
Já escrevemos sobre o mineroduto da Anglo American (e, antes, da MMX) algumas vezes, neste e em outros blogs. Meu pai falou dele AQUI, citei o problema por último AQUI. Quem nos acompanha nestes 11 anos de blogosfera já sabe bem, portanto, como essa “solução” para escoamento do minério de ferro brasileiro para suprir a demanda fora do país provoca graves consequências sociais e ambientais. Por onde aquele duto de água passa, rios secam, cursos d’água são desviados, o desperdício é gritante. Sem água, os moradores se desesperam. (E estamos comemorando o Dia Mundial da Água neste fim de semana, então a reflexão se torna ainda mais atual).
Tudo isso, no entanto, era algo que a gente lia a respeito, ouvia falar, deduzia. Mas, nas últimas semanas, as repórteres do jornal “O Tempo” Ana Paula Pedrosa, Queila Ariadne e Mariela Guimarães foram muito além: percorreram os 525 km de extensão do mineroduto, entre Conceição do Mato Dentro, em Minas, e o Porto de Açu, no Rio, pisaram em dezenas de comunidades que nem existem no mapa, falaram com centenas de pessoas, e documentaram uma situação de extrema gravidade, que beira ao surrealismo. Não à toa elas decidiram comparar o que viram com o universo imaginário de Gabriel García Márquez, como podemos ler logo no lide da reportagem principal:
“Se Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas Gerais, tivesse saído da imaginação do colombiano Gabriel García Márquez, talvez a cidade se chamasse Macondo e sua riqueza fosse banana em vez de minério. Tal como o povoado fictício da obra “Cem Anos de Solidão”, do autor, a cidade mineira também viu sua vida alterada repentinamente pela chegada de uma empresa estrangeira. No livro, é a Companhia Bananeira quem faz “uma invasão tão tumultuada e intempestiva que nos primeiros tempos era impossível andar na rua”. Em Conceição, é a instalação do projeto Minas-Rio, pela Anglo American, que está virando a vida dos moradores de cabeça para baixo.”
Recomendo veementemente a leitura de todo o material, que ainda será complementado com reportagens ao longo dos próximos dias. Por hoje, temos o seguinte:
- Obras do projeto Minas-Rio deixam rastro de destruição em 525 km
- Desolamento no lugar da casa
- Prejuízo vai muito além dos R$ 100 mil pagos
- Liminares duvidosas garantem explosões e desapropriações
- Plantações de milho e feijão foram pelo cano
- Briga com funcionários da Anglo para na delegacia
- E clique aqui para ver as galerias de fotos e um vídeo sobre a reportagem
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Conceição do mato Dentro é uma bela região ecoturística, com muitas atrações naturais (https://www.youtube.com/watch?v=GUtd4jCFiTc) e históricas. Será que a mineração vai acabar com este refúgio natural? Acreditemos que não!
A AngloAmerican afirma em seu site (http://www.angloamerican.com.br/about-us/nossa-ambicao.aspx?sc_lang=pt-PT) “Estamos determinados a crescer no Brasil, trabalhando em conjunto com as comunidades locais e aplicando as melhores práticas de negócio adquiridas ao redor do mundo por quase um século.”. Pelo material que eu li referente à reportagem “Um mineroduto que passou em minha vida”, e acreditando que esta tenha uma visão pluriangular para que a realidade não seja deturpada , as palavras por mim transcritas do site da AA, são uma redonda mentira.
Ótimo trabalho!
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Pois é, os leitores provavelmente chegarão à mesma conclusão que a sua! abraços!
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O governo brasileiro deu carta branca para a construção do complexo portuário privado do super-porto do Açu, para toda a zona industrial envolvente que é baseada na transformação, aplicação e exportação do ferro de Minas Gerais e para toda a logística envolvida neste hiper investimento privado, que é o maior do continente americano e o terceiro maior do mundo.
Esta é principal razão porque o mineroduto tem que ficar pronto muito rapidamente, porque as empresas donas da construção do Porto do Açu são empresas privadas internacionais que prometem tê-lo pronto até ao fim do ano 2014.
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Pois é, quem está mais interessado nesse mineroduto são outros países. Aqui dentro, só sobra o bagaço da laranja…
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Importante esta divulgação Cristina, a invasão das comunidades de forma arbitrária e desrespeitosa é um absurdo, um crime … muito sofrimento para as pessoas, as “gentes” desses pedaços do Brasil…parabéns pelo trabalho!
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Belo trabalho das três repórteres que estiveram lá…
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