Carrinho-de-mão

Na praça destinada aos ricos da cidade

um senhor já mais velho, indefinida idade

sentado no meio-fio, com as mãos no rosto

tinha o olhar mais triste de desgosto

e um carrinho-de-mão logo ao seu lado

que ilustrava o emprego malfadado

estava transbordante de mexerica

que não interessava àquela gente rica.

 

O olhar do senhor era só desalento

suas mãos calejadas compunham o lamento

podia parecer que era só preguiça

mas este é o julgamento da pouca justiça

o que lhe pesava era uma vida dura

e o seu olhar não escondia a agrura

o carrinho-de-mão escorrendo laranja

a um preço irrisório que o rico esbanja.

 

As mãos são ossudas, ele é todo magro

em seu desespero, pede por um trago

as olheiras profundas mal escondem o olhar

do escravo das ruas, que nunca vai sonhar

a tristeza que paira toda a seu redor

ofende aos ricaços, não inspira dó

o carrinho-de-mão cheio de tangerina

decreta um destino, narra sua sina.

(20/07/2007).


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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