Meu aniversário de 39 anos: exercício de memória e dias perfeitos

Algumas das memórias de dias perfeitos registradas em um álbum de fotos.
Algumas das memórias de dias perfeitos registradas em um álbum de fotos.

Terminei o último post do blog, sobre o filme “Dias Perfeitos“, com a seguinte provocação aos leitores:

“O que é um dia perfeito para você? Ou: do que um dia precisa para ser perfeito? Será que a vida é mesmo tão complicada ou somos nós que a complicamos demais? E reclamamos demais…? Quando será que faremos como Hirayama e enxergaremos o belo no simples?”

Hoje é meu aniversário. Faço 39 anos. E, como costuma acontecer perto de aniversários, tenho estado pensativa nos últimos dias (se bem que sempre sou pensativa, rs). Assistir a este belo filme no último domingo me fez pensar, por exemplo, no que torna uma vida boa e feliz.

Chego aos 39 anos com a certeza de que tenho vivido uma boa vida. Ela é perfeita? Não, claro que não. Tive sustos, perrengues, provocações, tristezas, baques, sacanagens, pisões, deslealdades, assédios, medos, rupturas e perdas de todo tipo – como qualquer pessoa.

Mas, quando olho pra trás, o que minha memória realça são as coisas boas. Boas como os dias perfeitos, boas como os pequenos prazeres descomplicados e prosaicos mostrados no filme de Wim Wenders.

20 coisas que podem tornar um dia perfeito

Para mim, um dia perfeito inclui, por exemplo (pensado em ordem totalmente aleatória):

  • dormir depois de ler um bom livro, na hora que os olhos começam a pesar, sem nada me impedindo de apagar a luz do abajur e descansar;
  • ter uma boa noite de sono, sem interrupções, sem a Chica arranhando a porta, de preferência com sonhos divertidos;
  • acordar antes do despertador, com a sensação de descanso completo;
  • tomar um café da manhã quentinho, sentada na mesa, com o sol batendo por perto, ou no friozinho de outono;
  • nadar ou fazer spinning e me sentir bem disposta e animada no fim do exercício;
  • receber abraços e beijinhos do Luiz e ouvir ele dizendo, pela milésima vez, que sou a melhor mamãe do universo;
  • encontrar meu pai no clube e ficar papeando com ele sobre livros, filmes, blog, política, Luiz, jornalismo, qualquer coisa;
  • entrar em casa e encontrar ela arrumadinha, sem bagunça, e ver nossos quadrinhos, nossa rede, nossas coisinhas com a nossa cara;
  • entrar em casa e ser recebida por um pulo feliz da Chica e gritinhos de felicidade do Luiz e sorriso feliz de saudades do Beto;
  • encontrar amigos íntimos ou antigos, aqueles com quem tenho assunto pra falar, e não exigem aquele esforço que sinto sempre que tenho que socializar com desconhecidos ou com quem não tenho a menor afinidade;
  • não ter planos, não ter que correr, como quando estou de folga ou de férias e posso inventar uma sauna ou um cinema no meio da tarde, sem olhar para o relógio nem uma única vez;
  • andar sem pressa pela rua, caminhar por aí, sozinha ou com o Luiz de mãos dadas, ou com o Beto, ou com os dois, ou passeando com a Chica, ou tudo junto;
  • estourar pipoca na panela e ver um filme na TV, ou ir ao cinema e pedir um balde de pipoca e comer até não aguentar mais (amo pipoca!);
  • sentar com o Luiz na arinha e jogar jogos de cartas por horas a fio, talvez ouvindo música, talvez tomando um vinho também;
  • escolher filmes aleatórios e fazer cineminha com o Luiz numa sexta à noite;
  • deitar numa rede;
  • admirar uma árvore bonita ou um céu pintado ou qualquer pedaço de verde ou natureza, de preferência na roça mesmo;
  • sentar e escrever um post no blog, com calma, sem interrupções, deixando fluir meus pensamentos;
  • ouvir do Beto que meu post ficou muito legal – aliás, não estar na correria e poder conversar com ele com calma, sem ele estar olhando para o celular, ir até a escola juntos buscar o Luiz ou ir até algum lugar juntos, os três, para comer algo ou tomar uma cervejinha ou ver um basquete ou qualquer coisa assim;
  • no trabalho, sentir que cumpri uma missão ou desafio difíceis e me sentir reconhecida por isso, sem nunca prejudicar ninguém pelo caminho.

