Por que meu coração bate mais forte na eleição

Urna Fim

Tirei meu título de eleitor aos 16 anos e, aos 17, votei pela primeira vez. Era 2002, votei em Lula e, quando ele ganhou, saí para comemorar na Savassi, onde havia uma multidão de pessoas dançando e cantando, alegres de verdade. De lá para cá, já compareci a uma zona eleitoral quase 14 vezes, contando os segundos turnos. O entusiasmo pelos candidatos em que votei diminuiu bastante com o tempo e nunca mais saí para festejar nada, mas, ainda assim, meu coração sempre acelera quando estou diante da urna eletrônica.

Acho todo o dia de eleição emocionante! No percurso até a zona eleitoral, reencontro rostos familiares, de vizinhos antigos, vejo famílias inteiras reunidas para votar, e lembro que, quando eu era criança, ia com minha mãe para a urna (de papel), e votava por ela — como hoje muitos pais e mães fazem com seus filhos pequenos. Já estava exercendo a cidadania, mesmo sem entender muito bem como funcionava e quem eram aqueles homens e mulheres que ganhavam “meu” voto.

Percebo que até o jeito como as pessoas se vestem é calculado. Muitos usam broches ou adesivos declarando voto, vários usam a camisa do Brasil, as cores nunca são totalmente aleatórias. As pessoas estão rindo, ou furiosas, em expectativa ou com cara de tédio e apatia. Muitos ali vão votar em branco ou anular, o que não deixa de ser uma expressão de voto – portanto, muito bem-vinda.

E assim prossegue todo o dia: é um domingo com uma aura muito diferente de outros domingos. Nas mesas de almoço, todo mundo fica politizado. As timelines das redes sociais fervilham ideias. As ruas, imundas de santinhos pisoteados (obrigada, garis!), estão cheias de gente. E logo o relógio marca as 17h, e começam as pesquisas boca de urna e as apurações. Todos ligados na internet ou na tevê, enquanto eu e milhares de jornalistas trabalhamos na cobertura. Lembro com carinho da eleição de 2006, a primeira em que trabalhei, na rádio UFMG Educativa, junto com a chefe-professora Tacyana Arce. Depois daquela, já participei de outras quatro coberturas (duas na Folha, uma no G1 e uma no jornal O Tempo), todas emocionantes à sua maneira.

A cada eleição, tenho a esperança de que o país melhore um pouquinho mais. Só de haver tanto debate político, acho que já melhora. Minha visão é positiva, independente do fla-flu das campanhas e do jogo sujo que sempre rola. E espero que daqui a 40 anos, ou 50, a gente possa seguir debatendo, nos expressando a caminho da urna, e votando para eleger os candidatos que preferimos. E que os jornalistas continuem trabalhando nesta intensa cobertura, com toda a liberdade de imprensa ainda incipiente no país. E que meu coração septuagenário continue batendo mais forte diante da urna, cheio de vida e de voz.

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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