Quando a barragem da Vale estourou em Brumadinho, no dia 25 de janeiro do ano passado, todos os jornalistas do Brasil, mas especialmente de Minas, e mais especialmente ainda de BH, se mobilizaram na cobertura. Meu marido, Humberto Trajano, foi um deles, e, quando chegava em casa, exausto de mais um dia de trabalho, ainda ia registrando a história da primeira semana daquela tragédia em forma de poemas.
Seus poemas são bem factuais, quase jornalísticos mesmo. Contam o que acontecia a cada dia: o toque da sirene dois dias depois, assustando todo mundo, o trabalho dos voluntários, a ajuda de Israel, a pousada que ruiu inteira, o resgate de uma vaca após cinco dias, o trabalho incansável dos bombeiros e de seu porta-voz, tenente Aihara, os vídeos assustadores que apareceram depois, a morte do rio Paraopeba.
São poemas-crônicas do que aconteceu entre 25 de janeiro e 1° de fevereiro de 2019.
Um ano depois, seleciono um desses poemas para marcar a tristeza que Brumadinho inteira, mas especialmente os parentes e amigos das 270 vítimas – e todos os 20 milhões de mineiros –, sentimos naqueles dias e ainda sentimos hoje. Em especial os entes queridos das 11 pessoas que seguem desaparecidas.
Ficamos todos “parados no ontem”, congelados no dia 25 de janeiro de 2019:
Parados no ontem
(26.1.2019)
Poucas informações
Desencontradas emoções
Identificados os nomes
Corpos retirados
Vidas estagnadas
No ontem.
Sem saber onde está
O ente querido
Sem amparo
Descaso
Sentado
No meio-fio
Desequilibrado
Em pé
Querendo um carinho.
Uma resposta.
Os outros poemas estão reunidos no livro “Lama da Agonia“, na Amazon, cuja leitura eu, suspeitamente, recomendo.
Lama da Agonia
Humberto Trajano
Amazon, 2020
17 páginas
R$ 9,99 ou gratuito para quem tem Kindle Unlimited
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