Texto de José de Souza Castro:
A economia é um assunto muito sério para deixá-lo entregue aos economistas. E tampouco ao Partido Republicano, como se vê no artigo anterior publicado por este blog. Já os economistas, diz o físico Fritjof Capra em O ponto de mutação, de um modo geral eles não reconhecem que “a economia é meramente um dos aspectos de todo um contexto ecológico e social: um sistema vivo composto de seres humanos em contínua interação e com seus recursos naturais, a maioria dos quais, por seu turno, constituída de organismos vivos”.
Maurício Roscoe, um engenheiro e empresário mineiro, cita Capra no livro que ele estava escrevendo há quatro anos, com o título de “Evolução – Metodologias que a vida usa”. Se não concluiu ainda o livro, precisa fazê-lo – e publicar. É um livro importante e que, obviamente, não trata apenas de economia.
O autor começou a se interessar por economia no fim do curso de Engenharia Civil na Universidade Federal de Minas Gerais, quando leu, por indicação de um colega, “A Arte de Ler”, de Mortimer Adler, professor da Universidade de Chicago, que relaciona cem livros que é preciso ler. Entre eles, um livro de John Maynard Keynes, com o qual o economista britânico pretendia quebrar paradigmas já obsoletos mas ainda amplamente aceitos pelos colegas. Tentando vencer a barreira mental do leitor educado com outras idéias, inventou palavras que não existiam e “expôs idéias relativamente simples de maneira tão complexa que o livro ficou muito indigesto”, observou Roscoe em seu livro.
Não é de estranhar, portanto, que poucos economistas tenham lido de fato os livros de Keynes, embora muitos o citem, mesmo assim.
Em 1977, Maurício Roscoe presidia a Câmara Brasileira da Indústria da Construção e teve oportunidade de conversar com o ministro da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, que se interessou por suas ideias para lidar com o problema da inflação. “No fim, ele pediu a Mário Henrique Simonsen que me recebesse, e ele o fez, mas dez minutos depois minhas explicações foram interrompidas, pois o ministro da Fazenda fora chamado pelo presidente Geisel. Publiquei então um livreto com o título de “Anotações sobre a inflação brasileira”, e enviei um exemplar ao Golbery, ao Simonsen e a todos os economistas que eu conhecia na época. Houve uma repercussão, mas ela foi relativamente pequena, e também não insisti em badalar a idéia.”
Roscoe tocou a vida, fez sucesso como empresário, se aposentou e, ao se dedicar a escrever um livro, lembrou-se daquele episódio. Talvez se suas ideias tivessem sido aceitas e postas em prática, certamente teríamos hoje um país muito mais rico. “O nível de desemprego registrado em todos esses anos que se seguiram ao Governo Geisel poderia ter sido menor ou nem ter havido”, gosta de pensar. Mas, como fazer com que economistas aceitem as ideias de um simples engenheiro?
Ele achava, por exemplo, que o governo deveria fixar os limites máximo e mínimo do diferencial ou amplitude dos juros bancários. Ou seja, a diferença entre a taxa cobrada do tomador de empréstimos e a taxa paga ao depositante. Escreveu Roscoe: “Este diferencial é que mede a eficácia do sistema bancário como um todo. Quanto menor o diferencial, maior a eficácia do sistema. Note-se que, havendo estímulos à poupança, os volumes de depósitos aumentarão e os bancos serão beneficiados mais pelo aumento do volume de negócios que simplesmente pelo aumento do diferencial dos juros.”
Passado tanto tempo, fica claro que o engenheiro pregava no deserto (como demonstram as sucessivas crises do sistema financeiro e da própria economia mundial), mas seria muito bom que ainda fosse ouvido. Pois a economia não pode ser deixada apenas nas mãos dos economistas – e dos políticos.
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Minha preocupação de leigo com o estado da economia ganhou hoje um reforço com o artigo do ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira na Folha de S. Paulo sobre a formação de economistas brasileiros. Quem tem acesso ao sítio do jornal, pode ler a íntegra aqui: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0108201107.htm Transcrevo o início:
“DE QUE tipo de economistas o Brasil precisa? De economistas que pensem de acordo com os problemas e interesses nacionais ou conforme a agenda e os interesses dos ricos?
Faço essa pergunta ao verificar que hoje o padrão de qualidade do ensino e da pesquisa aceito pela “comunidade acadêmica” é definido pelas revistas estrangeiras.
Ao fazermos isso, estamos formando professores e pesquisadores alienados dos interesses nacionais, estamos praticando uma violência contra a nação brasileira.
Para que uma nação seja forte, precisa dominar a ciência e a tecnologia, o que permitiu que os primeiros países que se industrializaram se tornassem ricos e poderosos.”
Outro trecho do artigo, convenientemente intitulado “O colonialismo cultural”:
“Se a teoria econômica fosse uma ciência natural e exata como é a física, não haveria problema aí. Mas a economia é uma ciência social, é uma ciência que busca compreender como as sociedades modernas produzem e distribuem riqueza.
É uma ciência imprecisa porque os homens não são autômatos previsíveis e é sempre marcada pela ideologia, pois os interesses que envolve são muito grandes.
Pretender transformá-la em uma ciência matemática é pura arrogância, o que leva à desregulamentação dos mercados e abre espaço para baixo crescimento e crises.
A economia é uma ciência que sempre refletiu interesses nacionais. E os países ricos sempre a usaram para “empurrar a escada” dos retardatários, ou seja, para convencê-los a adotar políticas que consultam seus interesses nacionais.”
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