‘Parasita’: uma tensão permanente
Vale a pena assistir: PARASITA (Gisaengchung)
Nota 9
Quando os “parasitas” da história dão início a seu plano, a gente já começa a sofrer de ansiedade. E olha que isso é bem no início do filme. Ficamos as duas horas seguintes pensando: “Vai dar merda”.
E este é o maior trunfo do longa do sul-coreano Bong Joon Ho: ele nos segura o filme inteirinho, com a respiração presa e o coração na mão.
Não ficamos exatamente torcendo pela família mais pobre. Tampouco torcemos contra eles. Como disse o diretor em uma declaração, o filme é uma “tragédia sem vilões”. Ninguém ali é um monstro, querendo fazer mal aos outros. Mas há um sistema cruel, muito cruel, que faz com que “parasitas” convivam com outras pessoas em condições de extremo luxo e conforto.
Na verdade, o diretor disse que o filme é uma tragicomédia. Para ser sincera, não consegui enxergar os elementos de comédia que ele pretendeu pôr em seu genial roteiro. Há alguns momentos de leveza, mas, como eu já disse, o filme inteiro é uma grande tensão.
A tensão provocada pela mentira – que pode ser desmascarada a qualquer momento. A tensão provocada pelo contraste entre uma grande riqueza e uma miséria enorme. A tensão entre aqueles que sonham alto e os que não fizeram nada de ruim para merecer serem prejudicados por esse sonho.
É uma tensão parecida com muitas outras que a gente vive em nossos cotidianos. Hoje, mais cedo, passei por uma construção de um prédio de grande luxo. No tapume, há uma imagem de como ficará o prédio: mais de 300 metros quadrados por apartamento, quatro vagas na garagem, varanda gourmet etc. E ali, ao lado da foto ilustrativa, debaixo do vão da obra, dormia um mendigo, protegendo-se da chuva que vem alagando Belo Horizonte. Ao lado dele, uma garrafa vazia de cerveja, alguma sujeira.
Esse contraste é uma tensão como a do filme. Morumbi ao lado de Paraisópolis é uma tensão. A empregada de Paraisópolis trabalhando no apê de luxo no vizinho Morumbi é uma tensão. Assim como, trazendo para Beagá, o funcionário do aglomerado da Serra indo trabalhar no bairro Serra, num daqueles prédios chiques perto do Minas Tênis Clube. No filme, a família do subúrbio se infiltrando na mansão da família podre de rica. Tenso.
Outra coisa é o cheiro. Provavelmente, se eu tivesse chegado perto daquele morador de rua dormindo na obra, também sentiria um cheiro próprio daquele ambiente da rua. A diferença de cheiros entre ricos, que só andam em carros com ar condicionado, e pobres, que se espremem diariamente no metrô, é muito destacada ao longo do filme. Aliás, o cheiro terá papel crucial no desenrolar da história.
Mais do que isso, eu não gostaria de falar, porque o próprio Bong Joon Ho tomou grande cuidado para evitar que spoilers estragassem sua história – e fez bem. Até o trailer não entrega quase nada do filme, ao contrário de quase todos os trailers do mundo. “Parasita” não seria nada sem esse suspense excruciante que ele tem.
O que posso dizer é que o efeito borboleta funciona muito bem neste filme. É uma coisa que leva a outra que leva a outra que leva a outra, e assim vai. Até ir parar num fim muuuuito diferente do começo. É um caminho sem volta, uma sinuca de bico. E a gente vai navegando junto, passando até mal de ansiedade, esperando por um desfecho.
Afinal, adianta planejar tanto? Tem um determinado personagem que diz o seguinte numa parte do filme: “A vida não pode ser planejada. Você não pode se dar mal quando não faz planos.” Será que o diretor e roteirista Bong Joon Ho planejou ser indicado a seis categorias do Oscar, inclusive a de melhor filme e melhor direção? Duvido muito. Resta ver se ele vai quebrar a tensão dos colegas de Hollywood e chegar aonde nenhum outro de sua origem jamais chegou.
Assista ao trailer do filme:
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Cristina Moreno de Castro Ver tudo
Mineira de Beagá, jornalista, blogueira, poeta, blueseira, atleticana, otimista, aprendendo a ser mãe. Redes: www.facebook.com/blogdakikacastro, twitter.com/kikacastro www.goodreads.com/kikacastro. Mais blog: http://www.otempo.com.br/blogs/19.180341 e http://www.brasilpost.com.br/cristina-moreno-de-castro