De piloto de avião a caminhoneiro

Arquivo TV Jangadeiro.

No outro dia de pauta, o motorista do jornal, que é muito melhor contador de histórias do que eu, me contou por que ele teve que virar caminhoneiro. Foi a história mais surpreendente até agora, que me convenceu de vez que a vida dele merece um livro (e que todas as vidas são livros de histórias interessantíssimos, e escondidos, e cabe aos jornalistas tentar revelá-los). Segue como minha memória guardou:

“Na verdade eu era piloto de avião. Trabalhei na Morro Vermelho táxi aéreo. Consegui passar no curso de piloto muito cedo, e já era experiente aos 22. Viajava para todo canto. Até que conheci minha mulher, que era aeromoça da Vasp.

Um dia, quando eu estava em viagem para o Peru, o vôo em que ela estava trabalhando sofreu um acidente, em Fortaleza. Era 1982, e eu e ela tínhamos só 22 anos. Eu era só um moleque.

Ela me deixou com uma criança de 1 ano e 7 meses para criar. No mesmo dia, vendi meu carro, vendi o carro que eu tinha dado a ela de presente, vendi a casa. Saí vendendo tudo e comprei um caminhão. Depois fiz cartões de apresentação e saí distribuindo nas transportadoras. Pedi para adaptarem o banco de passageiro do caminhão para minha filha.

Eu não poderia mais ser piloto, porque ficaria a maior parte do tempo longe da bebê. Então, como caminhoneiro, viajei com ela, e cuidei dela, até que ela fizesse 7 anos de idade.

Depois disso, voltei com ela para São Paulo, onde fixei residência, para que ela pudesse estudar. Comecei a trabalhar no Itaú. E só voltei ao caminhão anos mais tarde. Nunca mais quis me casar, porque tinha medo de a nova mulher estragar a vida da minha filha, e eu queria que tudo desse certo para ela…”

Hoje fui ler a respeito desse acidente da Vasp e pensei em quantas histórias surpreendentes e humanas existem por trás de cada um daqueles nomes que se foram cedo demais. Vejam AQUI um resumo.

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

3 comments

  1. Cris, um bom pauteiro tem um prato cheio aí. História como esta não fica quicando sem ninguém chutar.

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