Crônica enviada por leitor: ‘Os Invisíveis’
Texto escrito por Carlos Seixas, 58, amazonense, poeta e funcionário público, que hoje mora no Recife (PE):
Os Invisíveis. Não se trata do título de um filme. Nem tampouco do nome de um desenho animado. É vida real.
Após deixar minha filha no colégio em que ela estuda, em Recife, rumei para a labuta diária. No caminho, havia várias pedras. Mas não sou Carlos Drummond, sou apenas Seixas. Não podia poetizar mineiramente, mas, como sou do mundo – em alemão, meu nome significa homem do povo –, não pude deixar de perceber os invisíveis.
Dois seres humanos fazendo o trabalho de varrição, portando um uniforme de firma contratada pela prefeitura da cidade. Dei bom dia e perguntei, a um deles, desde que horas estava ali fazendo aquele digno trabalho. Com o suor escaldante escorrendo pelo rosto, respondeu: “Desde as 6h e aproximadamente 40 minutos”. Quanta gramática natural naquela voz suave, porém cansada.
E segui caminho. Mais pedras surgiriam na minha rica retina. Na minha frente um carro com a placa de letras que não lembro. Mas os algarismos, sim: 0007. Nada mais adequado ao momento. Já deu pra perceber que eu estava dirigindo um automóvel, ou não? Bom, aquela sequência numérica me encantou. Remeti-me aos aventurescos filmes de James Bond, o agente 007, da gloriosa Corte Britânica. Um herói europeu: bonito, elegante, sedutor.
Já eu, um pouco sonolento, pois não havia dormido o suficiente na noite anterior, tive um “estalo”: que engraçado, herói daqui, herói de lá; um do terceiro mundo e outro do primeirão. Qual deles vocês prefeririam? Eu, os dois. Vocês? Não sei.
Mas vou dizer uma coisa: é ano de eleição para prefeito e aqueles seres invisíveis, se não me engano – creio eu –, pois de política moderna não entendo nada, se tornarão bem visíveis, sorridentes e pós-modernos. Serão heróis na nossa política cambaleante.
E, para dormir em paz, fico imaginando Aristóteles se remexendo em seu túmulo, mesmo sem poder ver em qual política se transformou a sua, idealizada há muito tempo. Há muito tempo mesmo.
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Cristina Moreno de Castro Ver tudo
Mineira de Beagá, jornalista, blogueira, poeta, blueseira, atleticana, otimista, aprendendo a ser mãe. Redes: www.facebook.com/blogdakikacastro, twitter.com/kikacastro www.goodreads.com/kikacastro. Mais blog: http://www.otempo.com.br/blogs/19.180341 e http://www.brasilpost.com.br/cristina-moreno-de-castro