Economia maluca

Charge genial do Laerte, publicada na Folha deste sábado.

Texto escrito por José de Souza Castro:

“O Partido Republicano enlouqueceu após processo de décadas, e não sofre nenhuma pressão para demonstrar racionalidade”, escreveu neste fim de semana o economista Paul Krugman, colaborador da “Folha de S. Paulo”. Mas a loucura, inquestionável, não se abate apenas sobre o partido preferido pelos ricos nos Estados Unidos – e pela elite econômica brasileira e no resto do mundo.

Essa é a impressão que fica ao ler o artigo de Gregory Elich, divulgado hoje pelo Sinpermiso. Para quem não sabe, Elich é autor do livro “Strange Liberators: Militarism, Mayhem, and the Pursuit of Profit” e membro do Conselho de Administração do Instituto de Pesquisa Jasenovac e do Conselho Consultivo da Comissão de Verdade Coréia. A íntegra pode ser lida aqui: http://www.sinpermiso.info/textos/index.php?id=4310. Vou resumir.

Um por cento da população dos Estados Unidos embolsa quase 25% da renda nacional e detém 40% da riqueza do país. Mas eles acham que não é o bastante. E veem como oportunidade a crise do sistema financeiro mundial, reforçada, em setembro de 2008, pela falência do banco Lehman Brothers.

Uma oportunidade para formatar o modelo econômico dos Estados Unidos nos moldes do Terceiro Mundo: uma enorme riqueza e grandes privilégios para a minoria rica e desemprego e salários baixos para o resto da população, sobretudo a população negra.

Enquanto isso, o presidente Obama permitiu que não fossem extintos os cortes de impostos pagos pelos ricos, instituídos no governo Bush. Parte desses cortes foi estendida até 2020, resultando numa elevação, em mais 3,3 trilhões de dólares, da dívida nacional. E não bastassem os 3,2 trilhões de custos das guerras herdadas do governo republicano, no Iraque e Afeganistão, o presidente democrata desfechou mais uma guerra, contra a Líbia.

Não é coisa de doido?

Mas os dirigentes e acionistas das grandes corporações multinacionais com sede nos Estados Unidos estão no sétimo céu. A renda anual média dos CEOs – os presidentes executivos das grandes empresas – elevou-se para cerca de 9 milhões de dólares. Essas corporações cortaram 2,9 milhões de empregos em dez anos, até 2009, em território norte-americano (onde o trabalhador ganha em média oito dólares por hora) e criaram 2,4 milhões em outros países, onde pagam bem menos (na Indonésia, por exemplo, 50 centavos de dólar por hora trabalhada).

Isso pode ser ruim para a economia do país? Sem problema: aquelas corporações mantêm em caixa reservas de 1,9 trilhão, a título de seguro contra algum problema. Se mesmo assim, o problema continuar, está aí o governo para resolver. Nessa loucura toda, ninguém dá a mínima para as teorias econômicas de Ford, que pregava pagar bem aos empregados para criar mercado, e muito menos para o economista britânico John Maynard Keynes, autor de “The General Theory of Employment, Interest and Money”, que inspirou o governo Franklin Delano Roosevelt a lançar o New Deal, programa que tirou o país – e o mundo – da Grande Depressão, há nove décadas.

No fundo, todos estão fascinados – a prova definitiva da loucura coletiva – com a queda de braços entre democratas e republicanos. Quem vencer, vai entrar para a história como aquele que conduziu os Estados Unidos à bancarrota.


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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

1 comentário

  1. O país pode ir à bancarrota e, pelo jeito, irá e com ele a imensa parcela dos trabalhadores, mas o infima parcela dos detentores da renda e da riqueza vai aumentar ainda mais, uma e outra.
    O ser humano conhece, e bem, apenas o limite inferior de sua dignidade, definido pela linha que separa estes daqueles em estado de necessidade. Mas não conhece e nem sequer experimentou um limite superior, linha acima da qual não se acrescentaria qualquer benefício ao homem assim classificado por sua opulenta riqueza. Por isso, nem mesmo o céu é o limite, nada segura a ganância voraz destas pessoas, que preferem ser soberano em terras devastadas à viver numa democracia econômica. Ser cabeça em rato à ser juba em leão.
    Muitos sabemos a solução, mas nenhum sabe como implementá-la.
    Parabéns pelo belo artigo, José.
    Abraços.

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