- Texto escrito por José de Souza Castro
- Atualizado às 11h40
Leio na Revista Fórum que a Polícia Federal em Minas iniciou na manhã desta quarta-feira, dia 17, a chamada Operação Rejeito, visando a desarticular uma organização criminosa responsável por crimes ambientais, corrupção e lavagem de dinheiro na área de mineração.
Mais tarde, na Globo News, ouvi do jornalista André Trigueiro que a notícia caiu como uma bomba no governo Romeu Zema (Novo), que vinha desmontando órgãos de fiscalização da atividade minerária.
A Justiça Federal em Minas emitiu 79 mandados para buscar, prender e bloquear bens no valor de R$ 1,5 bilhão que teriam sido obtidos pela organização criminosa. Pessoas nomeadas por Zema para altos cargos foram atingidas.
Informou a Fórum que a PF cumpriu 22 mandados de prisão. Dentre os presos, o empresário Gilberto Henrique Horta de Carvalho, ligado ao deputado federal mineiro Nikolas Ferreira, que atuava como lobista político do grupo criminoso.
“Na megaoperação”, continua a Fórum, “a PF prendeu ainda o delegado Rodrigo de Melo Teixeira, ex-superintendente da instituição em Minas Gerais, que ganhou projeção nacional em 2018, quando conduziu as investigações sobre o atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro em Juiz de Fora”.
Segundo a investigação, o grupo teria corrompido servidores públicos em diversos órgãos estaduais e federais de fiscalização e controle na área ambiental e de mineração, com a finalidade de obter autorizações e licenças ambientais fraudulentas. Assim, poderiam explorar minério de ferro em larga escala, inclusive em locais tombados e próximos a áreas de preservação.
Além do lucro calculado em R$ 1,5 bilhão, a investigação identificou projetos vinculados à organização criminosa com potencial econômico superior a R$ 18 bilhões.
As operações do grupo criminoso, conforme a PF, eram coordenadas por meio de um grupo de WhatsApp chamado “Três Amigos Mineração”.
O coordenador geral seria Alan Cavalcante do Nascimento, que distribuía a propina. O ex-deputado estadual João Alberto Paixão Lages atuava como relações institucionais, fazendo articulação política da quadrilha. O diretor técnico era Helder Adriano, que elaborava projetos e coordenava as operações junto aos órgãos ambientais.
O amigo de Nikolas Ferreira, Gilberto Carvalho, seria o articulador político na Assembleia Legislativa de Minas Gerais para exercer pressão sobre órgãos ambientais. Ele se definia nas redes sociais como “empresário, cristão e de direita”.
No Instagram, ele ostentava vida de luxo e compartilhava fotos dos amigos poderosos, como Nikolas Ferreira, Bruno Engler, Jair e Eduardo Bolsonaro. E posava em festas do Partido Liberal de Belo Horizonte, sempre ao lado de Nikolas.
A Justiça Federal determinou o afastamento da função pública das seguintes pessoas:
- Fernando Baliani da Silva, servidor da FEAM.
- Breno Esteves Lasmar, diretor geral do IEF.
- Fernando Benício de Oliveira Paula, integrante do Copam.
A Revista Fórum dá a lista praticamente completa dos afastados da função pública, dos que sofreram busca e apreensão, e das empresas com atividades suspensas.
São muitas. Eu, que já escrevi tanto aqui sobre falcatruas na atividade mineradora em Minas, só posso estar feliz de, finalmente, vê-las expostas.
***
Lista dos principais alvos da Operação Rejeito, da PF
Clique nos links para mais informações sobre cada um deles.
- Caio Mário Trivellato Seabra Filho, diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM). É advogado especialista em direito ambiental
- Guilherme Santana Lopes Gomes, ex-diretor da ANM
- Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como líder do grupo criminoso
- João Alberto Paixão Lages, sócio de Alan na mesma empresa e articulador do esquema, segundo a PF
- Helder Adriano de Freitas, sócio de Alan em empresa mineração e apontado como articulador com servidores públicos e representantes de órgãos ambientais para manipular processos de licenciamento
- Rodrigo de Melo Teixeira, delegado da Polícia Federal de Minas Gerais. Ex-diretor de Polícia Administrativa, da cúpula da PF entre 2023 e 2025. Ex-superintendente da PF em Minas. Apontado como gestor oculto das empresas Gmais e Brava e envolvido em negociações ilegais e uso indevido da PF
- Breno Esteves Lasmar, diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF)
- Fernando Benício de Oliveira Paula, membro do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam)
- Fernando Baliani da Silva, diretor de Gestão Regional da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM)
- Gilberto Henrique Horta de Carvalho, consultor ambiental, lobista e intermediário de propinas
- Felipe Lombardi Martins, do núcleo administrativo, encarregados dos saques e transporte de valores, pagamentos de vantagem indevida a servidores públicos, segundo a PF
- Jamis Prado de Oliveira Júnior, do núcleo administrativo, encarregados dos saques e transporte de valores, pagamentos de vantagem indevida a servidores públicos, segundo a PF
- Rodrigo Gonçalves Franco, ex-presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM)
- Leandro César Ferreira de Carvalho, servidor da ANM, que já tinha sido exonerado do cargo de gerente regional após outra operação da PF
- Arthur Ferreira Rezende Delfim, diretor de Apoio à Regularização Ambiental da FEAM e responsável por assinar licença
- Hidelbrando Canabrava Rodrigues Neto, sócio da Brava e articulador de corrupção
Fontes desta lista: g1, CNN e Fórum, além dos outros veículos linkados.
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