Um chinês perdido na Argentina e os outros absurdos da vida

Cena do filme 'Um Conto Chinês'
Cena do filme 'Um Conto Chinês'

Para ver no cinema: UM CONTO CHINÊS (Un cuento chino)
Nota 7

O filme começa de uma maneira inusitadíssima, ainda mais quando, propositalmente, os créditos nos avisaram logo antes que tudo aquilo é “baseado em fatos reais”.

Como assim, em fatos reais?, perguntaremos nos minutos iniciais.

Mas são. Sua veracidade é atestada pelos jornais. Os mesmos jornais que, dia após dia, sempre imprimem absurdos surpreendentes – sim, eles acontecem nesta coisa que chamamos de vida, que nem sempre segue um roteiro sistemático.

E sistemático é um dos personagens principais deste filme, o rabugento Roberto (vivido pelo excepcional Ricardo Darín, que dispensa apresentações). Ele sempre segue a mesma rotina, à risca, a ponto de não conseguir dormir antes ou depois das 23h, pontualmente. Segue pequenos rituais que o mantêm vivo, de forma quase obsessiva-compulsiva, e afastado do resto da humanidade. Um desses rituais é colecionar coisas, como as notícias absurdas dos jornais.

E eis que, num desses dias parados de sua vida, ele esbarra com um jovem chinês que não entende ou fala uma só palavra de espanhol. E esse chinês começa a mudar sua vida, bem lentamente, na base de vários choques culturais engraçados e de outras cenas que, na verdade, dão mais vontade de chorar que de rir.

A grande sacada do filme foi ter mantido o jovem chinês sempre sem tradução, sem legenda, deixando a todos na plateia com a mesma incompreensão vivida por Roberto. Ignacio Huang, que interpreta o “chino”, é ingênuo, confuso e incógnito na medida certa.

Graças ao fato de que ninguém consegue entender o que Jun diz e de que Roberto é caladão e fechadíssimo, só vamos conhecendo todos os fatos acerca da vida desses dois personagens bem devagarinho, fechando o quebra-cabeças apenas no fim. Isso cria o suspense.

O único porém para o filme, que tira uns pontinhos dele, é o fato de eu ter rido bem menos do que gostaria, mesmo com um encontro de mundos que poderia ter trazido mil e uma gargalhadas. Para uma comédia, há algo errado nisso — e olha que eu estava de bom humor. Parece mais um drama, em vários momentos.

Dica final: tem uma coisa a ser vista depois do início dos créditos! E ela explica o “baseado em fatos reais”…

***

Atualização na quarta: esqueci de colocar que, alguns minutos depois de sair do cinema, ouvi um casal conversando em um idioma estranho, descendo a rua. Ao me aproximar, percebi que eram chineses. Fiquei encantada com a coincidência (a vida tem desses pequenos brindes cômicos, né? ;)), ainda mais considerando que no meu bairro é incomum ver orientais. Coisas de cinema…

Assista ao trailer de ‘Um Conto Chinês’:


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

2 comments

  1. Também achei incrível as falas de Jun não terem legenda. Ficamos angustiados com a falta de comunicação com esse personagem assim como Roberto.
    É um filme difícil de acreditar que é verdade, que tudo aquilo aconteceu. E por isso comecei hoje mesmo a questionar algumas coisas que podem não dar certo no cotidiano… Meu, se todas estas histórias do filme aconteceram, qualquer coisa MESMO pode acontecer, hahaha!
    Mas eu perdi o que vem ‘depois do início dos créditos’, sai da sala antes… conta o que é para mim!!!

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