Um paraíso chamado Ilha Grande

Lagoa verde, em Ilha Grande (RJ).

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Eu já chamei muita coisa de paraíso aqui no blog. Rio das Ostras, a Serra do Cipó, a Serra da Mantiqueira etc. Mas não há lugar mais bonito do que Ilha Grande.

Ilha Grande é uma ilha que faz parte do município de Angra dos Reis, no litoral fluminense. São 193 km² e mais de 100 praias, todas com o mar azulíssimo ou verdíssimo. Também há uma mata fechada, um pico, inúmeras cachoeiras e infra-estrutura de bares, restaurantes e pousadas que deixam as noites mais confortáveis. Além disso, é um verdadeiro refúgio: você passa vários dias sem nenhum contato com carros, cercado por pessoas de várias nacionalidades, muitas das quais não falam português, e com péssimo sinal de telefone e de internet, o que ajuda ainda mais a desconectar a cabeça.

Outra coisa legal de lá é que o clima é tranquilo e, ao mesmo tempo, animado. Tem muuuuitos casais, mas também muitas turmas de amigos, família com bebê, enfim, gente de toda idade.

Há muito o que visitar por lá, mas vou me ater, aqui no post, a compartilhar minhas experiências e o pouco que pude conhecer em três dias completos. Como foi tudo maravilhoso, fica como sugestão de roteiro de viagem mesmo 😉

TRANSPORTE

Primeira dica de todas: ir de ônibus. Não vale a pena alguém sair de Beagá, ou de São Paulo, por exemplo, pegar avião até o Rio, depois pegar ônibus até Angra ou Mangaratiba e depois ainda pegar o barco até a ilha. A viagem fica muito mais longa e cansativa, além de cara. Também não vale muito a pena ir de carro, já que nenhum carro pode entrar na ilha: você teria que gastar uma fortuna de estacionamento em Angra. Por isso, o ideal é pegar um ônibus à noite noite, direto para Angra, ir dormindo no trajeto, chegar de manhãzinha, pegar um barco ou bote, e aproveitar o dia na ilha, desde cedo.

O bote até a ilha, que faz o trajeto em 15 minutos, custa R$ 30 por pessoa. O barco, que é mais demorado (se não me engano, uma hora), custa R$ 20.

HOSPEDAGEM

A ilha tem pousadas, hostels e flats. Algumas no meio do mato, outras no meio da Vila Abraão, que é o centro comercial e gastronômico da ilha, e outras bem de frente para o mar. Neste mapa AQUI é possível ver nada menos que 642 opções de hospedagem. Com todo tipo de preço.

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REFEIÇÃO

Comemos em vários lugares lá, mas dois são especialmente dignos de nota: o Kebab Lounge, que tem um clima super agradável e uns espetos de churrasco deliciosos; e o Casarão da Ilha, que é o melhor de todos: vende pizza boa, prato-feito, petiscos, cerveja gelada, enfim, de tudo um pouco. E tem preço justo, atendimento ótimo, fica na pracinha em frente ao mar e à igrejinha e, no fim de semana, tem música ao vivo. Ah, no Casarão eles também transmitem jogos de futebol em um telão, então é muito bacana.

PASSEIOS

Aí é a melhor parte!

Em nosso primeiro dia, conhecemos a Praia Preta, que é a mais perto de Abraão, a uma curta caminhada. Lá já é lindo, num trajeto todo cercado de mata, com a vista para o mar que, no dia, estava azul-escuro. Também é por lá que podemos pegar uma trilha na mata onde vemos as ruínas de Lazareto (local onde doentes que chegavam na costa brasileira eram postos em quarentena e, mais tarde, foi transformado em presídio) e as ruínas do aqueduto que abastecia Lazareto. Entre uma ruína e outra há o poção, uma cachoeira com pedra pra tomar sol e até uma espécie de escorregador natural.

No mesmo dia, à tarde, fomos caminhando pelo lado oposto da Praia Preta, a partir de Abraão, em direção à praia de Abraãozinho. São várias praias, uma ao lado da outra, cada uma mais linda que a outra. Um belo passeio para se fazer com o sol se pondo.

No dia seguinte, fizemos o passeio de barco até Lopes Mendes, praia que já foi votada como uma das dez mais bonitas do mundo. Ela tem um costão de 3 km de extensão, água azulíssima, areia branca e fina, e é cercada por uma mata de mangue e atlântica. Para se chegar lá, pegamos um barco que custou R$ 10 por pessoa e depois seguimos por uma trilha de 1,1 km, bem fácil e sinalizada. Na praia não tem barraquinha ou algo do tipo, mas é possível comprar água, refri, cerveja e chips com ambulantes da região.

No terceiro e último dia, fizemos um passeio de lancha para conhecer “meia-ilha”. Custou R$ 70 por pessoa, com direito a água, geladeira e empréstimo de snorkel. Primeiro, paramos na Lagoa Azul, que, no dia, estava com a água bem verde. Cheia de peixinhos! Depois, fomos à lindíssima Lagoa Verde, minha favorita, que estava com a água bem azul. Peguei meus óculos de natação e passei toda a meia hora lá nadando mais ao fundo, longe do pessoal e das lanchas, admirando as formas marinhas mais impressionantes que já vi na vida. Os peixinhos nadavam a centímetros de mim, me cercavam, era como se eu fosse também uma peixa, dentro de um aquário. Saí de lá emocionada…!

