Não deixe de assistir: Mickey 17
2025 | 2h17 de duração | Classificação: 16 anos | nota 10
Eu já imaginava que ia gostar de “Mickey 17” desde que vi o trailer pela primeira vez. Afinal, foi o primeiro filme de Bong Joon Ho desde o sensacional Parasita (2019), que levou nada menos que os quatro Oscars mais importantes do ano seguinte: melhor filme internacional, roteiro original, direção e melhor filme do ano. Nuh! 😀
Mas não achei que fosse gostar TANTO. Se Parasita me deixou tensa do início ao fim, me impedindo de curtir o lado cômico do que foi rotulado como “tragicomédia” por seu diretor e roteirista, e me levou a parar na nota 9, Mickey 17 me divertiu imensamente, do início ao fim, e saí do cinema sem outra opção que dar uma nota 10 para este filmaço.
O diretor e roteirista sul-coreano parece ter decidido abraçar a comédia de vez, ainda que sem perder a chance de tecer uma crítica social mordaz, como havia feito no filme-prodígio anterior.
Temos aqui um misto de ficção científica, realismo fantástico, aventura e comédia, mas também uma baita sátira política.
Mickey Barnes é um sujeito num futuro distópico, que está encrencadíssimo nas mãos de um agiota sádico quando resolve se alistar para uma missão espacial bancada pelo bilionário excêntrico, derrotado nas últimas eleições, que tem o nome de Kenneth Marshall. Poderia ser chamado de Donald Trump ou Elon Musk? Sim, poderia.
Assim como o dono da Space X quer levar as pessoas a Marte na vida real, sua caricatura no filme está levando as pessoas em uma expedição para colonizar o planeta fictício de Niflheim – que, não por acaso, é o nome de uma terra da mitologia nórdica formada por neve, gelo e frio.
E, assim como outros bilionários da vida real, Marshall é um completo idiota e autoritário, que insufla o culto à personalidade como os piores ditadores, da História ou da ficção, souberam fazer. Em algumas cenas, ele faz lembrar a figura de Hitler, inclusive sendo sempre acudido por um assistente bajulador que faz as vezes de Goebbels, ao arquitetar a narrativa de sua propaganda.
Pra piorar, também como muitos dos lunáticos da vida real, ele usa a fé das pessoas, ou seu fanatismo religioso, para se fortalecer.
Dito assim poderíamos pensar que o filme é deprimente, já que tudo isso o que vivemos em nossa História, com esses ditadores malucos e bilionários psicopatas, é extremamente deprimente. Mas, não. Na pele de Mark Ruffalo (um dos melhores atores de sua geração, já indicado a quatro Oscars), nos divertimos com a boçalidade do personagem Kenneth Marshall. Fica fácil demais torcer contra ele e sua cara de nojo permanente.

Sua esposa no filme é Ylfa (a escolha de um nome desses não pode ser coincidência, né), que faz o papel do cérebro por trás do marido, e também é interpretada brilhantemente pela sempre ótima Toni Collette, outra do elenco que já foi indicada ao Oscar no passado, por “Sexto Sentido”.
Os dois merecem novas indicações em 2026, assim como a maravilhosa Naomi Ackie, que faz a namorada de Mickey, e Steven Yeun (de Minari), que faz seu amigo.
Mas, sem dúvida, é a atuação de Robert Pattinson que rouba a cena.
O personagem que ele faz é complexo: para conseguir uma vaga na missão espacial e tentar fugir do agiota, ele concorda em se tornar um “dispensável”, um sujeito que vai morrer inúmeras vezes, para proteger os outros na missão, e, a cada morte, terá um clone gerado por uma impressora especial, com todas as memórias e a personalidade perfeitamente preservadas (ou não).

Pattinson tem que interpretar várias facetas de um mesmo Mickey, até chegar ao número 18, que passa a conviver com o sobrevivente 17. Além disso, ele é o (ótimo) narrador em primeira pessoa do filme. Não se preocupem, não estou dando spoiler. Tudo isso é mostrado no trailer. O rolo que surge a partir de todos esses Mickeys e dos outros personagens – não mostrado no trailer – é que traz a graça e o frescor ao filme, e nos dá a sensação de nunca termos visto nada igual.
Pattison não só merece o Oscar de melhor ator, mas também de melhor ator coadjuvante, como bem disse o cineasta Park Chan-wook: “Aos membros da Academia, por favor, deem a Robert Pattinson os prêmios de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante. Deem a ele os dois!” Seria algo inédito, mas justíssimo.
A verdade é que saí da sala de cinema com um grande UAU! refletido no meu sorriso, e matutando mil coisas sobre o filme. Porque, sim, ele é uma comédia, tem muita leveza, diverte demais, mas também faz pensar, é denso, sarcástico pra caramba.
Como eu já disse, aborda desde fanatismo religioso até autoritarismo político, passando por um tema nunca resolvido na história da humanidade: colonização (e, consequentemente, GUERRA). Além disso, nos faz pensar em exploração no trabalho, estratificação social, comparação, respeito às diferenças e em como uma só pessoa pode comportar várias personalidades. É um filme com muuuuitas camadas.
Baita roteiro adaptado, baita montagem, baita direção, direção de arte, efeitos visuais incríveis… Sem dúvida não faltam categorias nas quais Mickey 17 possa estar no páreo no próximo Oscar.
Só espero que esse UAU! que eu senti seja forte o suficiente para continuar nas cabeças e corações de todos na Academia, já que vai levar quase um ano até que os nomeados de 2026 sejam divulgados – e o único defeito de Mickey 17 foi o péssimo timing de seu lançamento.
Assista ao trailer de Mickey 17:
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Taí um filme que eu gostaria de ver.
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Acho que vc ia gostar também! 😀
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