O que falta a Hugo Chávez

HUGO CHAVEZ

Bom editorial do meu pai no “Hoje em Dia” desta sexta, com dois paralelos históricos que poucos se lembraram de traçar até agora:

Ao adiar por tempo indefinido a posse de Hugo Chávez marcada para quinta-feira (10), para um quarto mandato, pelo fato de o presidente estar tratando de um câncer em Cuba, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) parece ter desarmado o estopim de uma nova crise na Venezuela. A oposição se retraiu e a população saiu às ruas em solidariedade ao governo.
A decisão do TSJ pode não ser inteiramente jurídica – e sim uma resposta a um interesse político, como reclamou o governador Henrique Capriles, candidato oposicionista derrotado por Chávez nas eleições de 7 de outubro –, mas nem por isso os juízes erraram. No Brasil, em 1985, o presidente eleito Tancredo Neves adoeceu na véspera da posse, que foi adiada, e seu vice, José Sarney, assumiu semanas depois a Presidência da República. A solução foi criticada por juristas e adversários dos vitoriosos nas eleições indiretas, sob o argumento de que Sarney só poderia assumir se Tancredo tivesse tomado posse.
Mas acabou prevalecendo uma solução política desejada pela maioria dos brasileiros naquele momento. O Brasil saía de uma ditadura e reiniciava, com Sarney, a trabalhosa construção da democracia, ainda em curso. Os adversários do novo regime apostavam numa crise institucional para voltar à situação que lhes favorecera, mas não ao povo em geral.
Há um paralelo entre esse episódio da história brasileira e o momento atual na Venezuela. Este país imensamente rico em petróleo, mas com a maioria da população vivendo na pobreza, durante mais de um século foi dominado por ditadores cruéis que tinham o apoio de países como os Estados Unidos que se beneficiavam de seu petróleo.
Hugo Chávez representou uma ruptura do sistema injusto que vinha dominando seu país. Nisso imitou Simon Bolívar, que liderou a luta pela independência não apenas da Venezuela, mas também da Bolívia, Colômbia, Equador, Panamá e Peru. Por 11 anos, foi presidente da Grã-Colômbia, primeira união de nações independentes da América Latina. Um período de muita luta militar e política para assegurar a independência. Alcançada finalmente a paz, Bolívar enviou mensagem ao Congresso Constituinte, no dia 20 de janeiro de 1930, renunciando ao cargo para que a democracia se fortalecesse.
Falta a Chávez igual grandeza bolivariana. Não contente com 14 anos no poder, quis governar a Venezuela por mais seis, mesmo sabendo que estava gravemente doente ao se candidatar pela última vez e de novo derrotar a oposição.

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

5 comments

  1. A oposição não aceita o Chávez tanto tempo no poder.Com essa situação de saúde do presidente,eles tentaram de qualquer forma manchar a posse e a imagem dele.Na minha opinião,até mesmo um golpe;mas ainda bem que apesar da fragilidade da Venezuela,eles não se comparam com os países do oriente(onde há golpes contra presidentes)

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  2. Cris, lembrei-me do Tancredo ao ler ontem o artigo do Janio de Freitas na Folha de S. Paulo. Ele faz o paralelo, bem melhor que eu. A renúncia do Bolívar, li no livro “100 Discursos Históricos”, de Carlos Figueiredo, que ganhei do colega de faculdade José Silvestre Gorgulho.

    Da série “No mundo nada se cria, tudo se transforma”. Que deve ter-se iniciado com os grandes filósofos gregos (Sócrates gostava de se referir aos pensadores antigos; depois dele, todos se referiam a Sócrates).

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