E assim por diante. São muitas coisinhas que tornam nossos dias – e, consequentemente, nossas vidas – perfeitos. E não é preciso ter tudo isso num dia só. Nem cabe, na verdade. Basta um ou dois itens para arrancar sorrisos ou boas sensações que nos acompanharão por algum tempo. Também não tem nada a ver com bens ou dinheiro, como mostra o filme.

O perfeito no simples, no pequeno, no pouco, ainda que não dure pra sempre.

Exercício de memória e o olhar para o bom

Já faz uns bons anos que tenho uma prática que é de anotar na agenda, no fim do dia, o principal que aconteceu. É um exercício para a minha memória ruim, que gosto de fazer para ela não enferrujar. Ao mesmo tempo, é uma rotina que me dá a sensação, no fim do dia, de ter vivido, de não ter desperdiçado aquelas 24 horas. Dá um senso de utilidade a elas.

Mas sabe o que eu faço? Eu só anoto as coisas boas. Com raras exceções, evito escrever sobre brigas, por exemplo, ou sobre os infortúnios do dia. Sei, ao olhar para minha vida passada, que eles existiram. Mas quero exercitar o olhar para as coisas boas. Porque nossa memória já faz o trabalho duro de guardar os traumas e erros. Então, no que me cabe, prefiro reforçar o que houve de melhor, e não de pior.

Ainda com esse mesmo espírito, fiz o exercício de pensar no que foram minhas quase quatro décadas de vida até este aniversário, e cheguei ao textinho abaixo:

  • Quando fiz 9 anos de idade, eu estava prestes a participar de um filme incrível, que teve projeção nacional e mudou a minha infância e meu relacionamento com o cinema.
Eu aos 9 anos, em março de 1994.
Eu aos 9 anos, em março de 1994.
  • Aos 19, eu assinei minha carteira de trabalho pela primeira vez, funcionária concursada do Banco do Brasil. Depois ela ainda seria assinada de novo tantas vezes (Folha, Globo, O Tempo, Canguru, Leite Integral, O Tempo de novo, Globo de novo…).
Eu aos 19 anos, em 2004.
Eu aos 19 anos, em 2004.
  • Aos 29, eu e Beto oficializamos nossa união, “passando o papel” no cartório. Poucos meses depois, eu engravidaria e teria o filho mais maravilhoso de todas as galáxias, o Luiz.
Eu aos 29 anos, em 2014.
Eu aos 29 anos, em 2014.
  • Agora, quando completo meus 39, sinto que minha vida já teve muitas aventuras deliciosas, muitos percalços também, e simplesmente mal posso esperar pelo que ainda vem pela frente! 😍😁
Eu aos 39 anos, em 2024.
Eu aos 39 anos, em 2024.

Feliz aniversário pra mim! 🥳🥳🥳 E que venham os 49, 59, 69, 79 e quantas décadas mais o universo, meu cérebro e meu coração permitirem 🙏🏾❤️🤗

***

Foi este o textinho. Reparem que não fiquei relembrando as tragédias e sufocos, mas sim as coisas incríveis que aconteceram da minha infância até hoje, de dez em dez anos.

O filme da minha vida que passa na minha cabeça (não aquele de quando estamos prestes a morrer, mas este bem viva ainda) é este aí, com muito amor e alegria. Repleto de dias perfeitos.

Se eu tive uma vida perfeita?

Não, claro que não. Ou, se pensarmos bem, talvez eu tenha tido, sim. Dentro da perfeição fugaz que pode caber em qualquer vida.

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

6 comentários

  1. É muito bom ver você comemorando o lento envelhecimento e olhando para trás e vendo as coisas boas da vida. E esquecendo as más. Pronta para o que der e vier. Feliz aniversário, Cris!

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