Cenário com Marina: nem uma coisa, nem outra

Andei fazendo chutes aqui no blog, sempre com a ressalva de que ainda havia muitas jogadas pela frente, no tabuleiro de xadrez das eleições. Hoje, com a divulgação da primeira pesquisa de intenção de voto após a morte de Eduardo Campos e a entrada de Marina Silva no páreo, podemos fazer análises mais concretas, com menos achismos.

Primeiro: minha hipótese de que Marina tiraria votos de Aécio Neves não se confirmou nos resultados desta pesquisa. Mas a hipótese que trouxe para cá como contraponto, do leitor Alex Sousa, tampouco se confirmou: ela também não tirou votos de Dilma, neste primeiro momento. O que a pesquisa trouxe é que Dilma e Aécio não arredaram pé de seu eleitorado conquistado até julho: respectivamente, 36% e 20% para a petista e para o tucano.

Enquanto isso, a coligação de Marina Silva cresce para 21% (empate técnico com Aécio), abocanhando os seguintes eleitores:

  • os 8% que estavam com Eduardo Campos,
  • 3% dos que iam votar em candidatos nanicos (especificamente Luciana Genro, Ruy Costa Pimenta e Eymael, que são claramente “votos de protesto”),
  • 5% dos que iam votar branco ou nulo e
  • 5% dos que estavam indecisos até julho

Eu não errei 100%, porque também imaginei que ela ficaria com os votos de Campos e com parte boa dos indecisos. Também acertei ao falar da migração de votos de evangélicos: em julho, Eduardo Campos tinha 6% dos votos de evangélicos pentecostais e 12% dos não pentecostais; agora Marina tem impressionantes 24% e 27%, respectivamente. Mas, por enquanto, ela nem tocou no pessoal que está fechado com Dilma e com Aécio. Talvez nunca toque. Ainda há 17% de brancos, nulos e indecisos para alimentar as campanhas, inclusive a de Marina.

Votos por regiões

Agora vale uma análise regional, que ainda não vi nos veículos que cobriram a pesquisa Datafolha até o momento.

Analisando apenas a pesquisa estimulada (quando o pesquisador fornece os nomes dos candidatos), temos o seguinte:

NORDESTE (região natal de Eduardo Campos)

  • Em julho, Dilma tinha 49% dos votos do Nordeste; agora caiu para 47%
  • Aécio tinha 10%, subiu para 12%
  • Eduardo Campos tinha 12%, Marina tem 20%
  • Pastor Everaldo tinha 4%, caiu para 2%

À primeira vista: Marina ou Aécio podem ter pegado votos de Dilma

SUDESTE (região de Dilma e de Aécio)

  • Em julho, Dilma tinha 28%, subiu para 29%
  • Aécio tinha 27%, caiu para 24%
  • Eduardo Campos tinha 6%, Marina subiu para 22%
  • Pastor Everaldo tinha 4%, caiu para 3%

Marina parece ter conquistado mais votos de eleitores do Aécio, já que Dilma cresceu

NORTE (região de Marina)

  • Em julho, Dilma tinha 46%, subiu para 50%
  • Aécio tinha 15%, subiu para 16%
  • Eduardo Campos tinha 8%, Marina tem 16%
  • Pastor Everaldo tinha 4%, segue em 4%

Marina parece ter pegado votos do Aécio, que só subiu 1 p.p, já que Dilma subiu 4 p.p

SUL

  • Em julho, Dilma tinha 36%, caiu para 34%
  • Aécio tinha 18%, subiu para 19%
  • Eduardo Campos tinha 6%, Marina tem 18%
  • Pastor Everaldo tinha 1%, subiu para 3%

Marina e Everaldo pegaram votos de Dilma

CENTRO-OESTE

  • Em julho, Dilma tinha 32% e caiu para 28%
  • Aécio Neves tinha 24%, subiu a 27%
  • Eduardo Campos tinha 7%, Marina tem 25%
  • Pastor Everaldo tinha 4%, caiu para 2%

Aécio e Marina pegaram votos de Dilma e de Everaldo

Pela análise regional, Marina conquistou votos de Aécio no maior reduto eleitoral do país, o Sudeste, que é a região onde tanto Aécio como Dilma nasceram, mineiros que são. Mas, em outras regiões, Marina colheu mais votos de Dilma e também alguns dilmistas parecem ter decidido votar em Aécio.

Essa primeira pesquisa foi feita no calor da morte de Eduardo Campos, num momento de grande comoção nacional e antes mesmo de Marina ser oficializada como candidata pelo PSB, o que só vai acontecer na quarta-feira (20). Por isso, é um retrato ainda bastante inicial, que deve sofrer grandes modificações até outubro. Ou seja, o cenário eleitoral continua imprevisível. Mas é interessante pensar que, neste primeiro momento, desenha-se um segundo turno com Dilma e Marina — algo que parecia inimaginável num país tão polarizado entre petistas e tucanos. Vamos ver como serão os próximos lances deste imenso tabuleiro de xadrez 😉

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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