A gente lê muitos manuais ao longo da vida, já repararam? Manual para consertar alguma coisa, para instalar um equipamento, para aprender um idioma novo, ou alguma coisa de informática.
Tem ainda os manuais de gravidez e, depois, os de maternidade e criação de filhos – que são muitos!
Andando nas livrarias, nas seções de autoajuda, vejo alguns manuais que não me animo a ler, mas existem aos montes: como falar em público, como influenciar pessoas, como ser bem-sucedido, ficar rico, ganhar o primeiro milhão, virar uma liderança excepcional, perder a timidez, descobrir habilidades incríveis, gerenciar o tempo, e por aí vai.
Ou ainda: como manter o casamento feliz, como fazer amigos, como ativar hormônios mágicos, como focar no agora, como meditar, como manter o cérebro ativo etc.
Este livreto simpático, “Pra vida toda valer a pena viver“, da médica especialista em luto e cuidados paliativos Ana Claudia Quintana Arantes, se apresenta como um “pequeno manual para envelhecer com alegria“.
A autora faz uma provocação, logo nas primeiras páginas: a menos que a gente morra cedo, todos nós vamos enfrentar a velhice algum dia.
Por que diabos nos preparamos para TUDO na vida menos para o envelhecimento?
Ela foi além e resolveu desenhar seu ponto de vista. Comparou a velhice com uma temporada no Saara. Uma viagem marcada muitos anos antes. Assim como a velhice traz alguma dores, doenças, esquecimentos, fraquezas e limitações de todo tipo, o deserto do Saara é muito quente durante o dia, extremamente gelado à noite, muito seco, não tem alimentos ou qualquer conforto.
Chegar à velhice sem qualquer tipo de preparo, físico ou psicológico, seria, portanto, como ir à viagem marcada para o Saara sem levar água, comida, roupas apropriadas para as temperaturas extremas etc.
E a gente não precisa beirar os 60, 70 anos para fazer esse exercício de reflexão. O ideal é pensarmos no luto antes que uma pessoa querida se vá, e nos prepararmos para a velhice muito antes que ela chegue.
Este precioso livro, cheio de experiências ricas que Ana Claudia viveu enquanto médica geriatra e gerontóloga, aborda questões como:
- Cuidar o corpo e da mente
- Lapidar as relações humanas
- Aprender a perder
- Conviver com os lutos
- Cultivar as boas lembranças
- Reconhecer e tratar a dor fantasma
- Encontrar o sentido da existência
- Fazer as pazes com o tempo de morrer
Como diz a médica e escritora:
“A maioria das pessoas parece não estar confortável com a ideia, talvez porque envelhecer nos aproxime da morte e, mesmo nos momentos mais difíceis, de alguma forma ainda gostemos da vida. No entanto, a realidade do envelhecimento está ao nosso lado a cada dia que passa. Talvez fosse mais sábio compreender esse processo, que ocorre independentemente da nossa vontade, participando das decisões em vez de apenas ser uma vítima do tempo.
O mérito (ou a responsabilidade), bem como a qualidade da vida que teremos aos 80 anos, dependerá exclusivamente das nossas escolhas; de comportamentos internos e externos a cada momento da nossa vida.”
Tenho a felicidade de poder me inspirar no meu próprio pai, coautor deste blog, que sempre viveu uma vida equilibrada, sempre cuidou do corpo e da mente, sempre praticou atividades físicas, manteve o cérebro ativo lendo de tudo, se manteve com a mente aberta, livre de preconceitos, lavagens cerebrais e fanatismos, sempre otimista, se alimentou bem e priorizou os momentos de contato com a natureza.
Hoje, aos 80 anos, ele não apenas é muito forte como extremamente ativo e lúcido (como vocês podem ver pelos excelentes artigos com que ele nos brinda por aqui). No fim do ano passado, uma pneumonia terrível quase o matou. Foi um susto que preferi nem registrar aqui no blog, para poder ser esquecido. Mas, poucas semanas depois da alta hospitalar, ele já tinha recuperado o peso de antes, estava caminhando perfeitamente bem e fazendo todas as atividades normais de sua rotina.
Ou seja, está colhendo os bons frutos plantados nos anos anteriores.
Meu pai é, portanto, para mim, um manual vivo de como envelhecer bem e uma inspiração em vários sentidos. Mesmo assim, gostei de ler as palavras também sábias de Ana Claudia Quintana Arantes. Inclusive o reconheci em vários momentos desse manual escrito.
Para quem não pode ter um José de Souza Castro na família, eis um manual que vale a pena ser lido 🙂
‘Pra vida toda valer a pena viver’
Ana Claudia Quintana Arantes
Ed. Sextante
157 páginas
R$ 37,42 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)
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Obrigado, Cris. Bem instrutivo.
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