Você trabalharia de graça? E por 15 anos?

Em clima de Oscar, fui olhar no blog quantos posts sobre filmes eu já fiz e fiquei impressionada: mais de 400. Faço uma cobertura para o meu blog da maior premiação do cinema mundial, com maior ou menor intensidade, desde 2011. Ou seja, há 15 anos. Já fiz resenhas da maioria dos filmes indicados nas principais categorias. Para escrever algumas delas, levei várias horas, fazendo pesquisas, coletando informações, colocando muitos links para quem quisesse se informar melhor, escolhendo as melhores fotos.

E sabem quantos mil reais recebi por esses anos todos de trabalho? ZERO.

Isso mesmo, nunca ganhei nenhum centavo por meu trabalho de escrever sobre filmes. Pelo contrário, tive muuuuuitos gastos, já que não tenho carteirada para assistir às pré-estreias de graça, nem tenho carteirinha de estudante há muito tempo, então pago com meu dinheiro os ingressos cada dia mais caros de cinema (fora a pipoca, que não resisto 😁).

Mas meu blog é um blog-hobby, como eu sempre falo por aqui. Já são mais de 3 mil posts aqui, também com resenhas de livros, de viagens, com dicas de maternidade, com reflexões, análises políticas, uma penca de trabalho e de horas dedicadas, desde 2011, contando só com a ajuda do meu pai, que já fez 461 posts nesses anos.

E por que você se dedica tanto ao blog, Cris? O que você ganha com isso? De novo: dinheiro não é. Reconhecimento? Também quase nenhum, porque meu blog não é daqueles que aglomeram milhares de fãs nem nada disso. Sabem o que eu ganho? Alívio.

Sim, porque eu PRECISO escrever. Outro dia eu estava comentando com uma amiga que não sei como suporto a vida adulta sem tomar remédios, usar drogas, fumar, ter religião, acreditar em horóscopo ou ter outra válvula de escape maluca como a maioria tem. E ela disse: você escreve.

Verdade, escrever é minha válvula de escape. Eu nunca parei de escrever. Meu blog sobreviveu firme e forte mesmo quando eu estava trabalhando na Folha de S.Paulo, na Globo, n’O Tempo, trabalhando em qualquer dos mil lugares por onde passei como jornalista. Nunca me autocensurei e nunca me impedi de escrever sobre o que quer que estivesse passando pela minha cabeça nesses anos todos.

E escrever sobre os livros e filmes que mais me marcaram – como o precioso “Ainda Estou Aqui“, que acaba de se tornar o filme mais importante da história do cinema brasileiro – é, para mim, uma NECESSIDADE. Outros trabalhos pagam minhas contas; meus textos no blog são um tipo de trabalho diferente, que se paga de outras formas, principalmente apagando o fogo da escrita que me ataca diariamente por dentro.

Então, respondendo à minha própria pergunta do título deste post: sim, eu trabalharia de graça. Não daquele jeito com que trabalhei quando levei calote de uma empregadora. Nem com qualquer tipo de trabalho. Nem sob qualquer circunstância. Mas vocês ainda vão ver muitos textos meus por aí, com incalculáveis horas de dedicação, e seguirei ganhando zero mil-réis por eles – mas me sentindo riquíssima 🧡

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