Odebrecht, Novonor e Braskem: uma breve história

Odebrecht, Novonor e Braskem: uma breve história
Odebrecht, Novonor e Braskem: uma breve história

Entenda o que a Odebrecht tem a ver com a Novonor e com a Braskem, em uma história que passa por denúncia de corrupção, condenação pela Lava Jato, rebranding, e chega à empresa que tem sociedade com a Petrobras e causou prejuízos em Maceió (AL)

Texto escrito por José de Souza Castro:

Capítulo 1: Odebrecht

“Em 2010, a IMD, escola de negócios suíça, escolheu a Odebrecht como o melhor grupo familiar de negócios do mundo.

Foi escolhido pelo desempenho excelente de suas empresas, pelo crescimento contínuo e por sua responsabilidade social e ambiental.

O faturamento tinha quintuplicado entre 2005 e 2009 e a Odebrecht havia se tornado o maior grupo de engenharia e construção da América Latina e o 18º do ranking das maiores contratantes no mundo.

Em 2015, porém, seu principal executivo, Marcelo Odebrecht, foi preso por denúncias de corrupção e sentenciado a mais de 19 anos de prisão.”

Marcelo Odebrecht em foto de 2009, no Fórum Econômico Mundial da América Latina, no Rio de Janeiro. Foto: Cicero Rodrigues / World Economic Forum
Marcelo Odebrecht em foto de 2009, no Fórum Econômico Mundial da América Latina, no Rio de Janeiro. Foto: Cicero Rodrigues / World Economic Forum

As informações acima (com tradução livre e grifos meus) estão na abertura de um artigo assinado por quatro pesquisadores estrangeiros sobre o Caso Odebrecht, como se tornou internacionalmente conhecido, e que envolveu pagamentos de propina pela empresa brasileira em 20 países na América Latina e em dois países na África.

Continua o texto:

“O Departamento de Justiça dos Estados Unidos descreveu-o como o maior caso de propinas no exterior. O Corrupt Practices Act, de 1977, deu ao US Department of Justice jurisdição no Caso Odebrecht e em muitos outros casos de pagamento de propinas porque a companhia fez os pagamentos em contas de Nova York e alguns encontros para negociar propinas ocorreram em Miami.”

Só agora tomei conhecimento, por gentileza de Stefan Salej, deste artigo publicado em 2021 pelo “Journal of Economic Perspectives“. Os quatro autores estrangeiros gastaram 19 páginas da revista para descrever o Caso Odebrecht.

O “Journal of Economic Perspectives” é uma revista científica de economia publicada trimestralmente pela American Economic Association.

A corrupção praticada pela Odebrecht começou a ser desvendada pela Lava Jato, a partir de uma pequena investigação de lavagem de dinheiro feita por doleiros que, para isso, usavam postos de gasolina.

Mas o grupo do juiz Sergio Moro e procuradores coordenados por Deltan Dallagnol, que esperavam lucrar muito com os acordos de delação premiada, ganharam pouco espaço neste artigo. Parece que acabaram não tendo a importância que imaginavam ter no caso, sob a ótica dos pesquisadores internacionais.

Não sei se se sentiram humilhados pelo papel irrelevante que desempenharam no caso, aos olhos estrangeiros. Não me espanta que, ao contrário, isso teria exatamente ido ao encontro do desejo de muitos deles, nesses tempos do governo Lula: esqueçam de mim. (Nota da Kika: Mas todos lembramos que Moro largou a carreira de juiz para atuar como ministro do principal rival político daquele que ele mandou prender, certo?)

Jair Bolsonaro e Sergio Moro.
Sergio Moro ao lado de Jair Bolsonaro, de quem foi ministro da Justiça, em foto de 2019. Foto: Antonio Cruz/ Ag. Brasil – 3.10.2019

Capítulo 2: Novonor

A Odebrecht também gostaria que esquecessem dela. Em fins de 2020 mudou o nome para Novonor, uma junção das palavras “novo” e “norte”, prometendo que a partir de agora tudo será diferente. Ou seja, não haverá mais propinas para vencer concorrências e, mais importante, para reajustar depois os valores dos contratos.

Marcelo Odebrecht, depois de quase dois anos preso pela Operação Lava Jato, foi demitido pelo pai, Emílio Odebrecht, por justa causa, em dezembro de 2019. Os dois estavam brigados, mas Marcelo continuava na folha de pagamentos da empresa.

Nos últimos anos trabalhou de forma discreta no setor administrativo do Hospital das Clínicas da USP, duas vezes por semana, para ter progressão de pena. Em abril do ano passado, terminou de cumprir a pena, mas continua afastado da Odebrecht, que presidiu de 2009 a 2015, só renunciando ao cargo seis meses depois de ser preso pela Polícia Federal na operação que investigava desvios na Petrobras.

Marcelo não passará dificuldades, pois continuou acionista da Novonor, empresa que fatura mais de US$ 1 bilhão por ano, até meados de 2022.

No acordo de leniência firmado pela Odebrecht em 2018, o grupo Odebrecht foi multado em R$ 2,7 bilhões, mas até julho de 2022 só havia pagado 5,5% da multa.

E, no final de janeiro último, o ministro Dias Toffoli suspendeu o pagamento da multa e autorizou a Novonor a pedir a renegociação do acordo de leniência (leia a íntegra da decisão).

Ministro Dias Toffoli, do STF, suspende multas e autoriza Novonor, antiga Odebrecht, a renegociar acordo de leniência. Foto: Felipe Sampaio/SCO/STF - 1.2.2024
Ministro Dias Toffoli, do STF, suspende multas e autoriza Novonor, antiga Odebrecht, a renegociar acordo de leniência. Foto: Felipe Sampaio/SCO/STF – 1.2.2024

Capítulo 3: Braskem

A Novonor já tinha vendido alguns bens, mas a joia da coroa, a Braskem, continua à venda. Esta empresa tem sociedade com a Petrobras e poderá ser vendida para uma estatal dos Emirados Árabes Unidos. Por mais de R$ 10 bilhões.

Enquanto isso, Maceió continua batalhando pelo pagamento justo dos prejuízos causados pela Braskem na exploração em seu subsolo que levou ao afundamento de vários quarteirões na capital alagoana.

Bairro fantasma do Bomparto, que fica nas proximidades da mina n°18 da mineradora Braskem na lagoa de Mundaú, em Alagoas. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil - 15.12.2023
Bairro fantasma do Bomparto, que fica nas proximidades da mina n°18 da mineradora Braskem na lagoa de Mundaú, em Alagoas. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil – 15.12.2023

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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