O Papai Noel dentro de cada um de nós

Em 2013, quando eu ainda não era mãe, escrevi aqui um post defendendo a importância de estimular as crianças a acreditarem em Papai Noel. Disse o seguinte:

Papai Noel, o “mito”, é parte importante desse estado de espírito. Tanto é que, até hoje, com 28 anos de idade, gosto de cultivar a ideia de que existem dezenas de Nicolaus pelo mundo, dispostos a distribuir presentes para fazer a alegria fácil das crianças. (…)

Se até para os adultos acreditar nele é saudável, imagina para as crianças. Elas têm o direito de acreditar em fantasias e desenvolver bastante a imaginação. É a época da vida para isso e só fará o bem para elas no futuro.

Meus pais também pensavam assim e sempre incentivaram que eu acreditasse em Papai Noel. Minha mãe escrevia cartas, fingindo ser ele, e os dois escondiam os presentes no maleiro e só colocavam na árvore na madrugada de 24 para 25 de dezembro, seguindo todo o ritual (que meus irmãos mais velhos ajudavam a preservar, sem estragos). A mágica só foi desfeita por minha própria culpa: reconheci a letra da minha mãe na última das cartinhas e perguntei a ela, que já não teve como negar depois de um tempo. Mas meus pais fizeram a mágica durar pelo máximo que puderam e só fico feliz e agradecida por isso.

Exatos dez anos depois, quando eu já era mãe do meu querido Luiz, voltei a bater na mesma tecla, quando escrevi:

As crianças de hoje logo vão crescer e virar adultos e terão todas as oportunidades do mundo de ler apenas coisas científicas, jornalísticas, históricas, coisas altamente realistas. A época de saberem mais sobre o mundo mágico e encantador dos seres fantásticos é agora.

Além de propiciarem toda essa alegria que você vê nos olhinhos do Luiz, esses seres ainda expandem a imaginação e a criatividade para sempre. Nos ensinam o valor das coisas invisíveis – como o amor, o respeito, a amizade.

Transformam nossa primeira infância em um período encantador e feliz, cheio de momentos lúdicos que ficarão guardados na nossa memória, aos quais poderemos recorrer sempre que a vida adulta nos massacrar com suas chatices.

Então, sim, fale com as crianças sobre Coelhinho da Páscoa, Papai Noel e afins. Por favor, faça isso. Você estará ajudando a construir uma infância mais feliz, criativa e iluminada, que servirá de farol para uma vida inteira.

Eu sempre cultivei a magia do Papai Noel aqui em casa. Mas, logo depois do Natal de 2023, o Luiz (assim como eu, quando tinha a idade dele) ficou desconfiado e me fez perguntas. Acabei resolvendo contar a ele que o Papai Noel que a gente vê nos filmes não existe (embora eu siga acreditando piamente que o espírito natalino que ele incute em nós seja real e eterno).

O Luiz chorou, chorou. Ficou inconsolável (mais ou menos como quando a Fada do Bico levou embora sua chupeta, aos 3 aninhos). Disse que o Natal dele estava destruído para sempre. Mas também disse, em outros momentos, que era muito grato por eu ter propiciado vários Natais com Papal Noel para ele.

Fiquei triste também, porque um pedacinho da infância dele foi levada no exato momento em que substituí a magia de Noel pela dura realidade. Fiquei pensando se tinha feito mal em contar naquele momento, se ele estava pronto. Mas nunca me arrependi de ter cultivado essa doce fantasia por todos esses natais.

Recentemente, quando eu lia o ótimo “Uma Árvore Cresce no Brooklyn“, fiquei mais leve ao chegar às páginas em que a sábia Mary Rommely dá conselhos a sua filha, que tinha acabado de dar à luz. Ela diz que as crianças devem acreditar no Papai Noel até os 6 anos. E, quando a filha rebate, dizendo que não faz sentido ensinar sobre algo em que ela mesma não acredita, a mãe usa os mesmos argumentos que eu tinha usado nos posts que escrevi neste blog em 2013 e 2023:

“A criança precisa ter uma coisa valiosa que se chama “imaginação”. A criança precisa ter um mundo secreto em que vivem coisas que nunca existiram. É necessário que ela acredite. Ela tem que começar acreditando em coisas que não são deste mundo. Aí, quando o mundo ficar feio demais para se viver nele, a criança pode buscar em sua mente e viver na imaginação. (…) É por ter essas coisas na mente que eu consigo viver além daquilo que eu tenho para viver.”

A filha ainda argumenta que, quando a criança descobrir que Papai Noel não existe, vai ficar decepcionada e vai achar que ela mentiu. E Mary também tem uma resposta maravilhosa para isso:

“É uma coisa boa aprender a verdade por si mesmo. Primeiro acreditar com todo o coração, depois não acreditar, é bom também. É um alimento para as emoções e faz elas se tornarem mais fortes. Quando ela for uma mulher e a vida e as pessoas a decepcionarem, ela já terá experiência em decepção e o golpe não será tão duro. (…) Sofrimento é bom também. Torna uma pessoa rica em caráter.”

Assim, cheguei a este Natal, o primeiro do Luiz sem Papai Noel, feliz por ter ensinado ele a acreditar em um mundo mágico, onde ele sempre poderá se refugiar quando a realidade estiver chata ou difícil demais. E aliviada porque a decepção que ele teve ajudou a torná-lo um garotinho ainda mais incrível.

Neste ano, já com essa nova sabedoria em seu coração, apresentei ao Luiz o projeto Papai Noel dos Correios. Pegamos a cartinha do Davi, de 4 anos, que pedia um carrinho do Batman. Compramos juntos o presente dele, fizemos um cartão bem lindo como se fôssemos o bom velhinho, e embrulhamos tudo com capricho. Luiz estava eufórico pela possibilidade de fazer feliz um garotinho que ele nem conhece. E esse é, para mim, o verdadeiro espírito de Papai Noel. 

Como bem dizia a carta a uma garotinha de 8 anos, escrita em 1987:

“Papai Noel existe. Ele existe da mesma forma que o amor, a generosidade e a devoção existem, e você sabe que essas coisas abundam e dão à sua vida maior beleza e alegria.”

Desejo a todos que cheguem ao Natal cercados de muita magia, imaginação e fantasia, com todos os sorrisos puros das crianças que vocês já foram um dia vindo à tona mais uma vez, e com o espírito de Noel tornando este mundo mais solidário, generoso e sustentável.

Feliz Natal! Ho, ho, ho! 🙂

 

Você também vai gostar destes posts:

• Filmes natalinos para assistir com a família toda – e ir entrando no clima de Natal
• Luzes de Natal na Praça da Liberdade em 2023: fotos e vídeos
• ‘Sim, Papai Noel existe’: leia a carta escrita há 120 anos e que ainda comove

➡ Quer reproduzir este ou outro conteúdo do meu blog em seu site? Tudo bem!, desde que cite a fonte (texto de Cristina Moreno de Castro, publicado no blog kikacastro.com.br) e coloque um link para o post original, combinado? Se quiser reproduzir o texto em algum livro didático ou outra publicação impressa, por favor, entre em contato para combinar.

➡ Quer receber os novos posts por email? É gratuito! Veja como é simples ASSINAR o blog! Saiba também como ANUNCIAR no blog e como CONTRIBUIR conosco! E, sempre que quiser, ENTRE EM CONTATO 😉