Obrigada, Ziraldo! (1932-2024) É só o que quero dizer hoje

Ziraldo, sempre bem-humorado, em foto de Fernando Frazão (Agência Brasil).
Ziraldo, sempre bem-humorado, em foto de Fernando Frazão (Agência Brasil).

Eu estava no cinema, vendo um filme de criança com meu filho. Quando saí da sessão, havia várias mensagens no meu celular falando que Ziraldo tinha morrido. “Você viu?”. Morreu dormindo, como o vô Passarinho.

Ziraldo mudou a minha infância e talvez minha vida toda, assim como Helvécio Ratton, que me escalou para seu filme do Menino Maluquinho.

Mas Ziraldo fez mais: ensinou a várias gerações de brasileiros sobre a importância de uma infância feliz. Do brincar na rua. Dos livros de aventuras. Da criatividade e da imaginação. E, sim, da irreverência, ou “maluquice”, que ele usou inclusive para criticar os poderosos da ditadura militar (“só dói quando eu rio”).

Obrigada, Ziraldo! Já dei continuidade ao seu legado ensinando ao meu filho, hoje com 8 anos, o poder de tudo isso que você me ensinou. E essa lição ainda vai longe, de geração em geração.

Porque é isso que acontece quando as obras são eternas.

Texto que fiz em homenagem ao Ziraldo.
Texto que fiz em homenagem ao Ziraldo.

O dia em que conheci Ziraldo

O jornal amarelado que meu pai guardou para mim em uma pasta traz a data: 7 de junho de 1994. Foi quando o “Estado de Minas” registrou o dia em que conheci Ziraldo.

Diz o texto de Déa Januzzi que, naquele dia, o escritor havia conhecido todas as crianças escaladas para o filme de Ratton e havia “aprovado” todas.

Foto, infelizmente sem crédito, publicada no jornal 'Estado de Minas' em 7/6/1994, mostra o dia em que Ziraldo conheceu os atores mirins do filme Menino Maluquinho.
Foto, infelizmente sem crédito, publicada no jornal ‘Estado de Minas’ em 7/6/1994, mostra o dia em que Ziraldo conheceu os atores mirins do filme Menino Maluquinho. Eu sou a primeira criança que aparece sentadinha na mureta.

Na verdade, ele não tinha me aprovado. Lembro que ele observou que meu cabelo não era cacheado e rebelde como o da Julieta deveria ser.

Mal sabia ele que eu estava longe de ser a “menina maluquinha”, aquela garota da pá virada que era a Julieta – pelo contrário, eu era comportadinha, sempre fui.

Foto de Gualter Naves publicada no jornal 'Hoje em Dia', em 12/6/1994, também sobre o encontro de Ziraldo com as crianças do filme Menino Maluquinho.
Foto de Gualter Naves publicada no jornal ‘Hoje em Dia’, em 12/6/1994, também sobre o encontro de Ziraldo com as crianças do filme Menino Maluquinho.

A produção do filme resolveu o problema do cabelo (fizeram um permanente no meu) e eu resolvi o problema da peraltice seguindo o roteiro à risca, com minha atuação mequetrefe (mas feita com carinho, rs).

Antes disso, eu já tinha conhecido Ziraldo ao ler seu livro “Menino Maluquinho”, que chegou para mim só depois que eu já estava no elenco do filme. Ou seja, eu nunca tinha lido Ziraldo antes dos 9 anos.

Felizmente, apresentei Ziraldo ao meu filho com mais antecedência do que meus pais me apresentaram. Luiz já leu também “Uma Professora Muito Maluquinha”, “Flicts”, e muitos outros. É um de seus autores favoritos, ao lado de Ruth Rocha e Ana Maria Machado.

Quando contei a ele que Ziraldo tinha morrido, correu para o Canva e fez esta homenagem em vídeo para nosso herói:

O dia em que entendi Ziraldo

Foi só muitos anos depois que fui realmente entender Ziraldo.

