Vale a pena assistir no cinema: BACURAU
2019 | 2h11 de duração | Nota 9
“Bacurau” mexe com a gente de tantas formas diferentes que é difícil até escrever sobre este filme.
Vou começar pelo mais fácil e ir me dirigindo, cautelosamente, para o pântano mais árduo desta crítica.
O mais fácil é elogiar as atuações. Sônia Braga está de tirar o fôlego desde uma das primeiras cenas, num velório. (Sim, o filme já começa com morte, e isso não é por acaso.) Mas todos são excepcionais. O outro veterano do elenco – o alemão Udo Kier –, a excelente Karine Teles (de “Benzinho”), que aparece rapidamente, mas em cenas marcantes, o impressionante Silvero Pereira (do personagem Lunga), além de Barbara Colen, Thomas Aquino, os gringos todos, Wilson Rabelo. Enfim, é um elenco de primeira, em que mesmo os figurantes, mesmo aqueles que fizeram só uma pontinha, pareceram ter encarnado bem o papel.
A propósito, li depois que a Bacurau de verdade é um vilarejo do Rio Grande do Norte com apenas 80 habitantes, e que a maior parte deles ajudou na produção de alguma forma, inclusive como figurantes. Talvez essa imersão tenha ajudado para um resultado final tão verossímil e impressionante.
A parte técnica também tem grande qualidade, embora eu não goste das transições que eles inventaram entre uma cena e outra. Vou destacar algo que é difícil de ver em cinema nacional e que está excelente aqui: o som. Não vi “Aquarius”, do mesmo diretor Kleber Mendonça Filho, mas vi “O Som Ao Redor”, e é gritante a diferença entre os dois filmes no que diz respeito à qualidade do áudio. Aliás, no que diz respeito a tudo. Detestei o filme de 2012 e adorei este de sete anos depois. Evolução é que chama.
A trilha sonora também foi muito legal para criar o suspense deste filme. Aliás, vale destacar isso: trata-se de um filme de suspense, mistério, ação, ficção científica, aventura. Uma mescla desses gêneros, que são muito diferentes dos que normalmente se alternam no cinema brasileiro: drama e humor. Não tem humor e, se há drama, ele é bem diferente pela forma como foi construído.
Assim, temos um filme que lembra Tarantino, que lembra Black Mirror, mas que também lembra todos os filmes de sertão já feitos no Brasil. A definição que vi em algum lugar é que é nosso faroeste. Um faroeste futurista, eu diria, mas não deixa de ser.
O fato é que saí da sala de cinema bastante impactada pelo filme e demorei algumas horas pensando nele e absorvendo toda aquela loucura. Sem estragar o mistério para o espectador, como vocês sabem que sempre evito fazer, o que posso dizer é que é uma distopia de um Brasil não muito distante do que vivemos hoje. Um Brasil de barbárie, muito mais violento. Um Brasil com sede de se defender, com necessidade disso, pela própria sobrevivência.
Vejo Bacurau como uma analogia para o Brasil inteiro, e o filme como uma fábula, com direito a moral da história e tudo. É um filme de suspense, mas sobretudo é uma alegoria política.
Além disso, ele traz uma mensagem importante sobre a forma como nos relacionamos com o diferente. Em determinado trecho do filme, quando Karine Teles e Udo Kier estão na mesma cena, essa reflexão nos atinge em cheio. Depois de assistir ao filme, leia o post “Diferenças, o exercício da empatia e os direitos humanos” e veja se você também não se pegou pensando a respeito disso.
E fica a mensagem derradeira do diretor, antes dos créditos finais: este filme gerou 800 empregos diretos e indiretos, fora a contribuição para a cultura e a história do país. Entendeu, Ancine? Foi dado o recado? Talquei, então. (Na verdade, censores são meio burros, graças aos céus.)
P.S. Ainda não vi “A Vida Invisível”, que vai representar o Brasil no Oscar do ano que vem. Adorei o livro no qual se baseia, no entanto. Mas será que o filme será superior a “Bacurau”? Por razões estritamente políticas, o Brasil perde uma chance real de levar o Oscar de melhor filme com este que levou o prêmio do júri no Festival de Cannes. (ATUALIZAÇÃO: O filme “A Vida Invisível” é, no máximo, nota 5, como explico na resenha).
Assista ao trailer de Bacurau (mas ele estraga muito o filme, então, se preferir ficar livre de spoilers, NÃO ASSISTA):
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