Para uns, para outros e para mim

Laerte de 23/6/2013.
Laerte de 23/6/2013.

Para uns, a Terra nunca esteve tão quente e o ano de 2013 está entre os mais quentes da História. Para parte desses, é culpa direta dos homens o avanço da temperatura do planeta, que levará a desastres e catástrofes naturais já em curso. Para outros ainda, há, na verdade, um esfriamento da Terra e o aquecimento global é um terrorismo infundado, patrocinado por grandes interesses econômicos. (E há os que não sabem no que acreditam, ou não acham nada).

Para uns, é irrefutável a existência de um deus supremo, bondoso, piedoso, capaz de perdoar pecados gravíssimos cometidos na Terra, desde que devidamente penitenciados, e há a perspectiva de um paraíso após esta vida terrena. Para outros, não há vida eterna, mas um constante renascimento e morte, através de reencarnações, em que as pessoas atingem estágios espirituais em constante evolução. Para outros, existem múltiplos deuses, cada qual com seu poder específico diante da vida. Para outros ainda, não existe nenhum, e a vida é só esta, e, quando acabar, juntaremo-nos ao pó do restante do universo. (E há os que não sabem no que acreditam, ou não acham nada).

Para uns, comer carne é algo natural desde o início da humanidade, que foi se aprimorando com o tempo, com a melhoria das técnicas de caça e de cozimento, e, por serem muito mais ricas em nutrientes e calorias, o maior consumo de carnes tem proporção direta com a expansão evolutiva do cérebro humano ao longo dos milênios. Para outros, os animais sofrem e não devem ser abatidos para matar a fome dos humanos, porque isso é cruel. Para outros ainda, até as plantas têm sentimentos e algumas são capazes de crescer com mais vigor quando num ambiente cheio de música, por exemplo, portanto tampouco deveriam ser mortas para saciar a fome de alguém. (E há os que não sabem no que acreditam, ou não acham nada).

E assim por diante.

Uma coisa eu aprendi nesses anos de vida. Que devemos respeitar os pontos de vista do outro, principalmente quando estamos tratando de assuntos ainda não consolidados pelo conhecimento humano. Assuntos que são embasados apenas por hipóteses refutáveis ou contestáveis, ou que passam pelo campo da fé. Eu respeito o vegetariano, o vegano, o evangélico, o ateu, o espírita, os acadêmicos de várias linhas. O que não respeito é quem se acha superior ao outro apenas por ter uma visão diferente dele.

Acho que a sabedoria não está em acumularmos certezas e convicções, mas em convivermos bem com nossas dúvidas. É muito legal ter convicções sobre algumas coisas, é um chão. Há assuntos sobre os quais chega a ser esperado que essas convicções existam. Espera-se que estejamos convictos de que é melhor procurar viver num estado de felicidade do que de depressão. Temos convicções de que não é razoável matar alguém, nem roubar sem qualquer necessidade. Algumas convicções ajudam a moldar nosso caráter, nossa personalidade. Mas é a dúvida que, na maioria das vezes, nos torna mais sábios. Porque o excesso de convicção é parente das certezas absolutas, que estão a um pulo do fanatismo. E o fanatismo, bem, o fanatismo é burro.

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

14 comentários

      1. Ah! esqueci-me! “O Teu Espaço Termina Quando Começa o Meu.” começa no lar de cada um de nós!

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  1. Boa filosofia, Cris. A essência do que escreveu está numa simples frase de Sócrates: “Só sei que nada sei” (ou algo assim, em grego antigo).Foi o precursor dos que sabem que o verdadeiro sábio é aquele que se reconhece como um eterno aprendiz. Como no livro da Sandra Starling disponível em PDF na biblioteca deste blog.

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