Ultradireitista Elon Musk inicia campanha pela desobediência das leis brasileiras – notadamente do STF – no mesmo dia em que ministros decidem, por unanimidade, que Forças Armadas nunca foram “poder moderador” no Brasil
Texto escrito por José de Souza Castro:
Com o voto do ministro Dias Toffoli inserido hoje no plenário virtual, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que as Forças Armadas não têm atribuição de poder moderador – “poder” muito usado por Bolsonaro para tentar o golpe contra Lula.
E hoje mesmo iniciou-se o movimento para desobedecer as decisões judiciais, reforçada pelo dono do X, antigo Twitter, o bilionário Elon Musk, amigo de Bolsonaro.
Cinco ministros do STF – Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, André Mendonça, Carmen Lúcia e Kassio Nunes Marques – acompanharam integralmente o relator Luiz Fux, enquanto Flávio Dino, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Alexandre Moraes e Dias Toffoli, que também votaram contra o poder moderador das Forças Armadas, acrescentaram ao voto de Fux algumas propostas.
Dino, por exemplo, propôs que a decisão do STF deve ser encaminhada não só para a Advocacia Geral da União (AGU) como também para o ministro de Estado da Defesa, “a fim de que – pelos meios cabíveis – haja a difusão para todas as organizações militares, inclusive Escolas de formação, aperfeiçoamento e similares”.
Como se vê, até os dois ministros indicados ao Supremo pelo ex-presidente da República votaram contra ele.
Bolsonaro, generais das Forças Armadas e ex-ministros de Estado são investigados pela Polícia Federal por tentativa de golpe. O grupo teria produzido documentos e planejado ações para anular o resultado das últimas eleições, evitar a posse de Lula e prender ministros do STF.
O medo de Bolsonaro é que ele mesmo seja preso. Sua esperança é que a decisão do Supremo seja desrespeitada, a exemplo do que promete fazer o dono da plataforma X.
Ou então que o Congresso Nacional o anistie. Por isso, na noite de ontem, numa live do filho Eduardo Bolsonaro, convocou os correligionários para um grande ato marcado para o dia 21 de abril no Rio, aproveitando a homenagem a Tiradentes para tentar comover os legisladores em favor da anistia aos denunciados pelo 8 de janeiro do ano passado.
Como se sabe, Tiradentes se tornou um mártir, pois foi o único enforcado na chamada Inconfidência Mineira que tentava libertar o Brasil do domínio português.
Dito isso, vamos ao que afirmou Elon Musk neste domingo (7). Em sua conta oficial no X, ele disse, marcando o perfil oficial de Alexandre de Moraes, em tradução livre:
“Em breve, X publicará tudo o que é exigido por @Alexandre e como essas solicitações violam a legislação brasileira. Este juiz traiu descaradamente e repetidamente a constituição e o povo do Brasil. Ele deveria renunciar ou sofrer impeachment. Vergonha @Alexandre, vergonha.”

À noite, ainda no domingo, o ministro Alexandre de Moraes determinou a inclusão do bilionário dono do antigo Twitter como investigado no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas e seu financiamento.
Ainda, que a rede social X deve se abster de desobedecer qualquer ordem judicial já proferida pelo STF ou pelo TSE.
Moraes também “citou a relação do caso com os inquéritos que apuram a atuação de diretores do Google e do Telegram no Brasil em suposta campanha contra o projeto de lei das Fake News e o da tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado democrático de Direito”. As aspas são de reportagem da “Folha de S.Paulo” sobre a decisão.
Acrescenta a repórter Constança Rezende:
“Além disso decidiu que a provedora da rede X deve se abster de realizar qualquer reativação de perfil cujo bloqueio foi determinado pelo STF, sob pena de multa diária de R$ 100 mil por perfil e responsabilidade por desobediência à ordem judicial dos responsáveis legais pela empresa no Brasil”.
Ainda no domingo, Bolsonaro disse que durante o ato no dia 21 de abril vai falar do “assunto do momento, que é a questão do Twitter”. Segundo o ex-presidente, Musk assumiu a briga pela liberdade de imprensa, e se tornou um símbolo dessa luta. “A nossa liberdade, em grande parte, está nas mãos dele”, acrescentou.

