Hoje à noite o clube do livro que eu frequento vai discutir “Setembro Negro“, obra mais recente de Sandro Veronesi.
Foi o primeiro livro que conheci desse escritor italiano. Achei interessante, um bom livro, ainda que não tenha gostado tanto do estilo da narrativa. Não sei se ele usa o mesmo recurso em suas outras obras, mas aqui o narrador em primeira pessoa passa o livro todo prometendo que uma coisa bastante dramática aconteceria naquele verão para “varrer” (ele usa esse termo) a sua vida.
Uma coisa “inesperada, precipitada, brutal e irreversível”, como ele diz na página 37. E vai assim dizendo, chega a comparar com uma tragédia terrível entre as páginas 89 e 97 (último capítulo da parte 1), sempre nessa promessa que me faz pensar que uma hecatombe interromperia o fluxo da história.
E aí, quando finalmente acontece, já bem perto do fim do livro, eu não senti o impacto que vinha sendo prometido. Então, pra ser sincera, não gostei desse estilo narrativo usado em “Setembro Negro”. Sem contar os parágrafos e frases enooooormes (uma única frase, entre as páginas 133 e 134, chega a se estender por 32 linhas!).

Mas, fora essa questão quase estética, é um bom livro. É sobre Gigio, um garoto de 12 anos que passa um verão inesquecível, em vários sentidos, com a família, na praia. É sobre, acima de tudo, a virada de chave que acontece por volta dessa idade, quando a infância dá lugar à adolescência. É sobre a nostalgia que permeia essa época da vida, da chamada “perda da inocência”. Sobre o primeiro amor e também as primeiras dores.

O primeiro amor de Gigio é a menina Astel, um ano mais velha que ele. E as melhores partes do livro, as mais doces, são as que descrevem como eles se aproximam, como o interesse mútuo é despertado aos pouquinhos, com muito afeto, muita timidez e muita reciprocidade.
É nessa parte do livro, já pela metade, que o menino Gigio, obcecado por esportes, que conhecia todas as estatísticas das Olimpíadas, descobre também a música, que era a paixão de Astel. E aí, principalmente a partir da página 164, o livro fica bem mais interessante para mim, com menos referências a atletas e suas façanhas – totalmente desconhecidos por mim – e mais referências a discos e músicas de rock dos anos 70, que eu adoro.
Inclusive muitas músicas que os personagens apelidaram de ILIG (incomprehensible lyrics, irresistible groove, ou “letra incompreensível, ritmo irresistível“). O que, para quem não é falante nativo de inglês, faz total sentido. Mas não só por isso, como explica o narrador na página 165:
“Nos anos seguintes, cheguei a ler algumas declarações dos compositores, e eles próprios diziam que não lembravam por que tinham escrito aqueles textos, a que estavam se referindo e com quais intenções – no final das contas, algo bastante normal, considerando o regime de liberdade criativa e de alteração mental que os havia gerado.”
Mas essas músicas incompreensíveis tornaram-se “o símbolo da felicidade por excelência” para aquele casal de adolescentes italianos (página 167). Assim como se tornaram para tantos outros jovens ao redor do planeta.
Playlist de Gigio e Astel, os personagens de Setembro Negro
Por isso, enquanto lia “Setembro Negro”, fiquei com vontade de ouvir alguns desses álbuns citados e pensei que seria bom se existisse a playlist de Gigio e Astel, para que a gente pudesse ler o livro curtindo o som junto com os personagens.
Então, quando terminei a leitura, resolvi criar eu mesma esta playlist. E agora compartilho ela aqui no blog, para quem quiser ter esta experiência complementar de leitura 🙂
São 45 músicas, que somam pouco menos de três horas de duração, com muito David Bowie, Cat Stevens, Beatles, Procol Harum, Joe Cocker, mas também outros bons artistas da época.
- CLIQUE AQUI para ouvir no Spotify e, se quiser, salvar para ouvir mais vezes depois 😉
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“Setembro Negro”
Sandro Veronesi
ed. Autêntica Contemporânea
278 páginas
R$ 64 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)
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- Caderno Proibido, de Alba de Céspedes
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