‘Biscoitos amanteigados natalinos’, uma crônica de Tamara Ellen

Biscoitos amanteigados natalinos, em forma de flocos de neve e bonequinhos.
Biscoitos amanteigados natalinos, em forma de flocos de neve e bonequinhos. Foto: Cyrus Crossan / Unsplash

A crônica abaixo foi enviada pela leitora Tamara Ellen Lacerda Figueiredo. Ela é estudante de Letras (licenciatura dupla em português-espanhol) na UFMG e sempre gostou de “de escrever, de imaginar e criar”.

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Vamos ao texto da Tamara:

Biscoitos amanteigados natalinos

Um certo dia, estava eu olhando a massa de biscoito atingir seu ponto mais alto de assado, se é que posso dizer assim. Olhava fixamente para o forno, com uma concentração indescritível. Sim, eu esperava. Espera muito a volatização daquele cheiro. Ah, o aroma de biscoitos assados inebriando o ar… Só de imaginar, começava a voltar a concentrar. De um lado, um ser ansioso, desejoso e sedento por biscoitos natalinos. Nunca pensei que me renderia a essa fase. Logo eu, dessa idade. Voltei a gostar de tarefas culinárias. Não as simples, corriqueiras, banais, mas as comemorativas, as que me faziam imaginar o que estava por vir e sentir a energia desse clima. Tudo girava em torno da espera, ou melhor, da possibilidade de viver mais um Natal.

Nunca gostei de assar coisas. Levava anos que não tocava em meu fogão cor de caqui. Sempre preferi a praticidade e a rapidez da vida moderna. Os iFoods, delivers e self-services preenchiam minha existência. Até que, um certo dia, tudo começou a mudar. Foi um dia de outono, fazia um frio nórdico. Eu nunca gostei muito desse tempo, mas passei a gostar depois disso. Caminhei pela avenida Margarida – um local agradável, com várias lojinhas de comidas diversas – até que o vi.

Era encantador. Aquele formato hexagonal fez com que eu não resistisse. Fiquei ali parado, por muitos minutos. Admirando. De um marrom claro com leves tostadas nas pontas e desenhos com linhas finas de um branco reluzente. Era a coisa mais bela que eu havia visto. Era o mais simétrico e apetitoso floco de neve. Eu admito que comecei a desejá-lo. Imaginei-o derretendo e sendo identificado pelas minhas papilas gustativas. Elas, assim que sentiram, já enviaram mais que depressa uma mensagem para o meu cérebro e ele entrou em perfeita comunhão imaginativa.

Contudo, um som rompeu esse instante. Era ele: o estômago. Com seus barulhos vergonhosos, denunciou meu desejo oculto. Não tive escolha. Entrei na loja e levei todos aqueles biscoitos em forma de flocos de neve para casa. E agora estou aqui, tentando reproduzir aquela perfeição culinária. Novamente, sou um ser rendido por flocos de neve. Enfim, depois de 80 anos descobri meu calcanhar de Aquiles: os biscoitos amanteigados natalinos. Ah, como são deliciosos!

Biscoitos amanteigados natalinos, em forma de flocos de neve, com árvore de natal decorativa no centro.
Foto: Luna Hu / Unsplash

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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