Também reagiram na mesma noite, depois da fala de Musk, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimentel. Este escreveu que o Brasil “não é a selva da impunidade e nossa soberania não será tutelada pelo poder das plataformas de internet e do modelo de negócio das big techs“.
Na tarde desta segunda-feira (8), o presidente o STF, Luís Roberto Barroso, também emitiu uma nota, dizendo, sem citar Elon Musk, que “o inconformismo contra a prevalência da democracia continua a se manifestar na instrumentalização criminosa das redes sociais“.
O ministro disse ainda (grifos nossos):
“O Supremo Tribunal Federal atuou e continuará a atuar na proteção das instituições, sendo certo que toda e qualquer empresa que opere no Brasil está sujeita à Constituição Federal, às leis e às decisões das autoridades brasileiras”.
E finalizou:
“Decisões judiciais podem ser objeto de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado. Essa é uma regra mundial do Estado de Direito e que faremos prevalecer no Brasil.”
Estamos esperando e torcendo por isso.
***
Você também vai gostar destes posts:
- Bolsonaro inelegível: os melhores trechos do voto do relator do TSE
- Corrupção na era Bolsonaro fez Brasil despencar em ranking mundial
- Filmes e livros que todo bolsonarista deveria ver e ler
- ‘Anos de chumbo’, de Chico Buarque: uma sociedade adoecida
- Bolsonaristas criminosos em Brasília: capas de jornais do Brasil e do mundo
- Mais de 50 jeitos de chamar os ‘manifestantes’ bolsonaristas em Brasília
- As 7 bandeiras que todos deveriam defender
- Você já perdeu alguém que ama para as teorias conspiratórias?
➡ Quer reproduzir este ou outro conteúdo do meu blog em seu site? Tudo bem!, desde que cite a fonte (texto de José de Souza Castro, publicado no blog kikacastro.com.br) e coloque um link para o post original, combinado? Se quiser reproduzir o texto em algum livro didático ou outra publicação impressa, por favor, entre em contato para combinar.
➡ Quer receber os novos posts por email? É gratuito! Veja como é simples ASSINAR o blog! Saiba também como ANUNCIAR no blog e como CONTRIBUIR conosco! E, sempre que quiser, ENTRE EM CONTATO 😉
Descubra mais sobre blog da kikacastro
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.




No dia 7 de fevereiro deste ano, a Polícia Federal federal solicitou ao STF autorização para abertura de inquérito contra o deputado federal mineiro Nikolas Ferreira, do PL, por ter chamado o presidente Lula de ladrão, em novembro de 2023, durante evento na ONU. Ontem o ministro Luiz Fux deu a autorização, e o deputado comentou a decisão em sua conta na rede social X (ex-Twitter), em português e inglês, associando-a ao pedido por mais informações feitas por Elon Musk, o bilionário dono do X, contra o ministro Alexandre Moraes. Deputado brasileiro “patriota” manifestando-se em inglês para atacar decisão do STF e defender Musk está virando rotina.
CurtirCurtir
Da Revista Fórum, ontem:
Aliado extremista de Jair Bolsonaro (PL), Eduardo Girão (Novo-CE) encerrou uma vergonhosa sessão do Senado, nesta terça-feira (9), bajulando Elon Musk com um discurso em inglês à lá Joel Santana no plenário da casa.
“My name is Eduardo Girao and I am a Senator from Brazil by the State of Ceará. I speak from the Plenary of the Senate of this country now to thank you for your support for free speech in Brazil. Your positions against authoritarian decisions are a reinforcement to the return of democracy in Brazil and an answer to the prayers of the Brazilian people, who were always known for their joy and vibrant spirit, but now are suffocated by fear. Your actions serve as a flame of hope!
Thank you very much, Mr. Elon Musk”, discursou Girão, lendo um papelzinho em inglês.
CurtirCurtir