Alergia a gente chata: principais sintomas, diagnóstico e solução

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Eu sempre tive muita alergia, mas só a poeira. É mexer com meus livros e começo a espirrar. Ou abrir aquele cobertor que estava guardado há muito tempo. Descobri que tinha um nome — rinite — e até fiz um texto só em homenagem aos riniteiros que sofrem com essa alergia, como eu. Mas, de uns tempos pra cá, comecei a desenvolver uma segunda alergia, muito mais intensa: a gente chata. Ou mala. O primeiro sintoma é impaciência aguda. A pessoa começa a falar merda e eu já crio um bloqueio no cérebro, deixo de escutar e, se for preciso manter a aparência de educação, só balanço a cabeça, nodding irresponsavelmente. O segundo sintoma, mais severo, é a manifestação de antipatia. Por fim, em casos raríssimos de gente chatíssima mesmo, de galocha e sem rodinhas (pode?), acabo apelando para as patadas — um antídoto nem sempre eficaz.

Desde que essa alergia surgiu, há uns poucos anos, está cada vez mais forte. E o pior: os chatos começaram a se multiplicar, talvez porque os meus sintomas não permitam que eles passem batido mais. É gente se gabando de tudo o tempo todo, é gente se superhiperexpondo nas redes sociais, é gente criando picuinha só porque tem uma opinião diferente da sua, é gente que só reclama de tudo o tempo todo, é gente que acha que sabe de TUDO DO UNIVERSO e fala com a pompa dos especialistas, é gente querendo chamar a atenção sobre si o tempo todo (sabe aquela que fala gritando pro escritório inteiro notar que ela está lá?), é gente dando pitaco sobre TUDO na sua vida sem você pedir, é gente sem educação que nem te cumprimenta quando vê na rua, é gente que quer que tudo seja feito do jeito dela, é gente que fica tentando te convencer/converter o tempo todo (em religião, política, futebol, gosto musical, culinário, whatever), é gente que só lê o título do texto e já vai meter o pau numa ideia que nem sequer foi defendida pelo autor, NÓ!, tem de tudo. Às vezes bastam cinco minutos de conversa para meu alarme de [chato detected] apitar: AAAAAAAAH-TCHIIIIIIMMMMM!!!!

Alguém mais sofre dessa mesma alergia que eu, com os sintomas listados no primeiro parágrafo? Mais importante: alguém aí se identificou com os sinais de chatura ou malice do segundo parágrafo? Se você tem os hábitos que lembrei logo aí em cima (pior ainda se tiver mais de um), faz favor de vestir a carapuça e dar um jeito de mudá-los. A solução está contigo mesmo, meu amigo! Pelo bem da maioria de gente fina, elegante e sincera que existe neste mundão de deus 😉

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

13 comentários

  1. A vantagem das redes sociais e demais tecnologias é que existem comandos como “block” e “unfollow” para casos extremos de chatice. rs Mas na vida real, como fazer? Aí o jeito é procurar estratégias… muitas vezes me passo como “antipático” porque fico na minha, não entro em certas rodinhas de conversas – principalmente compostas por sabichões que usam como argumentos o infalível “eu vi na internet” ou “recebi no zap zap”. ( confesso aqui uma parte muito chata que eu tenho: quando ouço “zap zap” não consigo conter a coceira em expressar “Whatsapp, você quer dizer?” Mas estou me controlando. Juro. hehehehe)

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  2. Não sei se tenho um nível altíssimo de paciência ou se finjo muito bem (rs) mas adoro falar com pessoas chatas. Não estou querendo fazer tipo ou coisa assim mas gosto de ouvir essas pessoas falarem. Pra mim é uma maneira de ver uma experiencia completamente diferente da minha. Já me passei por um torcedor de time adversário num ônibus só pra “ver” como é a atitude deles, o que pensam rss (não vesti camisa nem nada). Quando uma pessoa se sente dona da razão e começa a falar suas verdades dou toda atenção a ela, falo serio. Também não me torturo andando com essas pessoas, não fazem parte do meu ciclo de amizade. No entanto não me importo de ouvir os “contadores de vantagem” (minha esposa fica furiosa com isso hehehe).Acho que desenvolvi isso na sala de aula, adolescentes são os reis do mundo e ai de quem vai contra. Digo um “sim” “é mesmo?” “legal” e sigo a vida.

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  3. Cris, em 1962, Guilherme Figueiredo escreveu o “Tratado Geral dos Chatos”. Um livro muito comentado, mas não li. Mas me lembrei dele, ao ler seu artigo. E encontrei uma referência: um artigo publicado pela revista Superinteressante em junho de 2004. Trecho inicial:

    Chatos existem porque existem, oras. Existem porque são chatos e são chatos porque existem. Se não existissem não seriam chatos.

    Não há dúvidas: o texto aí em cima é chato! E o principal motivo é o fato de ele repetir quatro vezes as palavras “chato” e “existem”. “Qualquer situação repetitiva é difícil de suportar. A contramão da chatice é a criatividade”, diz o psicanalista Raymundo de Lima. Raymundo é um estudioso de Tratado Geral dos Chatos, escrito em 1962 por Guilherme Figueiredo. “O livro é uma referência sobre o assunto. Além de pioneiro, fugiu da linguagem acadêmica, que é muito chata”, diz.

    Figueiredo classificou diversos tipos maçantes, dando a eles nomes e explicações pseudocientíficas. O que ele não imaginava era que, em apenas algumas décadas, seria possível apontar motivos biológicos para esse estado humano. “A razão mais comum para a chatice é a crise de mania, quando o sistema de recompensa – a área do cérebro responsável pelo prazer – fica superexcitado”, diz a neurocientista Suzana Herculano-Hozel, da UFRJ. Durante a crise, a pessoa sente prazer em fazer ou falar a mesma coisa. “Ela não sabe que está sendo desagradável pois o cérebro produz a sensação de que aquilo é legal”, diz Suzana.

    Mas, antes de sair por aí dizendo “Ah! Então é por isso que (use o nome do seu conhecido mais chato) é assim!”, saiba que ninguém está imune à chatice aguda. “Essas crises são comuns, mas existem em várias gradações. Podem ser bem leves ou chegar ao delírio paranóico, quando a pessoa se sente Deus.” Se você se identificou, está em vantagem considerável em relação ao resto da humanidade. Afinal, de acordo com Figueiredo, “os chatos não se chateiam”.

    O texto completo aqui: http://super.abril.com.br/cultura/por-que-existem-chatos

    Não é um texto chato de se ler, esse aí. Guilherme Figueiredo, morto em 1997, aos 82 anos, era um dramaturgo com veia cômica que não escapou também, ao longo da vida, de ser tido como um chato. Motivo principal: era irmão mais velho do general Figueiredo, o último dos nossos ditadores.

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    1. Coitado, não tem culpa de ter um irmão general ditador, né? Talvez tenha escrito o tratado pensando no caçula rs.
      Os chatos nunca se chateiam, esta foi boa! Identifiquei uns quatro conhecidos chatos só nessa rápida leitura.

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  4. Nossa, atualmente você deve estar padecendo com gente chata, porque o tanto que o povo gosta de dar palpite/certeza/conselhos obrigatórios para grávidas…

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  5. Possuo a mesma alergia que você. Tenho todos os sintomas descritos da “doença”. Só não consegui me ver como chato. Vou tentar fazer uma auto análise pra ver o que descubro.

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      1. Pior de tudo é que eu conheço gente que se encaixa em todas as categorias de chato que você descreveu. Algumas se encaixam em mais de duas categorias. Acredita?

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