Texto escrito por José de Souza Castro:
José Lino Souza Barros, que morreu nesta segunda-feira (30) em Belo Horizonte, aos 86 anos, de complicações renais, foi o maior radialista de sua geração em Minas.
Quando eu trabalhava na sucursal mineira do “Jornal do Brasil” e fazia as pautas diárias, deixava a Rádio Itatiaia, onde ele trabalhou por 64 anos, constantemente ligada. De lá podiam sair boas dicas, alguns furos – e furadas.
Por muitos anos ainda, não perdi o hábito de ouvir, sempre que podia, a Itatiaia e principalmente o programa Rádio Vivo, apresentado por José Lino por longos 45 anos. Ele começou a ser conhecido em Minas como locutor esportivo.
Como lembra a Itatiaia, José Lino foi o primeiro a falar da Europa, ao vivo, por satélite, para o continente americano. Ele transmitiu por telefone, em setembro de 1965, a inauguração do Mineirão. E narrou os jogos do Brasil na Copa do Mundo no México, em 1970, quando nossa seleção se tornou tricampeã.
Mas nunca se limitou ao esporte que, ao lado da política, era o ponto forte da Itatiaia, fundada por Januário Carneiro em 1952, cinco anos antes de contratar o locutor José Lino.
Tanto que, em 1971, quando ocorreu o desastre do Pavilhão da Gameleira, em construção, matando dezenas de operários, ele saiu às pressas para cobrir a tragédia. Como o motorista da redação tinha saído para almoçar, ele pegou a chave da Kombi e foi dirigindo até lá, para contar a história e cobrar providências para o socorro.
Foi ouvindo a Itatiaia em março de 1992, quando eu era repórter na sucursal do Globo, que ouvi sobre um grande deslizamento de terra na Vila Barraginha, em Contagem. Fui para lá com o fotógrafo Antônio Lara. No local onde antes havia cerca de 150 barracos, via-se apenas terra, que sepultara tudo, e alguns soldados do corpo de bombeiros tentando desenterrar vítimas.
Também foi com a ajuda da Itatiaia que a redação mineira levou o JB a dar um furo de reportagem, publicando que Tancredo Neves fora eleito governador de Minas. São histórias que conto no livro “Sucursal das Incertezas“, disponível na Biblioteca do Blog.
Por isso, sou grato a Januário Carneiro, que impulsionou o jornalismo na Itatiaia, levando-a a ser a rádio mais ouvida em Minas.
Quando os herdeiros de Januário venderam em 2021 a rádio ao empresário Rubens Menin, que comprou também as afiliadas em Ouro Preto, Juiz de Fora, Montes Claros e Varginha, este informou que a Itatiaia tinha audiência de 900 mil ouvintes por dia, além de mais de 1 milhão de seguidores no Twitter.
Curiosamente, não tenho ouvido a Itatiaia e não sei se o dono da rádio e da TV CNN Brasil – e de um grupo de empresas que inclui a Construtora MRV e o Banco Inter – soube tirar proveito desse sucesso. Nem sei se o programa Rádio Vivo, do qual José Lino se despediu no dia 15 de novembro de 2021, continua no ar.
O corpo desse radialista nascido em Patos de Minas, mas que viveu por mais de 80 anos em Belo Horizonte, está sendo velado na Câmara Municipal, onde foi vereador por 10 anos. Será sepultado nesta terça-feira (31) no Cemitério de Bonfim. Deixa viúva Ana Cristina Novato e dois filhos.
Relembre outros nomes do jornalismo que nos deixaram:
- José Maria Mayrink (1938-2020)
- Ricardo Boechat (1952-2019)
- Paulo Henrique Amorim (1943-2019)
- Dídimo Paiva (1928-2019)
- Clóvis Rossi (1943-2019)
- Alberto Dines (1932-2018)
- Paulo Nogueira (1956-2017)
- Jorge Bastos Moreno (1954-2017)
- Mazico (1940-2014)
- Santiago Andrade (1964-2014)
- Fritz Utzeri (1945-2013)
- Baixe gratuitamente o livro “Sucursal das Incertezas“, de José de Souza Castro, com histórias do jornalismo brasileiro e mineiro
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