blablabla.
Muitos desses amigos que deixaram esses depoimentos sumiram, ou perderam muita da importância atribuída à época. Ah sim, porque o Orkut dizia que eu tinha 279 amigos: como se alguém pudesse ter tantos. Muitos ali eu nem mais sei quem são.
Foi por retomar a reflexão sobre a inutilidade das redes sociais que decidi fechar minha conta de sete anos de Orkut. Ela já não me servia para nada, mesmo, mas eu não lhe queria nem a carcaça. Porque todos aqueles vídeos e fotos e comunidades e autodescrições e depoimentos contavam, sim, um pouco de quem eu sou. Mas quem realmente me conhece, sabe que aquilo é só uma vitrine oca. E quem não me conhece, não precisa ter ciência nem dessa vitrine.
Ainda estou no Twitter, no Facebook. Mas vai chegando a hora em que também varrerei tudo isso da minha existência. E sobrará só eu, esse ser não-virtual, que ainda gosta de conversar pessoalmente. (Prazer.)
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Aaaaah não apague o blog! Eu não terei mais blog descontraído pra ler, e aí não lerei mais nada nessa internet que cansa os olhos…
Meu orkut permanece lá, não consigo apagar por conta de pessoas que podem sumir pra sempre!
Um dia eu apago…
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Ah, se a pessoa só tinha contato com vc pelo orkut, então ela merece sumir pra sempre mesmo, não acha?
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Mesmo assim me dá uma dor no coração =/
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heheheh
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Depois vai se arrepender de não ter a memória de seus vinte e poucos : )
[]s,
Roberto Takata
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Eu salvei os depoimentos, comunidades e tudo o mais num arquivo do Word. Só pro caso de eu querer ter essa memória rs.
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Quando eu morrer, meus perfis em redes sociais continuarão existindo. É uma forma de prolongar a vida, saca?
Beijos! Gostei do texto.
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Mas acho tão deprê ver orkut de amigo morto! Ainda mais que fica aquele tanto de gente escrevendo pra ele, dizendo que ele tá no céu, essas coisas… Vira um mausoléu online tenebroso!
bjos
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a comunidade do blues passou prá outra pessoa?
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Eu passei procê hahahaha!
E fiz uma despedida lá =)
Mas agora não consigo mais ver se alguém respondeu à despedida.
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Meu horrorkut anda mais abandonado do que vira-lata. O acesso é cada vez mais esporádico e daquele monte de comunidades só dou uma olhada rápida apenas em duas e ainda assim de forma bem esporádica. Sinal de que já não possui tanta relevância assim – quem sabe se eu jogasse Colheita Feliz?
Talvez um dia eu cometa o ‘orkuticídio’ ( é assim que um dia foi chamado?) mas vou manter meu perfil por lá, por enquanto.
Mas o seu depoimento lá no meu horrorkut eu vou guardar, é claro! 😉
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É, eu fiz questão de salvar todos os meus depoimentos, recebidos e escritos, num arquivo do Word 😉
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