Descobertas musicais: duas canções para tempos difíceis

Eu ouvindo música no meu velho foninho de ouvido...
Eu ouvindo música no meu velho foninho de ouvido...

Já faz dois anos desde que compartilhei pela última vez uma descoberta musical aqui no blog (meu deus, sou só eu ou o tempo está passando RÁPIDO DEMAIS DA CONTA?!).

Era uma hábito até frequente nos primeiros anos de blog, mas ultimamente tenho preferido adicionar minhas descobertas diretamente em minha playlist no Spotify, que hoje já tem mais de 1.300 músicas, de vários estilos – e quem tiver um gosto musical parecido que me siga por lá 😉

Mas hoje resolvi trazer aqui para o blog duas músicas que me pegaram bastante nos últimos tempos. Não à toa, aparecem como as duas mais tocadas para mim neste mês: Everybody’s changing, na versão melancólica de Lily Allen, e Samba da Utopia, de Jonathan Silva (que já recomendei aqui recentemente).

Músicas mais tocadas na minha playlist neste mês.
Músicas mais tocadas na minha playlist neste mês.

São música que evocam sentimentos quase opostos.

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A primeira é uma música da banda inglesa Keane (do álbum de 2004 “Hopes and Fears”, esperanças e medos…), mas aparece nesta bela versão de Lily Allen em seu álbum “Alright, Still” (2006):

Eu ia me dar ao trabalho de tentar explicar por que esta canção, especialmente na versão dessa artista, me toca tanto, mas achei um texto no site “Letras” que diz tudo tão perfeitamente, que achei mais fácil copiar e colar:

“A música ‘Everybody’s Changing’ de Lily Allen aborda a sensação de desorientação e desconexão que muitas pessoas sentem em tempos de mudança. A letra expressa a dificuldade de acompanhar as transformações ao redor e a luta interna para se manter relevante e presente em um mundo em constante evolução. A repetição da frase ‘everybody’s changing’ [todo mundo está mudando] reforça a ideia de que a mudança é inevitável e universal, mas também destaca a sensação de isolamento de quem não consegue se adaptar tão rapidamente.

No primeiro verso, a cantora observa a dor e a confusão de alguém próximo, refletindo sobre como essa pessoa está tentando encontrar seu próprio caminho. A dor e a quebra mencionadas simbolizam as dificuldades emocionais e psicológicas enfrentadas durante períodos de transição. A incerteza sobre o motivo dessas mudanças adiciona uma camada de frustração e perplexidade, sugerindo que nem sempre é fácil entender o que está acontecendo ao nosso redor.

O refrão enfatiza a luta para se manter no ‘jogo’ da vida, tentando não apenas sobreviver, mas também lembrar de quem se é em meio a tantas mudanças. A sensação de não se sentir o mesmo, apesar dos esforços para se adaptar, é um tema central na música. A repetição do refrão reforça a ideia de que essa luta é contínua e universal. A música termina com uma nota de resignação, reconhecendo que, embora todos estejam mudando, a sensação de desconexão e a busca por identidade permanecem.

A interpretação de Lily Allen traz uma vulnerabilidade e sinceridade que ressoam com muitos ouvintes, especialmente aqueles que se sentem perdidos em tempos de mudança. A combinação de uma melodia melancólica com letras introspectivas cria uma atmosfera que captura perfeitamente a essência da inquietude e da busca por estabilidade em um mundo em constante transformação.”

A verdade é que eu, com meus 40 anos recém-completos, tenho me sentido muito perdida em relação às mudanças do mundo, e muito sem vontade de acompanhá-las. Tenho achado esta época de retrocesso político preocupante, pra dizer o mínimo. Junte-se a isso todos os outros males deste século (escalada de fake news, mudanças climáticas, polarização, ódio, intolerância, redes sociais) e temos um combo difícil de aguentar.

Minha velha paixão pelo jornalismo também enfraqueceu, de uns anos pra cá, depois das muitas mudanças praticadas nas redações e na forma de fazer jornalismo mais baseada em caça-cliques, em agradar aos algoritmos, em entreter, do que em informar/educar/dar voz a quem precisa/fazer refletir, que eram velhos pilares quando comecei nesta carreira, lá atrás.

Enfim, tento “me manter no jogo”, como diz a canção, mas cada dia que passa mais quero me refugiar nos livros e filmes, mais me sinto sem saída e sem vontade de acompanhar as atuais mudanças, seja no jornalismo, na política, na tecnologia ou nas relações interpessoais.

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Dito isso, bem no dia do meu aniversário, 27 de março, fui a um sarau de poesia na escola do meu filho, e os alunos do quinto ano me apresentaram a uma música que eu não conhecia, que é este Samba da Utopia, que Jonathan Silva lançou num álbum de mesmo nome, em 2018.

De novo recorro a um belo texto que encontrei no site Letras, para traduzir meu sentimento quando conheci esta música:

“A música ‘Samba da Utopia’, de Jonathan Silva, é uma ode à resistência e à esperança em tempos difíceis. A letra utiliza uma série de metáforas para ilustrar como as palavras podem ser ferramentas poderosas para enfrentar adversidades. Cada estrofe apresenta um cenário negativo e, em resposta, uma palavra que simboliza uma forma de resistência ou superação. Por exemplo, quando o mundo fica pesado, a palavra ‘poesia’ é evocada como um alívio, uma forma de tornar a vida mais leve e suportável. (…)

O clímax da música é a chegada da ‘tirania’ no quintal, um momento que exige ação coletiva. Aqui, a música convoca todos a pegarem instrumentos de percussão e irem às ruas gritar a palavra ‘utopia’. A utopia, nesse contexto, não é vista como um sonho inalcançável, mas como uma meta a ser perseguida, um ideal que guia a luta por um mundo melhor. Jonathan Silva, com sua habilidade lírica, transforma palavras em armas de resistência, mostrando que a música e a poesia têm o poder de inspirar e mobilizar.”

Enquanto a primeira canção traduz minha desesperança diante de um mundo em transformação, a segunda evoca a resistência para os tempos difíceis (inclusive a volta da tirania, que estamos vivendo nestes anos 2020). A primeira é um desabafo, a segunda é uma arma (ou escudo). A primeira é um resumo dos problemas, a segunda é uma proposta de solução para eles.

São igualmente belas e complementares.

Que possam trazer alento e paz de espírito nos momentos em que só uma boa música for capaz disso.

Como comprar o livro de crônicas (Con)vivências, de Cristina Moreno de Castro, do blog da kikacastro.

P.S. Tem outra música que também sempre ajuda, sobre a qual falei aqui no blog em 2018 e em 2021. Mas, ao contrário das outras duas, ela não funciona bem como válvula de escape ou como proposta de superação, é apenas resignada. É um “tudo passa, então apenas sigamos“. Não deixa de ter seu mérito.

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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