Quando a gente é criança, falar sobre a importância de brincar é o óbvio ululante. Só depois de adulta entendi como foi essencial Ziraldo ter chamado a atenção para a infância feliz.

Só depois de adulta também é que fui entender ele defendendo, em inúmeras entrevistas, a importância de ler por prazer, por gosto, de como é mais importante ensinar a uma criança a gostar de ler do que matemática ou regras gramaticais. “Ler é mais importante que estudar”, ele sempre dizia. Hoje é quase um lema que carrego, e muito graças à visão genial e muito avançada (ainda mais para seu tempo) de Ziraldo.

Outro ensinamento que aprendi com ele, mas só bem depois que o conheci, foi sobre a importância do bom humor. Inclusive como arma.

Capa do livro de Ziraldo 'Só Dói Quando eu Rio'.

O bom humor dele era tão ferino que foi usado como sua espada contra os milicos armados e outros políticos da nossa democracia mambembe, tanto em “O Pasquim” quanto em outras publicações que ele inventou, como a “Bundas”, e “OPasquim21“.

Obrigada, Ziraldo!

Hoje vejo que ele era uma cabeça brilhante, pensante, genial, e muito à frente de seu tempo. E, sim, sempre é triste quando pessoas desse naipe deixam nosso mundo.

Mas, como escrevi lá em cima, sua obra é eterna. Como muito poucas pessoas, ele conseguiu emocionar e cativar e engajar e entreter gerações de brasileiros, desde os anos 1950 até os anos 2020. E, claro, o filme de Ratton contribuiu muito para isso, porque o que tem de criança hoje, da geração do ChatGPT, que é alucinada com esse filme, não tá no gibi!

Reencontro de quatro atores que participaram do filme Menino Maluquinho: Carol (Carolina Galvão), Julieta (Cristina Castro), Toquinho (Bernardo Cunha) e Quincas (Gustavo Toledo), na rua Congonhas, cenário do filme, em 12 de outubro de 2022, 28 anos após as gravações. Foto: Vitor Maciel / Made in Minas Gerais
Reencontro de quatro atores que participaram do filme Menino Maluquinho, na rua Congonhas, cenário do filme, em 2022. E uma garotinha, da geração atual, ainda fã do filme de 1995. Foto: Vitor Maciel / Made in Minas Gerais

Obrigada, Ziraldo! Obrigada por ter me ensinado a ser uma pessoa muito mais “maluquinha”. Obrigada por ter sido o vô Passarinho de todos nós! ❤

***

Você é fã de Menino Maluquinho? Então leia também:

➡ Quer reproduzir este ou outro conteúdo do meu blog em seu site? Tudo bem!, desde que cite a fonte (texto de Cristina Moreno de Castro, publicado no blog kikacastro.com.br) e coloque um link para o post original, combinado? Se quiser reproduzir o texto em algum livro didático ou outra publicação impressa, por favor, entre em contato para combinar.

 

➡ Quer receber os novos posts por email? É gratuito! Veja como é simples ASSINAR o blog! Saiba também como ANUNCIAR no blog e como CONTRIBUIR conosco! E, sempre que quiser, ENTRE EM CONTATO 😉

Canal do blog da kikacastro no WhatsAppReceba novos posts de graça por emailResponda ao censo do Blog da Kikafaceblogttblog


Descubra mais sobre blog da kikacastro

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Avatar de Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

4 comments

  1. Essa voz de criança do vídeo sobre quem foi Ziraldo é do Luiz, que também fez sozinho todo o vídeo. depois que a mamãe Kika contou sobre a morte dele ao pequeno fã do Menino Maluquinho. Registrado pelo fã vô Zé.

    Curtir

  2. amei o post e principalmente o vídeo (que eu fiz)

    hi hi hi hi hi hi

    assinado com amor Luiz o filho de 8 anos dela💕💖

    Curtir

Deixe um comentário

Descubra mais sobre blog da kikacastro

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue lendo