Crônicas do fim do mundo — no trânsito
Existe uma coisa que o Código de Trânsito Brasileiro garante e que parece que o pessoal ignora: todas essas vias que permeiam a cidade, que chamamos de ruas e avenidas, devem ser COMPARTILHADAS. Entre carros, ônibus, caminhões, bicicletas e, sim, pedestres também.
Os pedestres têm preferência nas faixas, que funcionam como uma extensão das calçadas, e também em ruas onde elas não existem. E têm que cumprir certas normas também, claro, como todo veículo. Já abordei isso AQUI.
O importante é que TODOS têm direitos e deveres nas vias e devem saber COMPARTILHÁ-LAS. Por exemplo, as calçadas não são só dos pedestres. Os carros podem passar por elas ao entrar nas garagens. Mas, como os pedestres têm prioridade sobre os carros (a norma é lógica: os mais fracos sempre têm prioridade), eles precisam esperar que os pedestres acabem de passar pela garagem antes de invadir o espaço da calçada.
Até as bicicletas podem circular nas calçadas, desde que a no máximo 6km/h, de acordo com o Contran.
O que eu acho o fim do mundo é que os donos de CARROS se acham donos das ruas. Acham que têm preferência sobre ônibus, sobre caminhões, sobre bicicletas e sobre pedestres. Não raro invadem a contramão nas estradas, em locais de ultrapassagem proibida, causando acidentes graves de batidas em sentidos opostos, só porque ficam nervosinhos ao andarem atrás de um caminhão pesado e lento. Se sentem tão cheios de direitos que ficam à vontade para burlar as normas de trânsito, portanto.
Não vou abordar de novo a questão dos pedestres. Hoje deixo aqui no blog, como exemplo de fim de mundo, a impaciência que os carros têm com os carroceiros.
Sim, porque o código também prevê o compartilhamento com carroças, com carrinhos de mão, com os homens-carroça que vemos nas vias mais movimentadas de todas as cidades, cumprindo a penosa missão de ajudar na reciclagem do lixo que todos nós fabricamos diariamente.
Mas o dono do carro, aconchegado em seu conforto de ocupação média de 1,4 pessoas por veículo, já se achando com mais direitos que o ônibus com mais de cem passageiros, não raro buzina, impaciente, achando um absurdo ter que ficar uns minutinhos parado para a passagem do homem-carroça, ou ter que andar mais lentamente até que seja possível desviar dele com segurança.
Não raro esses donos de carros, além de buzinar, reclamar e xingar os trabalhadores das carroças, tiram fino deles, os atropelam, passam por cima de seus papelões.
E fazem, com isso, um verdadeiro papelão.
Porque esses senhores são, muitas vezes, moradores de rua, e trabalham o dia inteiro, um trabalho bastante sacrificante, que paga muito mal, carregando uma mercadoria que fica pesadíssima ao longo do dia, debaixo de sol de rachar, subindo e descendo ladeira, e tendo que correr riscos por causa da intolerância desses motoristas.
Eu acho que todo mundo deveria, algum dia, carregar uma carroça daquelas no lombo, num trânsito insano como o paulistano. Talvez assim aprendêssemos noções de convivência e respeito, inclusive com os demais veículos.
Bom, pra encerrar essa série de crônicas do fim do mundo de uma maneira mais otimista (porque o desânimo que os causadores do fim do mundo me trazem não derruba meu otimismo nato! :D), termino com uma iniciativa MUITO legal, do site Catarse, que é resumida no vídeo abaixo:
Categorias

Cristina Moreno de Castro Ver tudo
Mineira de Beagá, jornalista, blogueira, poeta, blueseira, atleticana, otimista, aprendendo a ser mãe. Redes: www.facebook.com/blogdakikacastro, twitter.com/kikacastro www.goodreads.com/kikacastro. Mais blog: http://www.otempo.com.br/blogs/19.180341 e http://www.brasilpost.com.br/cristina-moreno-de-castro
Parabéns mais uma vez Cris, esses temas raramente são divulgados e são importantes. O que falta no trânsito, na verdade, é o que falta na sociedade toda, RESPEITO.
CurtirCurtir
Exatamente! Respeito e bom senso.
CurtirCurtir
Desculpe o alongar do comentário, mas ó…
Rua da Passagem (trânsito)
Lenine
Os curiosos atrapalham o trânsito
Gentileza é fundamental
Não adianta esquentar a cabeça
Não precisa avançar no sinal
Dando seta pra mudar de pista
Ou pra entrar na transversal
Pisca alerta pra encostar na guia
Pára brisa para o temporal
Já buzinou, espere, não insista,
Desencoste o seu do meu metal
Devagar pra contemplar a vista
Menos peso do pé no pedal
Não se deve atropelar um cachorro
Nem qualquer outro animal
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Motoqueiro caminhão pedestre
Carro importado carro nacional
Mas tem que dirigir direito
Para não congestionar o local
Tanto faz você chegar primeiro
O primeiro foi seu ancestral
É melhor você chegar inteiro
Com seu venoso e seu arterial
A cidade é tanto do mendigo
Quanto do policial
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Travesti trabalhador turista
Solitário família casal
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Sem ter medo de andar na rua
Porque a rua é o seu quintal
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Boa noite, tudo bem, bom dia,
Gentileza é fundamental
Pisca alerta pra encostar na guia
Com licença, obrigado, até logo, tiau.
CurtirCurtir
Muito legal a letra dessa música!
Todo mundo tem direito igual e gentileza é fundamental — é isso aí!
CurtirCurtir