‘Ponte para Terabítia’: sobre a amizade e as coisas tristes da vida

Jess e Leslie correndo em cena do filme Ponte Para Terabítia.
Jess e Leslie correndo em cena do filme Ponte Para Terabítia.

Vale ver na Netflix: PONTE PARA TERABÍTIA (Bridge to Terabithia)
2007 | 1h36 de duração | nota 9

Quando eu tinha 14 anos, fui apresentada à escritora Katherine Paterson por meio da leitura de “O Mestre das Marionetes”, pedida pela escola. Lembro vagamente que achei ele bom (não excelente, mas bom), e hoje lamento que a professora de português não tenha indicado o outro livro da mesma autora, “Ponte Para Terabítia“.

Se ela tivesse, eu teria tido contato com esta história infanto-juvenil mágica e maravilhosa na idade certa. Teria aprendido desde cedo sobre o poder dos sonhos e das fantasias de criarem laços fortes de amizade, diante das agruras da vida real.

Teria descoberto, talvez, que as tragédias são inesperadas, são por vezes desesperadoras, mas que nem tudo está perdido depois delas. Existem saídas (e, de novo, a imaginação é uma solução importante nessas horas).

Vou me apropriar do resuminho do livro para descrever também este roteiro adaptado para filme:

“Na volta às aulas, Jess conhece uma aluna nova: Leslie. Os dois tornam-se grandes amigos e criam um reino imaginário, chamado Terabítia, onde estão protegidos das ameaças da vida cotidiana. Até que um dia, uma fatalidade os separa.”

É isso, em resumo. Mais um daqueles filmes sobre pré-adolescentes descobrindo algumas dores que só nos deviam ser apresentadas quando somos adultos (como naquele outro ótimo filme “Crescer não é brincadeira“). Mas a história criada por Katherine Paterson ganha um encanto a mais ao trazer o lúdico e a fantasia como ingredientes-chave do “lidar com a vida“. Como se fosse um segredo que ela descobriu e resolveu compartilhar conosco.

Leslie e Jess na casa da árvore do filme Ponte Para Terabítia.
Leslie e Jess na casa da árvore do filme Ponte Para Terabítia.

O filme já tinha ganhado uma adaptação, de 1985, que não assisti, mas não foi lá muito elogiada. Nesta outra, de 2007, o próprio filho de Katherine, David Paterson, participou como produtor e um dos roteiristas, garantindo a fidelidade com o que sua mãe tão bem construiu no livro de 1977.

A interpretação dos dois protagonistas, os então adolescentes Josh Hutcherson (Jess) e AnnaSophia Robb (Leslie), é incrível. A pequena Bailee Madison, que faz a irmãzinha de Jess, também está ótima.

Assisti ao filme com meu filho de 7 anos. Adianto que a tragédia que ocorre na história me provocou muitas lágrimas, talvez uns dez minutos chorando sem parar*. Ele ficou incomodado, perguntou por que a classificação é livre, ficou bravo, dizendo que um filme tão triste não poderia ser para crianças.

Respondi a ele o que eu trago aqui agora: as crianças também podem saber que a vida tem dessas coisas tristes, que a tristeza faz parte da vida. E, mais importante ainda: que a tristeza tem razão de ser, que podemos e devemos chorar com ela, mas que não precisa ser uma coisa que nos paralise para sempre – depois da tormenta sempre pode abrir uma frestinha de sol.

Talvez outras mães e pais não gostem desse tipo de conversa com seus filhos, então, nesse caso, não seria uma boa ideia assistir a este filme com crianças. Eu, pessoalmente, lamentaria muito que o Luiz não tivesse visto um filme tão lindo, tão tocante, e que traz consigo tantos ensinamentos sobre, principalmente, a amizade. Mas também sobre família, bullying, empatia e perda.

Chorar faz parte. Sim, chorei muitíssimo, assim como chorei ao ver “Meu Primeiro Amor” ainda criança, ao ler “Meu Pé de Laranja Lima” aos 12 anos ou quando vi “Viva: A Vida é uma Festa“, já adulta. Mas só chorei porque essas formas de arte souberam mexer com a minha alma, tirar alguma coisa do lugar, colocar outras tantas por cima.

Este filme faz isso com a gente. Que pena que não li o livro antes, quando eu tinha idade mais adequada para ele. Mas que bom que este filme chegou até mim hoje. Sempre é tempo para aprender a enxergar o mundo com a mente aberta de Leslie.

Assista ao trailer do filme ‘Ponte para Terabítia’:

 


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* Aqui vai um spoiler, para quem não se importa: a tragédia do filme é a morte inesperada de Leslie. Katherine Paterson escreveu esse livro para ajudar o filho David, que tinha apenas 8 anos, a superar a morte trágica do seu melhor amigo, que foi atingido por um raio. Como roteirista dessa adaptação, trinta anos depois, David pôde transportar para o filme o que ele próprio viveu quando era apenas uma criança. O luto não escolhe para quem vem…

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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