
Minha sobrinha acaba de fazer três anos de idade.
Ela se acha tão grande e velha e adulta, do alto desses três anos, que toda hora solta a pérola: “Quando eu era pequena…”.
Mal sabe ela…
Por outro lado, eu me achava uma adulta aos 18, quando comecei meu primeiro emprego com carteira assinada e, com meu primeiro salário, me inscrevi na auto-escola e já comecei a juntar dinheiro pra pagar meu carro.
Depois me achei infinitamente mais adulta aos 22, quando vim morar sozinha em São Paulo, encarando esta Terra Cinza sem praticamente nenhum amigo por perto, tendo que pagar todas as contas, mudar de emprego pela segunda vez, literalmente me virar em todos os aspectos da vida.
E hoje acho que eu era tão novinha aos 22! Um bebê aos 18!
Do alto dos meus 26, quase morrendo de dor nas costas, com os cabelos brancos começando a pipocar, e pensando frequentemente que já está na hora de tirar um mês de férias, eu me acho uma verdadeira idosa.
(E fico pensando o que meus pais, com mais de 60, pensam desse meu pensamento. Ou mesmo meus irmãos, com mais de 30.)
A vida é essa coisa relativa sob todos os aspectos, em que ninguém é 100% feio nem 100% bonito, nem 100% chato ou legal, nem talentoso em tudo nem incompetente em tudo (nem tão confiável ou leal, como aprendi na marra em relação a alguns amigos e amores).
E o quanto antes percebermos isso, melhor saberemos lidar com essa joça em que fomos jogados pelas forças atômicas. Por isso, quando minha sobrinha ainda tinha dois aninhos (e “era pequena”), dei a ela um livro que tentava mostrar que nada é tão grande ou tão pequeno quanto se pensa à primeira vista. Ela não deve ter aprendido a lição…
O importante é lembrarmos vez por outra: somos uma inconstância irreparável, a instabilidade de uma relatividade eterna, sem conserto, sem jeito. E nunca teremos a sabedoria necessária para observar nossa situação atual de forma neutra, em toda a sua dimensão real.
(E sempre estaremos jovens demais para morrer, isso é a única certeza que temos!)
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Cris, faltou contar de seu sobrinho Antônio, devolvendo ao pai que dizia a ele que, por ser pai, precisava cuidar dele: “Pai! Não precisa cuidar de mim: eu já tenho quatro anos!” Sobre ser talentoso, é interessante esse diálogo em “Do outro lado do rio, entre as árvores”, de Hemingway: “Não tem escrito mais poemas?” “Eram poemas de menina. Como a pintura juvenil. Em determinada idade, toda gente gente tem certo talento para tudo”. Espero que você não desista nunca de escrever poemas…
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Pois é, eu ia terminar o post falando que, por mais velha que ficasse, não queria perder nunca o meu jeito de criança.
(Mas minha memória de velha me atrapalhou, porque fiquei uns 15 minutos tentando lembrar qual era o fechamento do texto e, sem conseguir, soltei aquela sobre sempre ser cedo demais pra morrer)
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pois é cris, já tenho mais de 30 como vc disse, mas ainda me sinto novinha em folha rsrsr. nós somos o que queremos ser, né!
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Pois é: eu quero ser criança pra sempre!!! 😀
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Brinco com minha mulher, (estamos casados há 35 anos) que ela é bem mais velha que eu e ela responde, ora, seis meses não é nada, digo-lhe, então, fique com dor de dente, com nervo exposto, por seis meses, depois me conte! Óia a maldade, sô!!!! Mas só falo isso, agora, porque nossa unidade de contagem de tempo é século (1/2 século, a caminho de 3/4…rsrsrs). Já foi hora, dia, meses, ano….
Assim é a vida, a única coisa absoluta é a relatividade.
Abraços, Cristina.
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Esse exemplo do dente foi ótimo pra ilustrar como tudo é relativo! 😉
abraços
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