Eu estava no cinema, vendo um filme de criança com meu filho. Quando saí da sessão, havia várias mensagens no meu celular falando que Ziraldo tinha morrido. “Você viu?”. Morreu dormindo, como o vô Passarinho.
Ziraldo mudou a minha infância e talvez minha vida toda, assim como Helvécio Ratton, que me escalou para seu filme do Menino Maluquinho.
Mas Ziraldo fez mais: ensinou a várias gerações de brasileiros sobre a importância de uma infância feliz. Do brincar na rua. Dos livros de aventuras. Da criatividade e da imaginação. E, sim, da irreverência, ou “maluquice”, que ele usou inclusive para criticar os poderosos da ditadura militar (“só dói quando eu rio”).
Obrigada, Ziraldo! Já dei continuidade ao seu legado ensinando ao meu filho, hoje com 8 anos, o poder de tudo isso que você me ensinou. E essa lição ainda vai longe, de geração em geração.
Porque é isso que acontece quando as obras são eternas.

O dia em que conheci Ziraldo
O jornal amarelado que meu pai guardou para mim em uma pasta traz a data: 7 de junho de 1994. Foi quando o “Estado de Minas” registrou o dia em que conheci Ziraldo.
Diz o texto de Déa Januzzi que, naquele dia, o escritor havia conhecido todas as crianças escaladas para o filme de Ratton e havia “aprovado” todas.

Na verdade, ele não tinha me aprovado. Lembro que ele observou que meu cabelo não era cacheado e rebelde como o da Julieta deveria ser.
Mal sabia ele que eu estava longe de ser a “menina maluquinha”, aquela garota da pá virada que era a Julieta – pelo contrário, eu era comportadinha, sempre fui.

A produção do filme resolveu o problema do cabelo (fizeram um permanente no meu) e eu resolvi o problema da peraltice seguindo o roteiro à risca, com minha atuação mequetrefe (mas feita com carinho, rs).
Antes disso, eu já tinha conhecido Ziraldo ao ler seu livro “Menino Maluquinho”, que chegou para mim só depois que eu já estava no elenco do filme. Ou seja, eu nunca tinha lido Ziraldo antes dos 9 anos.
Felizmente, apresentei Ziraldo ao meu filho com mais antecedência do que meus pais me apresentaram. Luiz já leu também “Uma Professora Muito Maluquinha”, “Flicts”, e muitos outros. É um de seus autores favoritos, ao lado de Ruth Rocha e Ana Maria Machado.
Quando contei a ele que Ziraldo tinha morrido, correu para o Canva e fez esta homenagem em vídeo para nosso herói:
O dia em que entendi Ziraldo
Foi só muitos anos depois que fui realmente entender Ziraldo.
Quando a gente é criança, falar sobre a importância de brincar é o óbvio ululante. Só depois de adulta entendi como foi essencial Ziraldo ter chamado a atenção para a infância feliz.
Só depois de adulta também é que fui entender ele defendendo, em inúmeras entrevistas, a importância de ler por prazer, por gosto, de como é mais importante ensinar a uma criança a gostar de ler do que matemática ou regras gramaticais. “Ler é mais importante que estudar”, ele sempre dizia. Hoje é quase um lema que carrego, e muito graças à visão genial e muito avançada (ainda mais para seu tempo) de Ziraldo.
Outro ensinamento que aprendi com ele, mas só bem depois que o conheci, foi sobre a importância do bom humor. Inclusive como arma.
O bom humor dele era tão ferino que foi usado como sua espada contra os milicos armados e outros políticos da nossa democracia mambembe, tanto em “O Pasquim” quanto em outras publicações que ele inventou, como a “Bundas”, e “OPasquim21“.
- Leia também: Brincando com coisa séria: como ‘O Pasquim’ ridicularizou e desmoralizou a ditadura militar
Obrigada, Ziraldo!
Hoje vejo que ele era uma cabeça brilhante, pensante, genial, e muito à frente de seu tempo. E, sim, sempre é triste quando pessoas desse naipe deixam nosso mundo.
Mas, como escrevi lá em cima, sua obra é eterna. Como muito poucas pessoas, ele conseguiu emocionar e cativar e engajar e entreter gerações de brasileiros, desde os anos 1950 até os anos 2020. E, claro, o filme de Ratton contribuiu muito para isso, porque o que tem de criança hoje, da geração do ChatGPT, que é alucinada com esse filme, não tá no gibi!

Obrigada, Ziraldo! Obrigada por ter me ensinado a ser uma pessoa muito mais “maluquinha”. Obrigada por ter sido o vô Passarinho de todos nós! ❤
***
Você é fã de Menino Maluquinho? Então leia também:
- Por onde anda a turma do Menino Maluquinho, 20 anos depois
- O reencontro da turma do Menino Maluquinho em 2016
- O reencontro da turma do filme ‘Menino Maluquinho’, 28 anos depois
- Infância Maluquinha
- Post para as crianças maluquinhas
- O dia em que conheci a Hebe Camargo
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Essa voz de criança do vídeo sobre quem foi Ziraldo é do Luiz, que também fez sozinho todo o vídeo. depois que a mamãe Kika contou sobre a morte dele ao pequeno fã do Menino Maluquinho. Registrado pelo fã vô Zé.
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Isso! Vou acrescentar ao post essa explicação hehe
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amei o post e principalmente o vídeo (que eu fiz)
hi hi hi hi hi hi
assinado com amor Luiz o filho de 8 anos dela💕💖
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Amei seu vídeo! Você é puro talento! ❤
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