De cafés e hérnias

Nas minhas férias em Beagá, tive que voltar a tomar o tempo todo uma pastilha de Magnésia Bisurada.

(Isso lembra o protagonista de “Agosto”, do Rubem Fonseca, né? :D)

Fazia tempo que eu não tinha tanta gastrite. Talvez uns quatro anos, quando minha situação era realmente crítica.

Durante a faculdade e o trabalho no Banco do Brasil, eu tomava no mínimo cinco doses de café por dia. E, por “doses”, leia algo entre 200 e 500 ml cada.

Sim, teve um dia que pedi um copão de 500 ml para a moça da cantina e ela encheu pra mim. Tomei rápido, pra não esfriar, antes de ir para a aula de Sociologia do professor Radamés (aliás, um dos melhores professores que tive na faculdade, pena que nunca mais o encontrei). Antes de entrar na sala, comecei a sentir uma tremedeira braba, meu coração explodiu, tive que deitar encostada no chão do corredor até que alguém passasse para me acudir.

Era a sgeunda vez que eu passava mal com café; a primeira foi num dos dois primeiros períodos de faculdade (quando eu ainda não trabalhava à tarde e ficava atoando pelo campus), em que eu e três amigos descobrimos uma milagrosa “salinha do café”, perto da sala dos professores, e havia uma garrafa cheia e intocada lá dentro. De um litro. Tomei quase toda até começar a ter os sintomas de uma lunática.

Mas, como eu ia dizendo, nessa época da dobradinha faculdade-trabalho, eu tomava muito café ainda. Sem contar que minhas happy hours cervejísticas também eram muito mais frequentes que hoje, já que todos sabem que bancário é o bicho que mais bebe no mundo.

O resultado é que eu quase morria de gastrite, daquelas com direito a refluxo e tudo. Um belo dia, agendei um gastro, fiz uma endoscopia e o resultado foi só este:

gastrite crônica,

esofagite aguda e

hérnia estomacal.

O bom é que passei um bom tempo tomando Omeprazol, cortei o café (temporariamente), a cerveja (parcialmente) e comecei a prestar mais atenção no que comia. Funcionou: minhas gastrites quase sumiram e só muito raramente eu tinha que recorrer à pastilha milagrosa da Magnésia.

Aqui em São Paulo eu até tomava uns dois copinhos de café por dia, mas agora estou perto de uma máquina de café tão detestável (sério, parece água suja), que meio que cortei o vício. Mas na semana em Beagá, tinha café fresquinho, gostoso e forte duas vezes por dia, obviamente acompanhado de queijo Minas de verdade (um dia explicarei aos não-mineiros o que é queijo Minas de verdade) e tinha farofa (o melhor prato do mundo, disparado!), que também é causadora das piores azias. Ah, e tinha preocupações emocionais, que também afetam os tubos lá dentro.

E aqui cheguei ao começo do post, que já está muito longo, então já vou concluir dizendo que o que sobrou do vício foi só esse meu ímã de geladeira amarelo, um dos favoritos da minha coleção. O vício passa, mas o amor fica 😉


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

9 comments

  1. Eu tenho uma relação meio doida com o café também. Aos 15 anos, no século passado, fiz um estágio na Polícia Civil e comecei a estudar à noite. Acabava tomando quase um litro de café por dia na delegacia, com o agravante que a “tia do café” tinha mãos de fada pra fazê-lo. Saí de lá tipo um mês antes de completar 17 anos, e uns meses depois comecei o cursinho pré-vestibular. Continuei tomando bastante café, em canecões. No segundo mês de aulas no cursinho, à noite, comecei a ter dores de cabeça horríveis, como se um monstro de filme D estivesse brincando com uma furadeira no meu crânio. Por dica de uma tia enfermeira, parei completamente com o café por um tempo e a dor parou. Depois moderei, durante anos, mas continuo adorando café. Tomava até antes de dormir, quando trabalhava de madrugada. Nunca notei o efeito disso até que eu casei e fui informado. Quando tomava café depois das 18h, minhas pernas ficavam agitadas durante o sono. Cortei o café nesse horário. Agora eu só tomo café quando acordo e no máximo um ou dois (de preferência expressos) durante o dia. O mais divertido é que depois de reduzir radicalmente o consumo comecei a notar mais os efeitos do café.

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  2. Por orientação médica troquei o café pelo chá no trabalho, mas não me deixaram acostumar. O administrativo da empresa onde trabalho fez um levantamento e “cortaram” o chá, disseram que estava caro. Enfim. Com isso o café voltou com tudo. No lugar do chá colocaram uma maquina com várias opções como chocolate quente e afins, no entanto para consumir é necessário pagar. Fico com o café! Rsrs.

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