Depois almoçamos em Maguariqueçaba, passamos na praia de Camiranda, no Saco do Céu (que tem esse nome por ser uma baía super estável, que, à noite, reflete todas as estrelas e forma uma imagem estonteante de céu na água) e na praia da Feiticeira. Vale dizer que o passeio de lancha em si já é uma delícia, com vista maravilhosa em todo o trajeto. Com sorte, podemos ver até golfinhos.

CURIOSIDADES e DICAS FINAIS

  1. Tem muita música ao vivo na ilha, estilo voz e violão. Praticamente em todos os bares, nos fins de semana. E o pessoal de lá é FANÁTICO por Zé Ramalho, toca o tempo todo!
  2. Tem MUITO cachorro na ilha. Muito mesmo. Fico até me perguntando se essa não é uma preocupação do pessoal de lá, uma questão sanitária.
  3. Fomos no período de baixa temporada, que é entre maio e dezembro. E estava cheio, mas os preços eram justos, a infra-estrutura estava boa, não pegamos filas etc. Se você for na alta temporada, entre o Natal e o fim da Semana Santa, prepare-se: os preços dos transportes de barco e lancha simplesmente DOBRAM (imagino que o mesmo aconteça com as pousadas e restaurantes), há filas para TUDO e, não raro, acaba a água e a energia na ilha. Pelo menos foi o relato que ouvi do dono da lancha.
  4. Há várias lojas de artesanato na ilha e todas elas vendem máscaras lindas de colocar na parede, que são marca registrada de lá. Recomendo o souvenir, que em alguns casos custa menos de R$ 10.
  5. Procure sempre fechar os passeios na véspera, mas prepare-se para imprevistos: se o mar estiver muito agitado, você não conseguirá passear de lancha, por exemplo. Eles cancelam mesmo. Daí, ou você passeia no dia seguinte, ou pega o dinheiro de volta. Há zilhões de agências de barcos e lanchas em Vila Abraão, e todos te oferecerão passeios o tempo todo. Como gostei muito do nosso passeio, passo adiante o telefone do cara que nos vendeu: Neimar: 21-99793-4918.
  6. O mesmo é recomendado para a volta para o continente: compre a passagem de barco com antecedência e, de preferência, compre a passagem de ônibus enquanto ainda estiver na ilha, ou você corre o risco de custar a encontrar ônibus livre quando estiver na rodovia.
  7. Ilha Grande não é passeio para ricaços, apesar de receber muitos gringos. Se você for na baixa temporada e se hospedar numa pousada sem luxo, pode ser uma viagem até bem barata. Bom proveito!

Se eu lembrar de mais dicas, acrescento aqui depois 😉

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

9 comentários

  1. Cris, foi graças a Leonel Brizola, quando governador do Rio, que Ilha Grande começou a perder sua fama de inferno, para se tornar nesse paraíso que você descreve. Não era assim quando Graciliano Ramos, preso na ditadura Vargas por ser um escritor comunista, escreveu ali as memórias do cárcere. Por lá sofreram outros escritores, como Orígenes Lessa e Fernando Gabeira, o jornalista Nelson Rodrigues Filho, e políticos como Luís Carlos Prestes e Agildo Barata. E lá também nasceu o Comando Vermelho de Escadinha, que conseguiu fugir de helicóptero, como nos filmes de Hollywood.

    Na manhã de hoje a TV Record apresentou uma boa reportagem sobre Ilha Grande, com foco em seus presídios extintos. Acho que vão gostar de assistir.

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    1. Vou procurar essa reportagem! Essas ruínas de Lazareto foram transformadas em prisão por Getúlio Vargas, se não me engano (tava lá na placa), mas desativadas há alguns anos já. Só que existe outro presídio lá, ativo até semana passada, que fica no outro lado da ilha (Parnaioca), que não conheci. Ainda bem que foram todos desativados!

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  2. Outro escritor famoso livrou-se de ser levado à Ilha Grande, Monteiro Lobato, embora tenha sido também condenado por algo que escreveu. Foi uma carta a Getúlio Vargas, em maio de 1940, criticando-lhe a displicência “em face da questão do petróleo no Brasil, permitindo que o Conselho Nacional do Petróleo retarde a criação da grande indústria petroleira em nosso país, para servir, única e exclusivamente, os interesses do truste Standard-Royal Dutch”.

    Lobato foi preso preventivamente, na Casa de Detenção de São Paulo, sob a acusação de tentar fugir para o exterior após o Procurador da República ter aberto processo contra ele por causa da carta, mas o escritor foi absolvido em abril de 1941. A sentença foi reformada, porém, pelo Tribunal Pleno, e Lobato foi condenado a seis meses de prisão. Getúlio liberou- de cumprir o resto da pena, em 17/6/41. E 11 anos depois, de volta ao poder, criou a Petrobras, cavando o caminho que o levou ao suicídio em agosto de 1954, sob a acusação da imprensa de ter transformado a República num mar de lama. São as voltas que a história dá… Não acho que Dilma, se reeleita, seguirá esse último exemplo de Getúlio.

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