O que acontece quando os fanáticos e ignorantes saem da internet para as ruas

Todo mundo já está há dias comentando sobre o que houve em Charlottesville, inclusive o discurso posterior de Trump, criticado até por seus pares republicanos. Todo mundo está de olho na “alt-right” (direita alternativa) dos Estados Unidos, no retorno do KKK, na força que grupelhos neonazistas vêm ganhando desde que Trump assumiu o poder por lá. Todo mundo fica assustado quando vê um vídeo tão completo e corajoso como este produzido pela “Vice”, que já teve 3 milhões de visualizações em três dias:

O que eu quero acrescentar a isso é que este não é um problema restrito aos Estados Unidos. E não me refiro apenas a ódio racial, como o que ocorre lá, mas a ódio de classe, como ocorre por cá, no Brasil. É isso o que acontece quando radicais, fanáticos e ignorantes saem dos antros obscuros da internet, com seus memes e comentários irracionais, e partem pras ruas.

Quanto tempo levará para isso acontecer no Brasil? No Brasil que tem um sujeito como Bolsonaro disparando em pesquisas eleitorais com base em discurso parecido com o elegeu Trump nos EUA (baseado em mentiras, ou, como preferem alguns, na pós-verdade)?

[A pós-verdade é tanta que, no Brasil, já tem gente dizendo que o protesto autointitulado “Unir a Direita”, que resultou em três mortos e diversos feridos nos Estados Unidos, era um movimento com origem na esquerda.]

Eu espero que nunca aconteça nada tão absurdamente apavorante assim no Brasil, neste Brasil que já tem pessoas defendendo abertamente a volta da ditadura militar e tem até um presidenciável homenageando um sujeito reconhecido pela Justiça brasileira como torturador. A lógica desse pessoal, infelizmente, se parece muito com a do extremista de direita entrevistado pela repórter da “Vice” que disse, com todas as letras, que o criminoso que atropelou aqueles manifestantes na rua agiu de forma “mais que justificada”.

Os motivos e origens históricas dos discursos são diferentes, mas a lógica, ah, a lógica, ela é igualzinha. É ela que diz que torturar e matar é justificável (“mais que justificável”) se atender aos meus interesses, se estiver do meu lado. Eles se esquecem que – brancos ou negros, ricos ou pobres – no fim das contas somos todos apenas humanos.

Leia também:

Há um Jair Bolsonaro entre meus vizinhos?

faceblogttblogPague com PagSeguro - é rápido, grátis e seguro!

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

7 comentários

  1. Prezada Kika Castro

    Sua postagem é um alerta importante, Estamos ficando acuados, assustados com tanto ódio. Como este ódio entrou nas nossas casas? Nos nossos grupos sociais? Nas igrejas? Nas escolas? Ora, um processo de semeadura neste nível leva anos, foi meticulosamente semeado, adubado e agora como frear esta loucura que está a atingir as duas pontas que não mais dialogam? Por que todos perdemos (amigos, parentes, emprego, segurança,etc) – menos o semeador.
    Hoje li que o neto de um ex-ditador elogiou o fechamento da UERJ e profetizou o fim da UFRJ pela formação de pessoas … que pensam (não, ele disse assim desta maneira tão elogiosa).
    Mas que venha de novo a liberdade, ainda que tardia.

    Paulo Abreu

    Curtir

      1. É preciso reagir, como esse pai de um neofacista dos Estados Unidos, em carta aberta traduzida pelo Diário do Centro do Mundo: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/meu-filho-nao-e-mais-bem-vindo-em-casa-a-licao-da-carta-pungente-do-pai-de-um-neonazista-por-kiko-nogueira/ ;

        Alguns parágrafos selecionados:

        “Meu nome é Pearce Tefft, e escrevo a todos a respeito do meu filho mais novo, Peter Tefft, um nacionalista branco asumido que tem aparecido em diversas reportagens nos últimos meses.
        Na noite de sexta-feira, meu filho viajou para Charlottesville e foi entrevistado por uma equipe de jornalistas enquanto marchava ao lado de outros nacionalistas brancos, que acabaram matando uma pessoa.

        Eu, juntamente com todos os seus irmãos e sua família, desejo repudiar veementemente a retórica e as ações torpes, odiosas e racistas de meu filho. Não sabemos exatamente onde ele aprendeu essas crenças. Não foi em casa.

        Foi o silêncio das boas pessoas que permitiu que os nazistas crescessem da primeira vez, e é o silêncio das boas pessoas que está permitindo que cresçam agora.

        Peter Tefft, meu filho, não é mais bem-vindo em nossas reuniões familiares. Eu rezo para que meu filho pródigo renuncie a suas crenças odiosas e volte para casa. Só então faremos uma festa.

        Suas opiniões odiosas estão resultando em ataques a seus irmãos, primos, sobrinhos e sobrinhas, assim como seus pais. Por que deveríamos ser culpados por associação? Novamente, nenhuma de suas crenças foram ensinadas em casa. Nós não aceitamos e jamais aceitaremos sua deturpada visão de mundo.”

        Curtir

      2. Tadinho, não deve ter nada pior prum pai do que ver o filho se tornar isso. E ele tem mta razão qdo diz que o silêncio fez com que os nazistas crescessem, antes e agora. Estamos repetindo os erros de décadas atrás… Nos Eua e no Brasil.

        Curtir

Deixar um comentário