Vale a pena assistir: ENTRE MULHERES (Women Talking)
2022 | 1h44 de duração | nota 9
Em 2004, a canadense Sarah Polley me emocionou e fez pensar muito com sua protagonista do filmaço “Minha Vida Sem Mim“. Quase 20 anos depois, ela volta a me emocionar, desta vez como a diretora e roteirista – premiada com o Oscar por sua adaptação do livro de Miriam Toews – deste filme “Entre Mulheres“.
No original “Women Talking”, este filme é sobre a força que as mulheres têm para se libertarem dos múltiplos abusos de uma sociedade em que o poder está apenas com os homens.
Uma força que se multiplica quanto mais as mulheres se unem. E que consegue existir mesmo quando elas são, ano após ano, geração após geração, ensinadas a aceitar uma normalidade absurda, costurada no fanatismo.
A normalidade imposta a elas é de mulheres proibidas de aprender a ler – ou estudar o que quer que seja –, submetidas a agressões dos homens e, no caso mais crítico dessa colônia menonita, estupradas durante a noite, durante um sono entorpecido por tranquilizantes usados no gado. Drogadas e estupradas.
Quando acordavam cheias de sangue, hematomas, ou mesmo quando engravidavam, tinham que ouvir que era mentira, loucura ou punição divina por seus pecados.
O roteiro premiado de Sarah é adaptado de um livro que, por sua vez, é baseado em fatos reais, ocorridos em uma colônia menonita na Bolívia, entre 2005 e 2009. Acho que isso gera ainda mais emoção na gente: saber que realmente existiram mulheres submetidas a esse tipo de escravização e abuso.
Como parte do “pacote” dessa seita religiosa, o grupo também não tinha acesso a eletricidade ou automóveis, por exemplo. Vivia isolado do resto do mundo, numa realidade praticamente medieval. A fotografia do filme, em tom sépia, contribui com essa intenção de transportar esse núcleo para o passado, assim como o figurino. Assustei quando, em determinado trecho do filme, descobri que elas estavam em pleno ano de 2010.
O que comove é perceber que, mesmo alienadas do restante do mundo e submetidas a esse pensamento violento, que as impedia de ter voz – de pensar! –, aquelas mulheres que viviam isoladas na Bolívia usaram seus cérebros e se libertaram. E sua história chegou ao conhecimento do resto do mundo.
As opções das mulheres
No filme, logo nas primeiras cenas, somos informados de que as dezenas de mulheres daquela colônia aproveitaram o tempo curto em que estariam sem os homens por perto para votar em uma destas três opções:
- Fazer nada (continuar ali, perdoar os homens, e “garantir seu lugar no paraíso”).
- Ficar e lutar contra os homens.
- Partir.
Depois da votação, o filme se desenrola em torno do debate de um grupo de mulheres, que, democraticamente, precisa desempatar os resultados mais votados.

E aqui temos argumentos de arrepiar. E vemos muitas ideias fortes, poderosas, sendo desfiadas nos diálogos.
Empatia. Solidariedade. Amor. Medo. Companheirismo. Raiva. Sororidade.
O que elas decidem, ao final, e como esse processo se dá, é claro que não vou contar, para não estragar seu momento com o filme.
O importante é que, mais do que um registro de um fato histórico impressionante por si só, esse filme também funciona como uma alegoria para a situação de incontáveis outras mulheres que existem, em todo o mundo.
Que vivem relacionamento tóxicos, abusivos. Que sofrem todo tipo de violência psicológica. Que apanham, às vezes de forma brutal, quebram os braços, os dentes. Que são estupradas repetidamente, inclusive por seus namorados, maridos. São mantidas em cárcere privado. São impedidas de estudar, de trabalhar.
E isso não acontece só em países como o Afeganistão do Talibã, não. Ocorre no mundo todo. No Brasil, em todo canto do Brasil, interior e capitais. Todos os dias lemos notícias de feminicídios. Até chegar ao feminicídio, muitas atrocidades são cometidas antes.
Assim como algumas mulheres retratadas no filme, estas que sofrem tantos abusos, cotidianamente, podem achar que não têm o que fazer, que não existem opções. Podem confundir perdão com permissão – por terem sido ensinadas a fazer isso.
Que este filme poderoso e emocionante de Sarah Polley as mostre que, sim, existem saídas. Sempre existem opções. Fazer nada, lutar ou partir. Quais os prós e contras de cada uma delas?
Mesmo no campo da fé mais fanática: quem tem medo de ir para o inferno, quando já se está vivendo em um?
A mensagem do filme, para mim, é atemporal e universal:
– Libertem-se, mulheres! Sejam fortes juntas! Há uma vida toda pela frente.
‘Entre Mulheres’ foi indicado a 2 Oscars em 2023:
- Melhor roteiro adaptado (venceu)
- Melhor filme do ano
Assista ao trailer do filme ‘Entre Mulheres’:
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