Brasil de Bolsonaro é o mesmo da ditadura: veja charges de Ziraldo

Nesta segunda-feira, 24 de outubro, Ziraldo, um dos grandes gênios que já passaram pelo Brasil, completou 90 anos.

Inspirada pela efeméride, fui reler o livro “Só dói quando eu rio”, que traz as charges que ele fez no “O Pasquim” durante a ditadura militar.

E fiquei impressionada/horrorizada com o tanto que o Brasil de hoje está parecido com aquele dos anos 70 a 80.

Capa do livro de Ziraldo 'Só Dói Quando eu Rio'.
A capa do livro

Vivendo a História, muitas vezes não temos o distanciamento necessário para perceber esse tipo de coisa. Mas é chocante o retrocesso em todos os aspectos: político, econômico, social, intelectual e moral.

Acho que a única diferença são as armas usadas pelos fãs da ditadura de hoje, que encontram nas redes sociais ferramentas muito mais eficazes para fazer uma lavagem cerebral rápida.

Em poucos meses e até semanas, vi pessoas inteligentes virarem fanáticas sem nenhum senso crítico mais, totalmente incapazes de pensar, checar informações, duvidar de mentiras, ainda que totalmente descabidas.

O chargista Duke relembra arte de Ziraldo, de muitos anos antes, com a frase "Só dói quando eu rio".
Duke relembra Ziraldo nesta charge de 2020 e mostra que ele continua mais atual que nunca.

Mas o motivo por trás dessa irracionalidade é o mesmo de 50 anos atrás: o medo. O bolsonarismo, assim como os ditadores militares daquela época, jogam com a irrealidade do medo em sua propaganda, que usa tática nazista, para convencer o povo a apoiar qualquer coisa – inclusive a redução do salário mínimo e da aposentadoria (o empresariado gargalha).

Medo de quê? De coisas vagas e que nunca estiveram na pauta da esquerda, como a “destruição da família”, “ideologia de gênero”, “liberação das drogas”, “dominação comunista” etc.

Revisitar estas charges de tantos anos atrás é muito didático, especialmente para pessoas como eu, que não vivi na ditadura militar (nasci no ano da redemocratização: 1985).

Está tudo lá (de novo):

  • a violência exacerbada da extrema-direita (hoje representada pelos bolsonaristas, como Roberto Jefferson),
  • as famílias rachadas ao meio pela impossibilidade de um diálogo,
  • as ameaças, existentes apenas no discurso da extrema-direita, de “destruição da família”,
  • a miséria no Brasil,
  • o uso (distorcido e abusivo) do discurso religioso,
  • o Brasil agonizando em busca da democracia,
  • o discurso vazio de comparação com países vizinhos (hoje é a Venezuela, na época, o Uruguai),
  • o ressurgimento do nazismo etc.
Charge de João Montanaro mostra uma granada e a frase: "Isso não é uma democracia". Em referência ao dia em que Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro, atirou uma granada contra policiais federais que foram cumprir um mandado judicial contra ele.
Mesmo em prisão domiciliar, o bolsonarista Roberto Jefferson tinha granadas e fuzis em casa! Charge de João Montanaro na “Folha de S.Paulo” de 24/10/2022.

Como escreveu meu pai, ao indicar a leitura deste livro aqui no blog, em 2020:

“A leitura desse livro – que deveria ser relançado – faz muita falta aos que, em tempos do capitão Bolsonaro, têm saudades da ditadura. Por esquecimento ou desconhecimento.”

Faz falta mesmo. Muita gente que diz que a ditadura militar foi um período incrível da história do Brasil simplesmente não sabe o que ocorreu nesse período. Revisitá-lo, por meio das charges aguçadas e críticas de Ziraldo, é necessário.

20 charges que Ziraldo fez durante a ditadura militar

Segue abaixo uma seleção de 20 charges que fotografei ontem, na minha releitura desse livro de Ziraldo, e que acho que conversam bastante com os tempos de hoje (clique sobre qualquer imagem para ver todas em tamanho maior):

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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