Reflexões no isolamento: ‘Sejamos fortes, para sermos vivos!’

Na última sexta-feira, fui até a porta da escola onde meu filho, de 4 anos, aprende coisas incríveis. Ela estava lá, no mesmo lugar que há três meses, trancada, mato crescendo, aspecto abandonado. Nada a ver com a alegria colorida da multidão de crianças pequenas entrando para ir à aula, rindo, dando gritinhos alegres, ou chorando de saudades antecipadas dos pais.
Só havia silêncio.
Comecei a chorar. Estava com saudades da escola, claro, mas não era só isso. Era o que a escola representa. É a vida “normal”. É aquela vida, que parece que acontecia há décadas, em que podíamos todos nos tocar, nos abraçar, nos beijar, sem medo. Aquela vida em que podíamos ir a pracinhas e parques, shows lotados e bares, restaurantes e festas. Ir a casas de parentes e amigos.
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Há pouco mais de três meses, eu estava na reunião da sala do meu filho, e a professora, uma graça de pessoa, estava apresentando em um Power Point os vários projetos que tinha pensado para aquela turminha. Ia ter a biblioteca ambulante, ia ter dever de casa pela primeira vez, ia ter hortinha. Eu ia anotando tudo, encantada, para passar depois ao marido e ao próprio Luiz. Ele ficou tão entusiasmado que quis fazer “dever de casa” no mesmo dia, uma atividade qualquer que ele mesmo inventou.
Mas não teve nada disso, porque, uma semana depois, Minas entrou em estado de emergência por causa do coronavírus (isso foi no dia 13 de março) e, logo em seguida, o prefeito de BH fechou todas as escolas da cidade.
Não é culpa do decreto do Zema ou da portaria do Kalil. É uma baita pandemia, um problema de saúde pública sem precedentes, que já atingiu mais de um milhão de pessoas no Brasil e já deixou mais de 50 mil mortos. Isso para não falar nas outras centenas de milhares de pessoas que adoecem ou morrem sem serem testadas, sem serem diagnosticadas com a Covid-19.
Zema e Kalil fizeram certo em fechar as escolas. Eu estou fazendo certo em manter minha família protegida, em isolamento, no máximo da medida do possível, ainda que eu esteja indo trabalhar todos os dias, com máscara e banho de álcool-gel. Mas e aquele tanto de gente saindo pra manifestar pedindo volta de ditadura militar? E aquele punhado de gente fazendo churrascão, festa, gritando nas varandas-gourmet coisas absurdas como “Co-vi-de! Co-vi-de!”, como se fossem torcida de time de futebol?
Onde está o senso destas pessoas? O que nos tornamos? A polarização política do país chegou a um ponto tão absurdo que, agora, se você é pró-Bolsonaro, você se torna automaticamente contrário a medidas de proteção determinadas pelos maiores especialistas em saúde do planeta. E o fanatismo é tão grande e tão burro que não encontra limites na argumentação. Se essas pessoas chegam até mesmo a perder um ente querido para a Covid-19, dizem coisas como “morreu de outra coisa”, “ia morrer de todo jeito”.
Falo porque já ouvi isso de bocas não arrependidas.
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Meu coração apertou demais quando vi a escola fechadinha. E aperta diariamente, quando começo a pensar em tudo isso o que estamos vivendo, no campo da saúde pública, no social, com centenas de pessoas passando dificuldades extremas, no campo político, com essa aberração virulenta e cheia de ódio no poder. Choro, e choro diariamente.
Mas há dias em que a gente engole o choro e toca a vida. Noutros, a gente chora copiosamente de saudades do que vivíamos há tão pouco tempo e que parece cada dia mais distante de um dia vivermos de novo. Vai chegar o dia em que meu filho não vai mais se lembrar de como era ir à escola ou passar a tarde na casa dos avós. Ou será que este filme de terror acabará antes que a curta memória da criança de 4 anos apague seus acontecimentos mais especiais?
Quantos de nós sobreviveremos para lembrar, anyway?
“Vamos abrir as escolas de novo! Vamos abrir o comércio!”, bradam algumas pessoas, muitas de puro desespero, às vésperas de chegar o pico da doença no Brasil.
A elas, tenho apenas um lembrete: gente doente ou morta não consegue nem estudar nem trabalhar.
(…)
Vamos dar um passo de cada vez, ainda que a tristeza e a saudade doam demais. Sejamos fortes, para sermos vivos!
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Cristina Moreno de Castro Ver tudo
Mineira de Beagá, jornalista, blogueira, poeta, blueseira, atleticana, otimista, aprendendo a ser mãe. Redes: www.facebook.com/blogdakikacastro, twitter.com/kikacastro www.goodreads.com/kikacastro. Mais blog: http://www.otempo.com.br/blogs/19.180341 e http://www.brasilpost.com.br/cristina-moreno-de-castro
Querida Cristina (Kika), concordo com cada detalhe que você escreveu. E é tudo muito triste. A gente sofre por nós e principalmente pelas nossas crianças. Preocupo-me muito com o futuro delas, mas tenho sentido muita falta dos meus netos, da alegria dos nossos encontros nos domingos, dia do macarrão da vovó! Com os pequenininhos, sem muito espaço, os pais vão contornando a situação, mas os adolescentes, cheios de energia e planos, presos em casa e com os amigos e colegas distantes, acabam deprimidos. Rezo para que essa pandemia termine logo e para que permaneçamos confiantes em dias melhores.
Um abraço pra você e sua linda família.
Com carinho,
Simone
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Querida Simone! Obrigada pela mensagem carinhosa. É isso mesmo, só nos resta tentar manter a confiança de que dias melhores logo virão! As crianças e adolescentes com certeza sofrem ainda mais do que nós. Se bem que os pequenos são muito flexíveis, né? Se ajustam a cada coisa! Temos muito o que aprender com eles nessa capacidade incrível de adaptação a novidades. Que o “novo normal” chegue logo e seja tão bom quanto era o velho normal que conhecíamos… Beijos para você e para sua família também!
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Linda Cris, momentos tristes de saudade de tempos que se foram e nao sabemos se ou qdo voltarão, um outro mundo está se esboçando, como será a escola, a convivencia, os encontros culturais, etc, etc? E nossas crianças, sem escola, outras referências, mais criativas? Li as 20 dicas de atividades para fazer com as crianças e a cada que lia via Luiz e vocês, mamãe e papai, a inventarem com Luiz, e tb me vi, vovó, nas conversas de video, que já nao sao mais frequentes….sinto saudades demais das visiras de Luiz, ficar aqui em casa, almoço e passeio ao parque, enfim bateu saudade ….beijos
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Dá saudades mesmo! E o mais doido é que são saudades de coisas que vivíamos há apenas três meses…
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