O fim do Blogger (e o backup salvador)

Print da última capa do blog Tamos com Raiva
Print da última capa do blog Tamos com Raiva

Quando fui criar meu primeiro blog, junto com a amiga Maria Tereza, acho que só existiam duas ferramentas de publicação mais importantes no Brasil: o Blogspot e o Blogger, que era da Globo.com. Era ainda março de 2003 e havia poucos blogueiros no Brasil. Optamos pela segunda plataforma, que era bem fácil de usar.

O blog Tamos com Raiva (http://www.tamoscomraiva.blogger.com.br) foi minha primeira experiência jornalística. Eu estava no primeiro ano de faculdade e foi naquele espaço que comecei a fazer análises e apurações, mesmo que bastante amadoras, sobre um assunto que sempre me interessou: política. A experiência se enriqueceu ainda mais a partir de 2005, se não me engano, quando meu pai, que é jornalista desde 1972 e tem um currículo respeitável, começou a fazer o blog comigo. Foi quando a página passou a ficar mais profissional, com divulgação de informações jornalísticas sobre o mensalão tucano, a operação Satiagraha ou as denúncias envolvendo o Zeca do PT, pra ficar em três casos de que me lembro bem. Também promovíamos debates, como faço hoje aqui, sobre temas como o referendo do porte de armas.

Um dos últimos posts do blog foi sobre a invasão do escritório do “Novo Jornal”, do jornalista Marco Aurélio Carone, reproduzido no site do “Observatório da Imprensa” e na revista digital Novae. Anos depois, mais precisamente durante as eleições presidenciais de 2014, quando Aécio Neves era o candidato do PSDB, Carone — que sempre divulgou denúncias sobre a lista de Furnas e outros casos envolvendo o grupo do ex-governador mineiro — foi preso. O processo kafkaniano que justificou sua prisão até o fim das eleições (ele foi solto pouco depois da apuração das urnas) é relatado em reportagem do “Diário do Centro do Mundo” publicada no último sábado.

Naquele 2008, eu estava começando a trabalhar na “Folha de S.Paulo”, e achei difícil conciliar o trabalho no blog com o do jornal, que já era por demais puxado. Por isso, encerrei as atividades do TCR, que foi uma escola para mim, sendo meu pai meu principal professor. Na época, ele tinha atingido 100 mil leitores, o que, para nós, era uma marca histórica. E todo o conteúdo do blog ainda podia ser acessado durante todos esses anos, por quem fizesse uma busca simples num Google da vida.

Na última segunda-feira, fui procurar no TCR a reportagem que eu tinha feito, com várias fotos, sobre a invasão do “Novo Jornal”, depois de ler o material do DCM. Foi com surpresa que descobri que o blog já não existia. Ao acessá-lo, apareceu a seguinte mensagem da Globo.com:

blogger

Ou seja, o serviço do Blogger foi interrompido no final de junho deste ano, levando consigo todos os blogs hospedados lá, provavelmente milhares. Ou o histórico de blogs inativos tão antigos quanto o meu, criado há 12 anos.

Senti um imenso pesar. Tenho o backup completo do meu blog no computador, então não cheguei a perder todo o trabalho de cinco anos — aproximadamente 3 milhões de caracteres e 1.245 páginas de Word. Mas o conteúdo — que traz informações relevantes principalmente sobre políticos mineiros — não está mais disponível a quem quiser procurá-lo na web. E minha primeira experiência como blogueira e jornalista se perdeu para sempre.

O episódio me lembrou o site Fulano.com.br, que tinha um espaço só para os usuários publicarem resenhas de filmes. As melhores resenhas eram inclusive premiadas, e recebi prêmios por algumas das minhas. Em 2004, eles encerraram a seção sem aviso prévio, e dezenas de críticos do Fulano ficaram desconsolados, porque tinham perdido todo o seu trabalho. Felizmente, algum anjo da guarda tinha me inspirado a fazer um backup dos meus mais de 100 textos UMA SEMANA ANTES de o Fulano deletar os textos de todos! Estão todos guardadinhos no meu computador, me lembrando que, desde os 16 anos, eu já gostava de escrever sobre cinema.

Este Blog da Kikacastro foi criado no Natal de 2010 e já tem mais de 1.500 posts. Penso que está na hora de eu fazer um backup — nunca se sabe quando o WordPress vai resolver fechar as portas, sem mais nem menos, deletando tantos anos de trabalho. Até já descobri um site que transforma os blogs em arquivos de PDF — a ver se ainda funciona e se conseguirá armazenar um blog tão pesado quanto o meu…

E você, já salvou seus trabalhos que estão perdidos na internet? Não deixe para a próxima semana!


 

ADENDO EM 22.10.2015 – O Roberto Takata acaba de me apresentar ao site Internet Archive! Sensacional! Lá está meu bom e velho TCR, arquivadinho 🙂

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

4 comentários

  1. Lembro bem do “Tamos com Raiva”. 😉

    Eu tive dois blogs na plataforma zip.net – alguém lembra? rs – e lembro de uma plataforma no IG também. Foi a época em que eu procurava plataformas para abrigar blogs educativos, pois estava iniciando um trabalho com novas tecnologias aplicadas à educação na rede municipal de Salvador. Criei um blog sobre o tema no zip.net e…adeus! 😦 Encerraram o serviço e nada de recuperar o trabalho – não tinha muita coisa pois estabeleciam um “limite de postagens e imagens” naqueles longínquos anos 2005, 2006, por ali.

    Do meu “grooeland” fiz um backup – via blogger mesmo – sei lá há quantos anos. Boa lembrança a sua e depois quero ver também essa dica de transformar os blogs em pdf. O meu tem coisa pra caramba…rs

    Bjks, Cris!

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  2. Haha que susto! Quando vi o post, achei que era o Blogspot, já que no painel deles aparece como Blogger e a logo também, aí lendo, lembrei que tinha um similar, mas brasileiro.
    Abraço

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